21/12/2009

Nas Bancas – Dezembro (II)

Eis as edições brasileiras da Panini Comics que até à véspera de Natal serão distribuídas nas bancas portuguesas, segundo a informação disponível no site português da Panini:

17/12/2009 - Mónica nº 30, Cebolinha nº 30, Homem-Aranha nº 89;
18/12/2009 - Magali nº 30, Chico Bento nº 30, Cascão nº 30, X-Men nº 89;
21/12/2009 - Almanaque Magali nº 15, Almanaque Chico Bento nº 15, Novos Vingadores nº 64;
22/12/2009 - Ronaldinho Gaúcho nº 30, Turma da Mónica Parque nº 30, Saiba Mais Turma Mónica nº 22, Superman & Batman nº 46, Avante Vingadores nº 28;
23/12/2009 – Turma Mónica Jovem nº 12, Batman nº 78, Superman nº 78, Wolverine nº 53;
24/12/2009 – Mónica Clássicos do Cinema nº 14, Universo Marvel nº 46, Contagem Regressiva nº 12, Liga da Justiça nº 77.

The Simpsons - 20 anos de riso… amarelo!

Num fim de tarde semi-nublado numa pequena cidade americana, um rapazinho escreve a giz no quadro negro da escola. Numa fábrica, um homem termina o seu turno enquanto uma menina tem aulas de música. No supermercado, uma mulher vê a empregada embalar as compras que acabou de fazer.

Esta seria a descrição de um quotidiano perfeitamente normal de qualquer família, não fosse a cidade em questão Springfield, as cinco pessoas citadas os Simpsons, a mais disfuncional família da história da televisão, e o que acima fica escrito a descrição do genérico da série, recentemente remodelado em HD, com a inclusão de vários pormenores deliciosos que apelam ao seu passado.
Por isso, o rapazinho – Bart – com cerca de 10 anos, repete como castigo uma frase do género “Não volto a fotocopiar o meu rabo.” (e são mais de 400 as frases que já escreveu) e, mal a campainha toca, sai pela porta de skate nos pés, circulando em ziguezague pelos passeios da cidade, assustando os transeuntes e planeando – concretizando mesmo – algumas partidas, pois apesar de inteligente, é cábula, traquina, irrequieto e, por vezes, mesmo mau, devido à gota de champanhe (sic) que a mãe inadvertidamente engoliu durante a gravidez… Por isso, passa mais tempo no gabinete do director Skinner, um dos seus ódios de estimação, do que na sala de aula.
O homem, quase quarentão, calvo e barrigudo, é o seu pai – Homer Jay Simpson – e tem a mesma atitude quando soa o sinal sonoro para mudança de turno na central nuclear que abastece Springfield, deixando a meio a tarefa que executa. Já no carro, a caminho de casa, retira das costas um pedaço de matéria radioactiva (sic!!!) que lança pela janela sem qualquer pejo. Egoísta e glutão é o chefe (mas pouco) da família, que, bem lá no fundo, adora. Eterno indeciso, é perito em fazer sempre a pior escolha.
Na escola de música, Lisa Simpson distrai-se e deixa que a melodia simples que interpretava em conjunto com os outros alunos, se transforme num jazzístico solo de saxofone que leva o professor a expulsá-la. Com 8 anos, é o génio da família, onde destoa pela sua sensibilidade, inteligência e empenho em causas sociais e ambientais.
Finalmente, no supermercado, Marge Bouvier Simpson, a mãe, destaca-se pelo seu alto penteado e pelo enorme poder de encaixe que lhe permite manter a família unida. Dona de casa exemplar, divide o seu tempo entre a obsessão compulsiva pela limpeza, o cuidado dos filhos e evitar que Homer provoque (mais) danos. De repente, descobre aflita que lhe falta a filha mais nova, Maggie (Margaret) Simpson, malabarista da chupeta, célebre por passar a vida a tropeçar, mas que acaba por aparecer dentro de um dos sacos de compras.
Depois de percursos mais ou menos atribulados, acabam por se juntar todos em casa, em frente ao ecrã de televisão que, mais do que um vício que partilham, é o mínimo denominador da série, o mundo que ela explora, desmistifica e satiriza de forma exemplar e, antes de mais, o berço onde nasceram e construíram uma carreira de fama e sucesso que agora completa 20 anos.
Pelo menos se se considerar o percurso a solo, iniciado a 17 de Dezembro de 1989, com um episódio especial de Natal que serviu de teste à primeira temporada da série regular, iniciada a 14 de Janeiro do ano seguinte.
Até hoje, foram mais de 440 episódios distribuídos por 21 temporadas (incluindo a que está a decorrer nos EUA), o que faz dela a mais antiga em exibição. Entre os muitos prémios conquistados, contam-se 23 Emmy, 22 Annie, um Peabody, uma estrela na Calçada da Fama em Hollywood e a distinção da Times que em 1998 a considerou a melhor série televisiva do século XX. O que então significava de sempre.
Mas, antes disso, na pré-História dos Simpsons, conta-se um percurso de cerca de dois anos, iniciado a 19 de Abril de 1987, como rubrica de 30 segundos do “The Tracey Ullman Show”. E, antes disso, a sua criação, por Matt Groening, então com 33 anos que, diz a lenda, enquanto esperava por uma entrevista para uma possível adaptação para TV da sua série de banda desenhada “Life is Hell” decidiu modificá-la para não perder os direitos sobre ela, dando origem à disfuncional (e amarela) família.


