14/09/2016

Criar um mercado manga



Uma das maiores dificuldades que um editor encontra (em Portugal) é criar um mercado.
Se a afirmação atrás pode parecer um pouco deslocada nos nossos dias, em que a oferta é relativamente grande e, especialmente, diversificada, ela fez todo o sentido durante anos.

Quando comecei a escrever estas linhas, tinha em mente um segmento específico: a edição de manga. Este género entrou no nosso país numa primeira tentativa (inconsequente) da (surpreendente) Texto Editora, nos anos 90, com Ranma 1/2 e Striker. Regressaria, depois, por iniciativa da Meribérica, a reboque das edições franco-belgas, com Akira e Mother Sarah.
Descontando algumas edições ‘avulso’ (Lupin, Dark Angel, Pede 5 desejos…) assistiríamos a uma terceira tentativa, estruturada mas, possivelmente, desajustada do (público-)alvo, por parte da ASA, com criações americanas (Princesa Pêssego, Dramacon, Warcraft) por um lado, mas também com apostas em criações nipónicas de topo: Astroboy, Dragon Ball (em quem a Planeta DeAgostini já tinha apostado) e Yu-Gi-Oh!.
Tudo isto a acontecer num contexto em que cada vez mais era fácil encontrar edições manga em língua inglesa.
Mais recentemente, na última meia dúzia de anos, a Devir fez uma aposta (que parece) consistente neste sector. Iniciando com obras bem populares – Death Note, Naruto – tem aos pouco diversificado a oferta e avançado para títulos cada vez mais recentes, o que permite chegar (também) a quem estava habituado a ler em inglês.
Essa aposta consistente passa pela edição mensal de novos títulos, das várias séries em curso. Assim, neste momento, de uma forma que muitos nem se terão apercebido, a editora tem já um fundo de catálogo com perto de meia centena de volumes. A par disso apresenta o trunfo de uma série (excelente!) completa: Death Note (em 12 tomos), uma mini-série (All you need is kill) e um ritmo de edição bastante apreciável para cada série, se bem que muitos continuem a reclamar…
A par de títulos mais ‘linha dura’ (desculpem esta designação, em falta de inspiração para melhor) como Naruto ou Blue Exorcist, há um cuidado , que me parece evidente, na diversificação da oferta.
Assassination Classroom, de Yusei Matsui, centra-se numa turma de alunos rejeitados que tem por missão assassinar o seu professor, um extraterrestre que ameaça destruir o mundo e na relação em pática que acabam por estabelecer com ele, numa narrativa que assenta na surpresa e no humor.
Tokyo Ghoul, de Sui Ishida, é uma variação (para já interessante) do tema zombies, com o protagonista, acidentalmente afectado por uma transfusão de sangue, a atentar encontrar o seu lugar (novo) no mundo que já conhece.
Kenshin, o samurai errante, de Nobuhiro Watsuki, narra as aventuras de um jovem samurai da Era Meiji, perseguido pelo seu passado de assassino a soldo e confrontado com o fascínio que exerce sobre as jovens com quem se cruza.
São três (das várias propostas actuais da Devir) que me parecem mais capazes de poder seduzir leitores fora do habitual círculo de consumidores de um género que – desta vez – parece ter vindo para ficar…

P.S. - O que atrás fica escrito, com ligeiras variações - e a inevitável substituição dos títulos - podia aplicar-se aos programas editoriais que têm sido desenvolvidos pela Levoir e a G. Floy - e também pela mesma Devir - com obras provenientes do mercado norte-americano...

 

  

9 comentários:

  1. Falando unica e exclusivamente em nome pessoal, refiro que tenho algumas coisas contra Manga.
    Embora tenha percebido que consigo ler os livros da direita para a esquerda e que na verdade não me incomoda particularmente, é algo que não me atrai. Também não me costuma atrair o tipo de desenho aplicado (dando os olhos enormes como mero exemplo) e creio que acima de tudo, sou consumidor de histórias/séries completas, pelo que não me atrai séries relativamente interminaveis (este ponto é também completamente aplicável aos comics superherois Marvel/DC).

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    1. Concordo com isso todo; Manga para mim só em historias curtas!

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    2. pco69,
      Se ultrapassas a questão da leitura da direita para a esquerda, acho que estás a perder algumas boas obras porque, no manga, como em qualquer outro género, cada autor é um autor e eles fazem toda a diferença.
      Astroboy, num registo mais clássico, Akira, que merece a fama que grangeou, ou Death Note - todos eles séries 'relativamente' curtas - merecem ser lidos...
      Boas leituras!

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    3. Eu tenho o Astroboy (recomendação do Nuno Amadado e após lido, considero uma boa série BD) e foi a partir desse que assumi (e percebi) que aceito ler da direita para a equerda sem grandes problemas. Mas o Astroboy é uma série pequena e foi encomendada logo na totalidade (em inglês).

      Lamento, mas já fiquei com muitas séries penduradas (e não apenas BD), para ter deixado de confiar nas editoras.
      Compreendo perfeitamente o argumento de "se vender bem o primeiro, significa que podemos editar os seguintes". Mas se querem um negócio sem riscos, façam uma PPP com o estado.

      O Assassination Classroom já vai em 21(?) capitulos e eu não confio na Devir o suficiente para comprar os que já sairam (usado aqui apenas como mero exemplo e não tem nada a ver com a qualidade da obra).

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    4. pco69,
      Percebo perfeitamente o medo das séries abandonadas a meio. Tenho aqui em casa mais séries franco-belgas (e não só) incompletas do que sou capas de me lembrar.
      E mesmo acreditando que as coisas estão hoje um pouco diferentes, é algo que pode sempre acontecer... para mais com edições manga com dezenas de volumes.
      De qualquer forma, o reverso da medalha também existe e a prová-lo está a edição completa de Death Note, pela Devir, em 12 volumes, cuja leitura aconselho.
      Boas leituras!

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  2. Reignfire14/9/16 15:48

    Falta abordar os 3 livros do Jiro Taniguchi que saíram na Série Oro - Devir/Correio da Manhã e Novelas Gráficas I e II - Levoir/Público.

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    1. Reignfire,
      É verdade, ficou de fora o Jirpo Taniguchi, que muitos consideram o mais ocidental dos mangakas japoneses, já que a sua obra - mesmo e termos de apresentação - está bem mais próximo dos nossos padrões do que do manga tradicional.
      Mas esses três livros - O homem que caminha, O diário do meu pai e Terra de sonhos - em especial os dois primeiros, são obras muitíssimo recomendáveis!
      Boas leituras!

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  3. Por acaso sou mais fá dos animes.E leitura invertida nao me atrai apesar de querer ler All you Need is Kill.

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    1. Prefiro o "All you Need is Love";)

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