Diversão no Parque
Com este volume, o quarto da série, conclui-se (mais) uma
colecção em Portugal. Mais uma em tempos recentes. Mais uma pela Devir - que
não é a única a fazê-lo.
Fica o destaque, também chamada de atenção - justificados -
e uma leitura deste livro, que era a parte final de um texto mais amplo sobre
Parker, que pode ser
lido na íntegra no blog da Mundo Fantasma onde foi publicado, clicando neste
texto a cor diferente.
Jogo Mortal - o
quarto volume de Parker, versão Darwyn Cooke - retoma um romance de 1971 que,
de alguma forma, explora de forma original o conceito de narrativa em espaço
fechado, uma vez que a maior parte da acção decorre no interior de um parque de
diversões encerrado durante o Inverno - por isso sob neve e frio intensos. O
recurso ao azul acinzentado como única cor a compor e a dar volume ao traço
preto, contribui para reforçar a sensação de frio e ajudar o leitor a
embrenhar-se mais no ambiente pretendido, ao mesmo tempo que de certa forma lhe
confere um tom retro que a aproxima da época anos 1960/1970 - em que a acção se
passa.
O início deste tomo - leia-se quase uma vintena de páginas -
é magnífico, com um assalto a uma carrinha blindada e consequente fuga de
Parker e dois parceiros, a serem narrados (quase) sem recurso a palavras, numa
planificação com vinhetas desprovidas de contornos que parecem tornar maior o espaço
- aumentando a área branca, de neve… - em que as cenas se desenrolam. Em
complemento, Cooke acrescenta sucessivas mudanças de ritmo, como é o caso do
despiste subsequente (quase) em câmara lenta, que contrasta com a perseguição
em alta velocidade que até aí decorria, aumentando a adrenalina do assalto que ainda
pulsava.
Sobrevivente em fuga com parte do produto do roubo, Parker
refugia-se - numa armadilha sem saída…? - no tal parque de diversões encerrado,
onde se verá envolvido com gangsters à procura de dinheiro fácil e polícias
corruptos, num relato cujo móbil, com o correr das páginas, passará a ser a vingança.
Por influência (?) do espaço em que tem lugar e/ou devido a
alguns dos estratagemas a que Parker recorre, a verdade é que a narrativa -
apesar dos momentos de tensão e da violência que lhe são inerentes - acaba por
assumir um (surpreendente) tom de quase diversão que, a par com o limitado
cenário de acção, são as principais notas distintivas de Jogo Mortal.
Hesitei em incluir estas últimas linhas - porque o texto já
vai longo - mas acabei por considerar que fazem, todo o sentido.
Este tomo fecha com a adaptação de O 7étimo (narrativa de 1966), uma história curta de uma dezena de
pranchas que parece contrariar o que atrás escrevi, pois há um (quase) excesso
de texto de apoio para contextualizar a (curta) acção que nos é descrita, mas,
no entanto, a opção de Cooke não poderia ter sido outra para fazer funcionar o
‘gag’ final que justifica o título - e fazer a ligação com Jogo Mortal pela utilização do humor, negro.
Parker: Jogo Mortal
Darwyn Cooke
A partir da obra de
Richard Stark
Devir
Portugal, Setembro de 2017
150 x 230 mm, 100 p., pb+cor, capa dura
ISBN: 978-989-559-390-3
19,99 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a sua extensão)
Agora que a série está concluída seria simpático por parte da Devir oferecer um pack dos 4 volumes a um preço mais acessível - satisfazia os potenciais interessados e ajudava nas vendas. Just a thought....
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