23/12/2019

Paper Girls #2 e #3

 
Contador de histórias
Já o escrevi por aqui várias vezes: o importante não é (tanto) a história que se conta, mas sim como se conta. Brian K. Vaughan (Saga; Y, o último homem; Fábula de Bagdad…) é um bom exemplo disto. Mais, é um exemplo de como consegue tornar irresistíveis temáticas que (me) dizem menos ou até pouco…
Porque, depois de Saga, Paper Girls é outro belo exemplo.
Nascida - aparentemente, aos olhos do leitor desprevenido - como crónica social do final dos anos 1980, evoluiu rapidamente para uma intrincada saga de ficção-científica, com viagens no tempo e no espaço, com sobreposição de versões diferentes das mesmas personagens em determinadas épocas, polícias espaciais, monstros descomunais, naves imponentes, portais interdimensionais e um sem número de questões (ainda) não respondidas que, no entanto, mais não fazem do que deixar o leitor cada vez mais sedento da sua leitura.
Infelizmente, a Devir - por razões diversas que não são agora para aqui chamadas, mas que seria bom serem explicadas - não foi feliz no lançamento desta série, que apresentou um grande hiato entre os volumes 1 e 2, mas parece agora entrar numa velocidade de cruzeiro mais agradável, com os volumes hoje em análise separados no tempo por menos de meio ano. Que chegue depressa o quarto tomo, para recuperar a confiança dos leitores e dispô-los a arriscarem na série.
Que, friso, vale bem a pena. Não só pelos elementos já adiantados, mas pela forma como vai explorando a adolescência das quatro protagonistas e a sua capacidade de reacção face ao perigo e ao desconhecido, cimentando a união entre elas, ou as diferenças entre o seu presente - em 1988 - e as outras épocas visitadas, com destaque para 2016, marcada pela acelerada evolução tecnológica.
E, também, pela forma como Vaughan faz avançar a narrativa, de forma estruturada e sedutora, sem nos deixar sequer saber, até ao momento, o que se passa realmente - e quando! - ou, ao menos, quem são os bons e os maus num relato cuja complexidade vai num crescendo e de cuja leitura se compreendem bem os prémios Eisner e Harvey que Paper Girls tem acumulado.

Paper Girls #2 e #3
Brian K. Vaughan (argumento)
Cliff Chiang (desenho)
Matt Wilson (cor)
Devir
Portugal, Julho/Novembro de 2019
170 x 260 mm, 128 p., cor, capa mole
14,99

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

4 comentários:

  1. Está, definitivamente no meu radar. Sou fã do Saga.

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  2. O Vaughan é um dos maiores autores de BD de ficção científica. Para além de Saga, Y o Último Homem e deste Paper Girls, recomendo vivamente Ex-Machina que assinou há uns anos para a Wildstorm/DC, e a série que assinou para Marvel, The Runaways. O Ex-Machina para mim é a mais inteligente e complexa série que escreveu, e embora seja nominalmente (no princípio) de super-heróis, é na verdade mais uma excelente saga de FC. E o Runaways é excepcional, a história dum grupo de miúdos cujos pais se encontram regularmente nuns eventos de caridade, e que um dia descobrem que os pais são supervilões.

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  3. O Saga é muito giro mas não me excita, acho um bocado sobrevalorizado, inteligente, bem escrito, melhor desenhado mas...

    Mesmo o Y considero que se esticou demasiado.

    Tudo bem, isto é um negócio, mas o Ex-Machina, que tristemente continua inédito em PT é algo de diferente, e a temática de supers é apenas um pretexto, uma alavanca, para outros voos.

    Este Paper Girls francamente não conheço, parece delirante mas desta vez vou passar à frente.

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  4. Até aonde li esta bem menos "cru e sexo" que Ex Machina em 2 volumes.

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