Há duas décadas no pequeno ecrã, resistiram incólumes ao passar do tempo - sem rugas, com aspecto melhorado até, se compararmos os desenhos originais com os mais recentes, e continuam a ser o melhor (e o mais conhecido…) exemplo de uma típica família americana (ou ocidental?). Exemplo satírico, mordaz e cruel, através do qual os seus criadores – Matt Groening, Sam Simom e James L. Brooks – atacam e ridicularizam todos os estratos e todos os aspectos da sociedade, sejam eles política, religião, racismo, desemprego, vida social, fama, televisão, imprensa, saúde, educação, consumo, guerra, ecologia, direitos dos animais, vícios, cultura, morte, terrorismo, sexo… e tudo o mais que se possa imaginar! Seja em pura ficção, na colagem à actualidade ou em versões de êxitos da literatura, do cinema ou da própria televisão.
Por isso, aliás, apesar de serem uma animação, The Simpsons são antes de mais direccionados para um público adulto, o que não impede que sejam habituais as reclamações provocadas pelos episódios exibidos havendo até registo de (quase) incidentes internacionais com governos de países como o Brasil, Argentina ou Venezuela.

Ao seu lado, vive uma vasta e heterogénea galeria, cujos componentes potenciam ao limite o pior do ser humano: egoísmo, desinteresse, incompetência, corrupção, mentira, desonestidade, preguiça, maldade... Galeria essa que inclui o senil avô Simpson, o beato Flanders, o (pouco convicto) reverendo Lovejoy, um polícia (muito) gordo e incapaz, um mafioso de meia-tigela, um milionário com aspirações a ditador(zinho), dono da central nuclear e adulado por um secretário com um fraquinho pelo patrão, Apu Nahasapeemapetilon, indiano oportunista dono do supermercado onde a maior parte dos produtos estão fora de prazo, os (pouco competentes) médicos Nick Riviera e Julius Hibbert, o director da escola Skinner que (ainda) mora com a mãe que teve um tórrido envolvimento com a professora Edna Krabappel, os amigos de Bart e Lisa: Milhouse, Nelson, Ralph, o pouco profissional repórter Kent Brockman, o criminoso Sideshow Bob, o viciado palhaço Krusty, o barman Moe, o bêbedo Barney Gumble, rei dos arrotos, o fanático por revistas de BD, Disco Stu, o ídolo dos anos 80, Malibu Stacy (uma versão em amarelo da Barbie), Troy McClure, o canastrão do cinema e tantos, tantos outros, que semana após semana nos cativam em frente ao televisor e com os quais nos divertimos e soltamos boas gargalhadas.
Pelo menos, enquanto não nos lembrámos que o quotidiano de Springfield, afinal, tem tanto de comum com o nosso próprio quotidiano e que nos retratos que nos são apresentados, podemos encontrar tanto de nós e daqueles com quem convivemos no dia-a-dia. O que acabará por transformar as nossas gargalhadas num comprometido riso… amarelo.
Que, convenhamos, combina na perfeição com os Simpsons!

