Paraísos editoriais
Ao longo da minha vida de leitor de BD, em momentos
diferentes tive como local ideal para viver diferentes países (por mim)
reconhecidos como ‘paraísos editoriais’, se esse fosse o único critério válido.
Neste momento, o Brasil é um deles.
Nos anos 1980, comecei por ambicionar ter domicílio em
Espanha, pela vitalidade da produção própria e pela boa presença da BD
estrangeira que então importava ler.
França e Bélgica foram ‘paraísos’ desde sempre. Continuam a
sê-lo - arrisco escrever ‘cada vez mais’ – pela imensa produção local, pela
cada vez maior abertura ao que de bom se faz para lá das suas fronteiras, pela
inigualável qualidade das suas (re)edições…
Neste momento, se bem que a edição de BD em Portugal vive o
seu melhor período destes últimos 40 anos, se esse fosse o único critério a ter
em conta, o Brasil apresentar-se-ia como um apetecível local para estabelecer
residência.
Os autores autóctones, publicados em profusão, são
estimulantes e mostram qualidade. Entre as muitas obras provenientes dos EUA,
encontra-se o melhor que este país produz em termos de super-heróis e comics
independentes. O manga também surge em profusão nas listas de edições mensais e
– desculpem a pífia comparação – actualmente edita-se mais banda desenhada
europeia no país da ‘ordem e progresso’ do que neste rectângulo lusitano… As personagens
Bonelli continuam a ter diversos títulos, as colecções de bancas multiplicam-se
e, por arrastamento e para formação, encontram-se edições sobre quadr(ad)inhos
e (re)edições de clássicos cuidadas e com a qualidade que eles merecem.
Os Anos de Ouro de
Mickey (com cinco volumes editados num trimestre!, dos 37 previstos para a publicação
integral da obra de Floyd Gottfredson) é um deles.
Este primeiro volume, compila, a cores, as tiras diárias
publicadas nos jornais norte-americanos desde a estreia do rato em BD, a 13 de
Janeiro de 1930, até à tira de 29 de Abril de 1931. Pouco mais de um ano da
produção inicial assinada (inicialmente) por Walt Disney e Ub Iwerks e (mais
tarde) por Floyd Gottfredson (com múltiplos auxiliares creditados na edição),
bem complementada por um texto introdutória, apontamentos biográficos dos
autores e por notas de leitura de cada uma das histórias inseridas no volume,
de capa dura, bom papel e edição cuidada.
Histórias em que, para o bem e para o mal é notória a influência
da animação – em temas, ritmo, esquemas narrativos e introdução de personagens –
e nas quais impera o humor. Humor tratado de forma que hoje escandalizaria
muitas mentes puritanas, limitadas e ‘politica e doentiamente correctas’, sem qualquer
tipo de censura ou selecção prévia de temas. Por isso, podemos divertir-nos –
larga e inocentemente – com a utilização física de animais em experiencias
mecânicas pelo protagonista, com o consumo de bebidas alcoólicas por diversos intervenientes,
o atropelamento de animais, com uma sequência (de vários dias) de tentativas de
suicídio de Mickey ou a forma como ele recorre a esquemas nem sempre inteiramente
legais para obter os seus fins.
Ao mesmo tempo que assistimos ao nascimento ou popularização
de personagens que hoje ‘conhecemos desde sempre’, à progressiva – mas não sequencial
– selecção das temáticas mais apropriadas ao herói e à consequente afinação das
suas características.
Se pontualmente aqui e ali surgem alguns aspectos mais
datados, o todo mantém uma frescura apreciável e continua a proporcionar uma leitura
divertida, estimulante e aconselhável, que vai bem para lá do aspecto ‘documental’
que este tipo de edições sempre ostenta.
Os Anos de Ouro de
Mickey
Volume 1, 1930-1931
Mickey na Ilha
Misteriosa e outras histórias
Walt Disney, Floyd Gottfredson (argumento)
Ub Iwerks, Win Smith, Floyd Gottfredson, Jack
King, Roy Nelson, Hardie Gramatky, Earl Duval, Al Taliaferro (desenho)
Editora Abril
Brasil, Abril de 2017
270 x 210 mm, 160 p.,
cor, capa dura
R$ 59,90
(clicar nas imagens para a aproveitar em toda a sua extensão)
Boa leitura Pedro. Realmente essa versão do Mickey sem filtros do Mickey é muito divertida.
ResponderEliminarTenho a versão estadunidense desses anos (a preto e branco). Contudo pareceu-me que o tom, a narrativa, é o humor tornaram-se mais bem conseguidos lá para o fim do segundo ano. Por isso desconfio que as edições dos anos posteriores são ainda melhores :)
Filipe Simões
Isso é algo que quero descobrir, Filipe!
EliminarBoas leituras!
Esses edições brasileiras da ABRIL em capa dura, são demais! A fantástica coleção de livros do Pato Donald de Carl Barks, o "DuckTales" o "A Saga do Patinhas e esta do Mickey....
ResponderEliminarUma pena não serem encontradas por cá!
Luís Fernandes
Sim, Luís, actualmente não chega cá nada da Abril e para as importar chegam a preços proibitivos...
EliminarBoas leituras!
Como faz para comprar edições de BD brasileira?
ResponderEliminarHá décadas atrás as edições Disney brasileiras eram amplamente distribuídas em Portugal e de grande qualidade pela diversidade de origens. Actualmente as edições portuguesas são muito pobres por serem apenas de origem italiana.
Frederico,
EliminarAs edições brasileiras que leio normalmente são trazidas/enviadas por amigos.
Boas leituras!