Aventuras
de uma criminóloga
Giancarlo Berardi e Lorenzo Calza (argumento)
Giorgio Trevisan (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Março de 2013)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
R$ 9,90 / 4,50 €
Qualquer revista de banda desenhada (o que me ocupa agora, enquanto
autor deste blog) que atinja o número 100 (o #200, #500, #1000, 10 anos…)
deveria ter/ser uma festa.
Pelo percurso feito, pela empatia com os leitores que isso
representa, pelo acto de resistência que nos nossos dias constitui continuar a
editar BD em papel nos quiosques e bancas. E, no caso de J. Kendall, pela
inegável qualidade da série o que, no entanto (comprensivelmente?) não faz dela
um sucesso de público…
Por razões que a editora explicou em devido tempo (aquando da distribuição no Brasil) - que uns aceitarão e
outros não – a centésima investigação de Julia Kendall, actualmente distribuída em Portugal, ficou em parte privada
desse tom festivo pela não inclusão da cor – quebrando a tradição Bonelli e
frustrando a expectativa de muitos leitores.
Pessoalmente até a dispenso. Porque a cor Bonelli não é
geralmente das mais conseguidas – embora no caso de Julia #100, surja bem mais
interessante do que é habitual (como pode ser comprovado aqui).
E, principalmente, porque esta banda desenhada, parece-me, foi pensada a preto
e branco e é assim que o traço de Trevisan, apesar de algumas oscilações, é
mais valorizado…
Mas também entenderei aqueles que queriam a cor para marcar
a diferença para as edições normais e como sinónimo da tal festa que o acontecimento
merecia.
Seja como for, o fundamental será que esse carácter festivo
não abafe o fundamental, ou seja, no caso presente, mais uma investigação de
Julia Kendall, a criminóloga de Garden City, no fundo aquilo que todos nós
procuramos mensalmente nas edições de J. Kendall.
Curiosamente – ou talvez não – o caso presente decorre
maioritariamente num local (que já foi mais) festivo, o circo, o que serve para
evocar memórias em Julia (e em muitos dos leitores?) nem todas agradáveis, mas
consequentes na consolidação do universo que Beradi tem vindo a construir para
ela, coerentemente, edição após edição.
Com um ponto de partida invulgar – um pedido de investigação
recusado por Julia, o que terá consequências funestas… - não sendo,
possivelmente, dos relatos mais conseguidos da série, apresenta, no entanto, a
habitual construção com narrativas em paralelo, personagens conseguidas e um
final que ao mesmo tempo surpreende e toca, pela forma como coincidências (extraordinárias) por vezes podem mudar a(s) vida(s).