(Artigo publicado originalmente a 19 de Dezembro de 2009, na revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

19/12/2009

BD para Ver - Regina Pessoa na Mundo Fantasma

“Mistério e Alquimia” é o título da exposição de originais de Regina Pessoa que é inaugurada hoje na Galeria Mundo Fantasma, situada na loja com o mesmo nome, no Shopping Brasília, no Porto.
Nascida em Coimbra, em 1969, Regina Pessoa tem uma licenciatura em Pintura nas Belas Artes do Porto e é conhecida principalmente pela sua actividade no cinema de animação, iniciada no estúdio Filmógrafo, com participações em diversos filmes de Abi Feijó como “Os Salteadores”, “Clandestino” ou “Fado Lusitano”.
Em 1999 realizou o seu primeiro filme a solo, “A Noite”, em gravura sobre placas de gesso, tendo seis anos depois dirigido o muito premiado “História Trágica com Final Feliz”, que deu origem a um livro homónimo, publicado pela Afrontamento em 2007.
Este ano, voltou à banda desenhada, tendo criado, a convite da Niepoort, o álbum “RubyDum e TawnyDee in NiePOoRTland”, em que explica porque razão no Vinho do Porto existem categorias diferentes, Ruby e Tawny, usando como inspiração personagens e situações do clássico “Alice no País das Maravilhas”, em especial nos gémeos TweedleDum e TweedleDee. A partir delas criou uma história bela, dinâmica e onírica, narrada num álbum em formato italiano (deitado), que é vendido num estojo, acompanhado por duas garrafas cujos rótulos são também da sua autoria.
A exposição, que estará patente na Mundo Fantasma até 24 de Janeiro de 2010, é baseada nestas duas obras, estando à venda desenhos originais da autora, bem como dois giclées (impressões de alta qualidade, de tiragem limitada), numerados e assinados por Regina Pessoa.


(Artigo publicado originalmente no Jornal de Notícias de 19 de Dezembro de 2009)

17/12/2009

Apresentação – O Romance da Raposa

Fernanda Freitas e Pedro Leitão, apresentadores dos programas Sociedade Civil e ZIG ZAG respectivamente, recordam no próximo sábado, dia 19 de Dezembro, a sua própria infância na apresentação de O Romance da Raposa, a (muito recomendável) adaptação desenhada feita por Artur Correia a partir da obra homónima de Aquilino Ribeiro.
A sessão está agendada para as 17h00, na FNAC do Colombo, em Lisboa.

The Simpsons, 20 anos – O fã Nilton

- És fã dos Simpsons?
Nilton -
Claro que sim, como poderia não ser?
- O que aprecias mais na série?
N -
O tipo de humor. Adoro a forma como retratam as pessoas em geral e o típico americano em particular. A série assenta em algo que as pessoas reconhecem. Ou nelas próprias ou num vizinho, esse é o segredo e o que me faz gostar tanto da forma como é escrita, até mais do que a concepção.

