Adaptações (II)
A adaptação de uma obra a outro suporte narrativo, para ser
conseguida, implica -incontornavelmente - dois aspectos: fidelidade ao espírito
do original e a sua adequação ao novo meio.
O Diário de Anne Frank
(ontem) e Serviço Secreto: Kingsman (hoje)
são dois exemplos recentes, embora díspares.
A situação de Kingsman é completamente diferente da de O Diário de Anne Frank. A obra nasceu em
BD - nesta BD - e passou posteriormente ao cinema. A sua publicação agora,
(bem) a propósito da estreia do segundo filme, implica que (grande?) parte dos
leitores cheguem ao ‘original’ depois de conhecerem a ‘versão’.
Se as duas obras apresentam diferenças significativas no seu
desenvolvimento e conclusão, é notório que passagem ao grande ecrã manteve o
espírito e a ideia base do comic de Millar e Vaughn, que de alguma forma inova
no relato de espionagem, não na base que introduz uma agência cujos homens
trabalham na sombra para resolver situações que poderiam alterar o equilíbrio
mundial e o mundo tal como o conhecemos, mas na forma como a desenvolve.
Na BD, o protagonista inicial é o ‘tio’ Jack, um super-agente
com uma brilhante folha de serviços, secundado depois pelo seu sobrinho Eggsy,
a quem Jack, com um misto de sentimento de culpa e de orgulho, vê de certa
forma como seu sucessor apesar da sua vida de marginalidade e pequena
delinquência.
Curiosamente, apesar de seguirem vias bastante díspares,
ambas acabam por falhar no mesmo aspecto: o treino do segundo - cujos
pormenores estarão guardados para uma eventual sequela? - mostrado apenas de
forma pontual e com saltos temporais.
Quanto à situação central: o rapto de personalidades de
diversas áreas para sobreviverem a uma extinção em massa que tem por objectivo
diminuir drasticamente a população mundial para permitir a sua sobrevivência no
médio/longo prazo, apresenta-se original e com uma série de situações interessantes e bem resolvidas, que fazem (de ambas as versões) boas narrativas de acção, com
doses q.b. de humor e suspense, cada uma no seu meio específico.
A comparação entre a BD e o filme - e certamente as
preferências serão divididas - pode ser um atractivo extra na abordagem a Kingsman: Serviço Secreto, com a certeza
que ela só poderá ser feita conhecendo ambas.
Kingsman: Serviço
Secreto
Reúne The Secret Service #1-#6
Mark Millar e Matthew
Vaughn (argumento)
Dave Gibbons (desenho)
G. Floy
Portugal, Setembro de 2017
175 x 265 mm, 160 p., cor, capa dura
ISBN 978-84-16510-43-6
13,99 €
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua
extensão)
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