Como apreciador declarado da linha clara, tenho Philippe
Berthet como um dos autores a que volto regularmente.
Perico, díptico de
tom policial que inaugura a novel colecção Ligne
Noire da Dargaud e cuja acção se passa entre Cuba e os Estados Unidos, é a
sua mais recente proposta, onde se encontram todos os habituais motivos para o
apreciar (ou não).
Mais pormenores nas linhas a seguir.
Tudo começa em Havana, em Junho de 1958, vivia o ditador
Batista os seus últimos meses no poder, antes da sua tomada por um outro (futuro)
ditador, Fidel Castro.
Santo Trafficante, nome a um tempo mordaz e apropriado para
o cabecilha de negócios pouco claros envolvendo corrupção, tráfico, jogo e
prostituição, prepara um jantar para Batista, onde apresentará a sua nova
conquista/compra, a bela Elena (nome artístico de Lívia).
A paixão é imediata para o jovem Joaquin, empregado menor do
clube que, devido ao envolvimento do irmão num roubo a Trafficante, acaba na
posse de uma mala repleta de dólares e, num impulso, convence Lívia a partir
com ele para os Estados Unidos, rumo a Hollywwod, meca de todos os sonhos.
Só que, rapidamente, o jovem vai descobrir que os seus
sentimentos (mal disfarçados) não são correspondidos e o casal, a convite dela,
terá a companhia de Sean, um americano demasiado (?) curioso.
Ao mesmo tempo, os fugitivos começam a ser perseguidos pelos
homens de Trafficante, responsáveis por um longo rasto de violência e sangue,
apostado em recuperar o dinheiro e em dar uma lição que possa servir de exemplo
a outros que pensem em afrontá-lo.
Narrada de forma leve, como um misto de aventura e policial,
com as mudanças em curso em Cuba como simples pano de fundo, esta é uma
história linear mas bem contada, num ritmo lento, apropriado ao calor húmido
que torna irrespirável quase todos os locais da acção.
Berthet, igual a si próprio, com todas as qualidades que lhe
reconhecemos: traço suave, caras bonitas, total despojamento de pormenores,
conseguidos efeitos gráficos de luz e sombras, repete as personagens que já
vimos uma e outra vez noutros relatos, servido pelas agradáveis cores lisas e
quentes de David D. que definem e reforçam o ambiente opressivo e a tensão que
se estabelece em muitas das cenas.
Com vários pontos de interrogação no final deste primeiro
tomo, o leitor fica em suspenso à espera da conclusão da história, certo de que
o confronto será inevitável, embora seja expectável que surjam ainda algumas
surpresas no longo percurso que leva Joaquin, Livia e Sean, de Miami até Los
Angeles.
Perico #1 (de 2)
Régis Hautière (argumento)
Philippe Berthet (desenho)
David D. (cor)
Dargaud
França, 7 de fevereiro de 201
241 x 318mm, 64 p., cor,
cartonado
14,99 €
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