(Foto de Bernardo Coelho)
- E quais são os seus pontos fracos?
N -
O facto de serem personagens plasticamente feias. Os bonecos não são bonitos, são até grotescos em alguns casos. É no entanto curioso ver que isso acaba por funcionar a favor. O ponto fraco neste momento será a longevidade.
- Como é que os Simpsons conseguem resistir há 20 anos num mundo como a TV que funciona muito à base de modas?
N -
Porque funcionam muito em cima de temas actuais, esse é o segredo da longevidade de qualquer projecto. Renovação, surpresa. No caso terá acima de tudo a ver com o recrutamento de novas equipas de guionistas.
- O que tem de tão especial o seu humor que até consegue criar polémicas a nível governamental e entre estados?
N -
Se uma piada criar agitação é sinal que é uma boa piada. Os Simpsons continuam a conseguir criar polémicas porque são audazes, apesar de ser uma série de desenhos animados conotados com um público familiar, arriscam e esticam a corda de forma muito inteligente.
- Tens algum "sonho" Simpson? Qual?
N -
Acho que lá no fundo todos nós teremos o sonho do dinheiro fácil como o Hommer Simpson. A sonho de estar sentado no sofá e do céu cair uma mala cheia de notas. É humano pensar isso de vez em quando, não se pode é acreditar que sim.
- Qual a tua personagem favorita? Porquê?
N -
O Homer. Adoro anti-heróis. Personagens que têm tantos defeitos mas que mesmo assim atraem o espectador. Adoro a forma como fazem egoísta, invejoso, calão, trapaceiro. Arrisco mesmo a dizer que não sendo luso descendente, o Hommer daria um óptimo Português.
- Que personagem gostavas de encarnar na série? Porquê?
N -
O Bart. Porque tem um grande sentido de humor e é divertido. Faz lembrar um sobrinho meu que é igualmente despachado e bem resolvido com a vida.
- Que personalidade portuguesa gostavas que participasse num episódio? A fazer o quê?
N -
O António de Oliveira Salazar como sócio do Montgomery Burns, dono da Central Nuclear. Não sei explicar mas quando o vejo penso sempre no nosso ex-ditador.

- Como seria retratado Portugal se os Simpsons nos fizessem uma visita num episódio?
N -
Da mesma forma como é, apenas com nomes diferentes. Repare-se que Springfield poderia ser uma qualquer cidade portuguesa. É provinciana, as personagens são iguais às que vemos cá. Mudam-se os nomes e passaríamos a ter os Silva. O charme poderia não ser o mesmo mas o conteúdo seria com toda a certeza.

* Nilton, 37 anos, humorista. Dedica-se à Stand Up Comedy. Apresenta às quartas-feiras na RTP2 o talk-show “5 para a Meia-noite” e lançou agora o seu 3º livro “Eu amo você”.

(Versão integral do depoimento feito para o Jornal de Notícias de 17 de Dezembro de 2009)

The Simpsons, 20 anos – O fã Nuno Mata

- Porque és fã dos Simpsons?
Nuno Mata (*) -
É inevitável não gostar de uma família que se parece em muitas coisas com a nossa. Cheia de defeitos e qualidades escondidas e com um carisma muito próprio (embora a cor amarela seja o que menos consigo associar à minha própria família).
- O que aprecias mais na série?
NM -
A relação entre as diferentes personagens! São reflexos não só da sociedade americana mas também da sociedade universal. Temos os bêbados a verem o mundo com olhos reais e lógicos e temos os ditos normais cheios de clichés, medos, etc. São realmente as relações entre os diferentes personagens que fazem a série...
- E quais são os seus pontos fracos?
NM -
Para mim o principal ponto fraco é não ter pontos fracos! É perfeita, não se esqueceram de nada.
- Foi por isso que resistiu 20 anos num mundo como a TV que funciona muito à base de modas?
NM -
Principalmente por isso... Penso que os Simpsons ainda vão andar por aí quando tiver 90 anos...e vou rir-me sempre das mesmas piadas sem sequer questionar a verdadeira intenção das mesmas... É uma série tão inteligente que passa à vista de muitos como mais uma série de desenhos animados..."coisas de Putos"...

- Mas que apesar disso consegue criar polémicas a nível governamental e entre estados... NM - Pois...tão inteligente como isso!!!! Um reflexo da verdade, espelho real de uma sociedade feita a partir de um conjunto de diferentes culturas, uma amalgama labiríntica de estilos de vida e de sonhos inalcançáveis... (fui demasiado sebastianista?).
- De que consta a tua colecção Simpsons?
NM –
De algumas figuras de que gosto imenso, uns comics perdidos por aí e um bichinho simpático que me alerta quase sempre para a televisão quando eventualmente está a dar a série...
- Tens algum "sonho" Simpson?
NM -
Encontrar o bar do Moe ao virar de uma esquina...

