11/05/2017

Os Anos de Ouro de Mickey #1

Paraísos editoriais




Ao longo da minha vida de leitor de BD, em momentos diferentes tive como local ideal para viver diferentes países (por mim) reconhecidos como ‘paraísos editoriais’, se esse fosse o único critério válido.
Neste momento, o Brasil é um deles.

Nos anos 1980, comecei por ambicionar ter domicílio em Espanha, pela vitalidade da produção própria e pela boa presença da BD estrangeira que então importava ler.
França e Bélgica foram ‘paraísos’ desde sempre. Continuam a sê-lo - arrisco escrever ‘cada vez mais’ – pela imensa produção local, pela cada vez maior abertura ao que de bom se faz para lá das suas fronteiras, pela inigualável qualidade das suas (re)edições…
Neste momento, se bem que a edição de BD em Portugal vive o seu melhor período destes últimos 40 anos, se esse fosse o único critério a ter em conta, o Brasil apresentar-se-ia como um apetecível local para estabelecer residência.
Os autores autóctones, publicados em profusão, são estimulantes e mostram qualidade. Entre as muitas obras provenientes dos EUA, encontra-se o melhor que este país produz em termos de super-heróis e comics independentes. O manga também surge em profusão nas listas de edições mensais e – desculpem a pífia comparação – actualmente edita-se mais banda desenhada europeia no país da ‘ordem e progresso’ do que neste rectângulo lusitano… As personagens Bonelli continuam a ter diversos títulos, as colecções de bancas multiplicam-se e, por arrastamento e para formação, encontram-se edições sobre quadr(ad)inhos e (re)edições de clássicos cuidadas e com a qualidade que eles merecem.

Os Anos de Ouro de Mickey (com cinco volumes editados num trimestre!, dos 37 previstos para a publicação integral da obra de Floyd Gottfredson) é um deles.
Este primeiro volume, compila, a cores, as tiras diárias publicadas nos jornais norte-americanos desde a estreia do rato em BD, a 13 de Janeiro de 1930, até à tira de 29 de Abril de 1931. Pouco mais de um ano da produção inicial assinada (inicialmente) por Walt Disney e Ub Iwerks e (mais tarde) por Floyd Gottfredson (com múltiplos auxiliares creditados na edição), bem complementada por um texto introdutória, apontamentos biográficos dos autores e por notas de leitura de cada uma das histórias inseridas no volume, de capa dura, bom papel e edição cuidada.
Histórias em que, para o bem e para o mal é notória a influência da animação – em temas, ritmo, esquemas narrativos e introdução de personagens – e nas quais impera o humor. Humor tratado de forma que hoje escandalizaria muitas mentes puritanas, limitadas e ‘politica e doentiamente correctas’, sem qualquer tipo de censura ou selecção prévia de temas. Por isso, podemos divertir-nos – larga e inocentemente – com a utilização física de animais em experiencias mecânicas pelo protagonista, com o consumo de bebidas alcoólicas por diversos intervenientes, o atropelamento de animais, com uma sequência (de vários dias) de tentativas de suicídio de Mickey ou a forma como ele recorre a esquemas nem sempre inteiramente legais para obter os seus fins.
Ao mesmo tempo que assistimos ao nascimento ou popularização de personagens que hoje ‘conhecemos desde sempre’, à progressiva – mas não sequencial – selecção das temáticas mais apropriadas ao herói e à consequente afinação das suas características.
Se pontualmente aqui e ali surgem alguns aspectos mais datados, o todo mantém uma frescura apreciável e continua a proporcionar uma leitura divertida, estimulante e aconselhável, que vai bem para lá do aspecto ‘documental’ que este tipo de edições sempre ostenta.

Os Anos de Ouro de Mickey
Volume 1, 1930-1931
Mickey na Ilha Misteriosa e outras histórias
Walt Disney, Floyd Gottfredson (argumento)
Ub Iwerks, Win Smith, Floyd Gottfredson, Jack King, Roy Nelson, Hardie Gramatky, Earl Duval, Al Taliaferro (desenho)
Editora Abril
Brasil, Abril de 2017
270 x 210 mm, 160 p., cor, capa dura
R$ 59,90

(clicar nas imagens para a aproveitar em toda a sua extensão)

6 comentários:

  1. Boa leitura Pedro. Realmente essa versão do Mickey sem filtros do Mickey é muito divertida.

    Tenho a versão estadunidense desses anos (a preto e branco). Contudo pareceu-me que o tom, a narrativa, é o humor tornaram-se mais bem conseguidos lá para o fim do segundo ano. Por isso desconfio que as edições dos anos posteriores são ainda melhores :)

    Filipe Simões

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    1. Isso é algo que quero descobrir, Filipe!
      Boas leituras!

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  2. Esses edições brasileiras da ABRIL em capa dura, são demais! A fantástica coleção de livros do Pato Donald de Carl Barks, o "DuckTales" o "A Saga do Patinhas e esta do Mickey....
    Uma pena não serem encontradas por cá!

    Luís Fernandes

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    1. Sim, Luís, actualmente não chega cá nada da Abril e para as importar chegam a preços proibitivos...
      Boas leituras!

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  3. Como faz para comprar edições de BD brasileira?
    Há décadas atrás as edições Disney brasileiras eram amplamente distribuídas em Portugal e de grande qualidade pela diversidade de origens. Actualmente as edições portuguesas são muito pobres por serem apenas de origem italiana.

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    Respostas
    1. Frederico,
      As edições brasileiras que leio normalmente são trazidas/enviadas por amigos.
      Boas leituras!

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