03/07/2019

Los grandes relatos de Julio Verne #1

Na altura indicada...





Li - devorei! - Jules Verne na altura própria, a adolescência, mais de meia centena de romances e livros que me preencheram os sonhos.
Depois, fui-me cruzando com algumas adaptações, na animação, no cinema, na BD - com os grandes Fernando Bento e Franco Caprioli… à cabeça - que quase sempre evocaram o encantamento do original de Verne, poucas vezes lhe deram uma outra dimensão…
[Faço um parêntesis para frisar a importância de ler na altura certa, seja o tipo de obra que for. Porque é nessa idade - que nem é a mesma para todos, depende do desenvolvimento, do contexto sócio económico/social/cultural, de... - que as obras podem marcar indelevelmente, maravilhar, estimular. E porque é assim que, mais tarde, resistirão às marcas do tempo, ao pessimismo da idade e, nalguns casos, reenviarão o leitor a um tempo e a mundos que - na tal altura certa - foram maravilhosos e fizeram sonhar.]
Voltemos a Verne e às adaptações em BD. As que motivaram estas linhas, no actual tomo duplo, têm a assinatura de Ramón de la Fuente (1931-1984) - um dos irmãos la Fuente, juntamente com Victor e Chiqui - e apesar deste volume compilatório ser, lamentavelmente, omisso nesse sentido - foram originalmente publicadas em 1975 e 1977.
Obrigatoriamente limitadas na transposição de romances de 150/200 páginas para bandas desenhadas com cerca de meia centena de pranchas, conseguem mesmo assim transmitir a ideia geral e, mais do que isso, abrir o apetite para a leitura integral da obra original, o que era na época da sua criação, um dos seus propósitos, bem como tentar dar à banda desenhada um estatuto e um reconhecimento que então não tinha.
O traço utilizado é naturalmente clássico e realista, com uma proporcionada representação do ser humano, um credível retrato de época e uma adequada caracterização quer das personagens, quer dos diferentes locais de acção atravessados. Pena é que, por motivos que desconheço - prazos apertados? entrada de outro desenhador?… - seja notória um decréscimo de qualidade nas páginas finais de de Viaje al centro de la tierra.
A planificação das pranchas, bem como o traço, revelam-se igualmente bastante dinâmicos, merecendo uma apreciação mais atenta as cenas marítimas e as composições mais detalhadas em vinhetas de maior dimensão, um recurso recorrente que contribui para imprimir um bom ritmo de leitura, sendo de realçar um uso muito parcimonioso de textos, quer de apoio, quer diálogos, o que não era muito frequente na época.
Se no meu caso a leitura foi, a um tempo, ‘atrapalhada’ e/ou ‘complementada’ pelas minhas memórias destas duas obras, aconselho que sejam deixados para o final os resumos que abrem cada uma das narrativas, até para que não seja estragado o efeito surpresa que elas possam ter para quem não as conhecer.
Se uma edição destas ‘exigia’ uma introdução, mesmo que concisa, a Jules Verne como a Ramón de la Fuente, é sem dúvida positiva a sua inclusão no selo eVolution Comics, da Panini espanhola, que tanto se tem aberto à recuperação de clássicos da historieta como tem revelado obras de autores contemporâneos.

Los grandes relatos de Julio Verne #1
La vuelta al mundo en 80 días/Viaje al centro de la tierra
eVolution Comics
Ramón de la Fuente
Panini Comics
Espanha, 27 de Junho de 2019
210 x 297 mm, 128 p., cor, capa dura
19,95 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)

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