- Qual a tua personagem favorita?
NM -
Decididamente o peixe com 3 olhos... Estou a brincar, nenhuma em especial... Como disse gosto da relação entre elas, são únicas e todas têm um carisma especial...
- Que personagem gostavas de incarnar na série?
NM -
Talvez o Krusty... Queria ver-me de cabelo verde um destes dias... Mas também porque ele é um grande sacana...Não me identifico muito com ele mas acho que a personagem é a mais triste e ao mesmo tempo a mais divertida (ignorada, conspurcada, pisada, etc..). Queria dar-lhe novo alento!
- Que celebridade gostavas que participasse num episódio?
NM –
José Sócrates, o primeiro-ministro de Portugal... Poderia ser um dos ajudantes do Krusty ou ser designado para limpar os tanques da central nuclear...
- Como seria retratado Portugal se os Simpsons nos fizessem uma visita?
NM -
Como um país de gente fresca, bela (especialmente as mulheres) mas com bêbados a cada canto, velhas cobertas de panos pretos, peixeiras e barrigudos... (eu próprio um candidato em potencial!).

* Nuno Mata, designer de Interiores, 34 anos, é coleccionador de cultura POP, principalmente bonecada, cujas novidades mostra (quase) diariamente no blog My Best Toys

(Versão integral do depoimento feito para o Jornal de Notícias de 17 de Dezembro de 2009)

The Simpsons, 20 Anos

Não são leitura nem banda desenhada (embora também passem por aí), mas são uma das minhas referências e um dos meus vícios, por isso decidi lembrar aqui, neste e em alguns dos próximos posts, o seu aniversário.
Que deve ser comemorado, a vê-los onde são melhores: na televisão.

16/12/2009

Efeméride – Comanche foi criada há 40 anos


Há 40 anos, os leitores do “Tintin” belga, descobriam no nº50 uma nova série intitulada “Comanche”. Se as primeiras pranchas, ambientadas num vasto espaço selvagem e com um duelo logo a abrir davam o mote para mais um western aos quadradinhos, poucos imaginavam que esta seria uma das mais referenciadas (e reverenciadas) abordagens realistas a um género que a banda desenhada explorou até à exaustão, então (ainda) na moda.
O seu argumentista era Greg, rigoroso na construção e desenvolvimento das histórias, mestre na escrita dos diálogos, que situou a acção da nova série no período de transição entre o Oeste selvagem em que imperava a lei das armas e dos mais fortes e a chegada da civilização às regiões mais inóspitas do vasto continente americano.
E como protagonistas, um lote de personagens de todo improvável - Comanche, uma jovem, dona do rancho “666”, Ten Gallons, um velho vaqueiro, o negro Toby, o miúdo Clem e o índio “Mancha de Lua” – todos excluídos socialmente, que lhe permitiu abordar problemas como o lugar da mulher, o racismo ou o massacre dos peles-vermelhas. E, claro, Red Dust, a estrela da companhia, o elo de união entre todos, capaz de potenciar o melhor de cada um, irlandês, ruivo, ex-pistoleiro, decidido e humano. E talvez este seja, também, o adjectivo que melhor define a série: humana porque, apesar de abundarem os tiroteios, os confrontos com bandidos e pele-vermelhas, as emboscadas, as armadilhas, a corrupção e os negócios pouco claros, ficando como um marco o tríptico “Os lobos do Wyoming”/”O céu está vermelho sobre Laramie”/”Deserto sem luz”, que narra a passagem do protagonista pela prisão após desrespeitar a proibição do uso de armas para por fim a um impiedoso bando de assassinos. E cujo final (sugerido por Hermann) hiper-violento (para a época) do segundo daqueles títulos – o último dos irmãos Dobbs é abatido por Dust, semi-nu e desarmado, caindo no meio do lixo e sujidade - valeu à série ser “excluída” das páginas da revista Tintin.
Também por (tudo) isto, “Comanche” é antes de tudo um tratado sobre seres humanos, sobre a sua adaptação às circunstâncias e a um novo mundo, sobre superação e sobre amizade.
O desenho foi entregue a Hermann que, após alguma experimentação nas primeiras histórias – vinhetas grandes, planos de pormenor, pontos de vista ousados – se revelou progressivamente como um dos grandes mestres europeus do género, com uma planificação multifacetada e dinâmica, tal como o traço, nervoso, violento, com o evoluir da série mais belo e depurado, ágil e servido por belas cores, tão capaz de retratar os grandes espaços como o ser humano, de mostrar o quotidiano como os (muitos) momentos de tensão e violência.
Em Portugal, a série foi publicada integralmente na revista “Tintin” e (de forma desordenada) oito dos seus dez tomos foram editados pela Bertrand e/ou a Distri.
Anos mais tarde, em 1989, Greg (ninguém é perfeito) voltou a Comanche para mais cinco aventuras (a última terminada por Rudolphe, devido à sua morte, em 1990). Mas a verve narrativa já não era a mesma, o tempo do western tinha também passado e o traço de Rouge (mostrado em “As Feras”, publicada na 1ª série das Selecções BD, do #38 ao #40) ficava muito distante da arte de Hermann.

