Um dos aspectos que distingue um clássico de uma obra banal
é a sua intemporalidade, que se revela quer pela forma como se mantém uma
leitura estimulante independentemente da passagem do tempo, quer pela forma
como nos consegue surpreender a cada nova leitura.
Le nid des
Marsupilamis é um desses casos, um dos vários que nos legou o génio
criativo de Andre Franquin.
A justificação vem já a seguir.
(Re)lida várias vazes ao longo dos anos, nunca esta história
me divertiu tanto como desta última vez, em que algumas passagens me arrancaram
mesmo bem saboreadas gargalhadas.
História atípica na cronologia de Spirou – embora faça todo
o sentido no contexto geral do (desenvolvimento do) seu universo -
aparentemente sob o tom de documentário da vida animal, narra o dia-a-dia de um
Marsupilami, a forma como este animal faz a corte, acasala e vive em família na
selvagem selva palombiana, recheada de perigos.
Esse é o pretexto para Franquin submeter ao leitor uma série
de apontamentos de humor negro – que explodiria anos mais tarde, primeiro em
Gaston Lagaffe, depois, com toda a pujança, nas suas Histórias Negras – sendo
absolutamente delicioso o retrato que apresenta das duras leis da natureza em
que o caçador rapidamente pode virar presa, em especial nos confrontos
jaguar/piranhas e marsupilami/papagaios.
A agilidade e expres-sividade do traço nervoso de Franquin
brilham de forma superior e confere uma dinâmica notável a uma obra prima do
humor aos quadradinhos, que aconselho a (re)descobrirem.
Fiz esta nova leitura (de um álbum também disponível em
português) num dos volumes integrais de Spirou e Fantasio, que abarca os anos
de 1956 a 1958, que inclui igualmente Le
voyageur du Mésozoique, Le Homard,
Vacances sans histoires, Fantasio et le siphon, Les patins teleguidés e La foire aux gangsters, bandas
desenhadas de dimensão, temática e tom variáveis, nalguns casos enriquecidas
com tiras/pranchas inéditas em álbum e bem complementadas por um dossier
recheado de documentos e informações que ajudam a compreender (e a apreciar
melhor) a sua génese e o seu criador.
Spirou et Fantasio: Mystérieuses
créatures
Intégrale #5 :
1956-1958
Franquin
Dupuis
Bélgica, 2008
220 x 300 mm, 176 p., cor, cartonado
20,50 €
"... Um dos aspectos que distingue um clássico de uma obra banal é a sua intemporalidade, que se revela quer pela forma como se mantém uma leitura estimulante independentemente da passagem do tempo, quer pela forma como nos consegue surpreender a cada nova leitura.
ResponderEliminarLe nid des Marsupilamis é um desses casos, um dos vários que nos legou o génio criativo de Andre Franquin..."
Está tudo dito aqui. Como em outra qualquer forma de arte, também nesta, na BD, a "regra" se aplica.
Para mim, de resto, a "coisa" é tão pertinente que, para a grande maioria das obras lidas e relidas, basta-me rever uma das pranchas para reconhecer o álbum (não necessariamente qual em particular, mas se já foi, ou não, lido por mim...). Não consigo justificar este "efeito" de forma mais explicita do que aquela que o amigo Pedro escreve, acima!... :D