(Versão revista e aumentada do artigo publicado no Jornal de Notícias de 16 de Dezembro de 2009)

Zatoichi














Hiroshi Hirata (argumento e desenho)
Delcourt (França, Janeiro de 2006)
127 x 180, 256 p., pb, brochado com sobrecapa com badanas, sentido de leitura japonês

14/12/2009

As Leituras dos heróis – Demian

(Segundo a pessoalíssima opinião de Pasquale Ruju *)

Pergunta - Se lesse banda desenhada quais seriam as preferidas de Demian?
Resposta – Mmm… Uma pergunta difícil… Diria que Demian poderia ler Dylan Dog (e, porventura, Napoleone e Jan Dix, dada a paixão comum pela arte e pela poesia).

* com a preciosa intermediação de José Carlos Pereira Francisco

11/12/2009

O Gato do Simon – Os gatos são mesmo assim!


Simon Tofield (argumento e desenho)
Objectiva (Portugal, Outubro de 2009)
210 x 164 mm, 240 p., pb, brochado com badanas


Irresistível. Eu, que nem aprecio gatos – e de que quero ainda maior distância depois de saber do que eles são capazes, se são mesmo assim! – vi-me rendido ao do Simon ao fim de poucas dezenas de páginas!
Compilação de ilustrações, cartoons e sequências narrativas curtas – alguns originais outros adaptando os filmes animados em que o gato nasceu, disponíveis na net – este livro revela-nos um felino com dupla personalidade. Pelo menos.
Porque tão depressa se comporta como um gato normal, preguiçoso e pachorrento, mimado – a que quase apetece fazer uma festa – como deixa vir ao de cima o seu lado “Garfield” - digamos assim, para melhor compreensão, ao fim e ao cabo são ambos felinos e protagonistas da mesma (9ª) arte! – esfomeado, anárquico, terrorista, sádico, cruel, vingativo…
E, claro está, é este segundo lado que prefiro, pois é quando o assume que tenta – desesperada e pateticamente – capturar os animaizinhos do jardim, encher o seu prato com comida a todo o custo ou destruir a casa em que vive com o pobre Simon.
Para além deste pobre diabo, o gato contracena também com pássaros e ratos – que também não lhe fazem a vida fácil, registe-se -, porcos-espinhos (cujos picos os tornam vítimas de indizíveis partidas) ou outros seres vivos de ocasião… E, acima de tudo, o gato do Simon interage com o sorumbático anão de pedra do jardim, seu (involuntário) companheiro de partidas, caçadas, pescarias e demais patifarias. Ou pelo menos, o gato tenta que sim…
É com eles, com este universo simples e enganadoramente limitado – veja-se a diversidade de soluções que as mesmas situações possibilitam -, que Tofield, com um traço fino e simples, mas expressivo, dinâmico e de grande legibilidade, dá largas ao seu humor, que oscila entre linear ou negro, o nonsense, a ternura ou o completamente inesperado, mas sempre irresistível. Mas isso, já o tinha escrito.

(Versão revista e aumentada do artigo publicado originalmente a 21 de Novembro de 2009, na secção de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

Dieu en personne

Mac-Antoine Mathieu (argumento e desenho)
Delcourt (França, Setembro 2009)
187 x 265 mm, 128 p., cartonado


Resumo
Numa fila de espera, um homem aguarda a sua vez. Quando finalmente é atendido, apresenta-se como Deus e revela não ter documentos ou domicílio conhecido.

Desenvolvimento
O pretexto é prometedor: Deus regressa à Terra que criou, para ver o seu estado, combater a solidão que sente e aprender a faculdade de rir. Um Deus (bem) humano…
Mas este também é um Deus que mostra a sua divindade, pois é capaz de saber quantas moléculas há numa sala num determinado instante ou de resolver postulados matemáticos ou físicos até então insolúveis.
E se a primeira reacção dos humanos é de incredulidade, depois a multidão passa à crença. A que se segue, inevitavelmente, num mundo globalizado, o interesse mediático e o aproveitamento comercial. O primeiro, analisando o facto de todos os ângulos, o segundo, potenciando o “criador” sob todas as formas: logótipos, livros, música, puzzles, canecas, jogos, campanhas promocionais, sessões de autógrafos, entrevistas, espectáculos, um site…
Mas depois, aos poucos – quando o efeito “novidade” desaparece -, surge uma onda de revolta pelos (muitos) “defeitos” encontrados na sua criação que, golpe de teatro, acaba por originar um processo judicial duma dimensão sem precedentes.
Ao longo desse julgamento, duma enorme incongruência, vão-se acumulando as situações caricatas, as mais absurdas pretensões, com todos – advogados, cientistas, feministas, sociólogos, imprensa, economistas, psiquiatras, filósofos – sem lugar para o homem comum? – a tentarem apresentar e definir Deus.
Um Deus que face a tudo isto se revela cada vez mais cansado e farto de tudo e cuja (breve) história terrena termina (?) com um longo comunicado difundido através da televisão…

Mais do que uma história aos quadradinhos, este é um ensaio em BD sobre Deus, melhor, sobre a forma como Ele é visto pelas pessoas, curiosamente sem que sejam citados ou apareçam religiões, igrejas ou os seus ministros, aqueles que geralmente se anunciam como possuidores d(e tod) a verdade. E sem que Marc-Antoine Mathieu pretenda de alguma forma ter (um)a palavra (final) sobre o assunto.
Em suma, é uma visão laica de Deus, explicou o autor, criada com muita ironia, apresentada de forma sóbria, apesar do traço caricatural, com uma planificação diversificada que ajuda a atenuar o peso e a profundidade das palavras que Mathieu utiliza com mestria, em diálogos bem estruturados.

A reter
- A originalidade da ideia base.
- A forma como Mathieu disserta sobre Deus, em banda desenhada.
- A força dos diálogos.

Curiosidades

- Flaubert, Sartre, Jung ou Einstein são algumas das personalidades citadas ao longo deste ensaio aos quadradinhos.
- Este álbum recebeu o Grand Prix de la Critique 2010, em França, atribuído pela Association des Critiques et Journalistes de Bande Dessinée (ACJBD), entre as 3607 novidades editadas naquele país entre novembro de 2008 e Outubro de 2009.
- Não inocentemente, o livro foi publicado a 9/09/09, o que invertido dá…

10/12/2009

As Leituras dos Heróis – Loverboy

(segundo Marte, aliás, Marcos Farrajota)

Pergunta - Se lesse banda desenhada, quais seriam as preferidas de Loverboy?

Resposta - O Loverboy é um beto, filho do neo-liberalismo cavaquista e neto da cultura cristã (dois momentos negros da História!) logo não lê BD nem outra coisa qualquer.
Talvez o manual de IVA ou o Milan Kundera e pouco mais, mas se lesse BD provavelmente iria ler o mais baixo e reles que houvesse no mercado…
Bom… o que há no mercado? Talvez o Warhammer ou Conan, o Bárbaro? Pior, o Tex… mas acho muito pouco provável.
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