Refúgio (no silêncio)
Como sempre acontece quando entra em depressão, Sam
refugia-se m Nova Iorque.
Desta vez, com um plano preciso e original: fazer uma
foto-reportagem para a revista que co-dirige com um amigo de infância, sobre a
sua estadia, durante a qual não proferirá uma
única palavra.
Desde sempre fechado sobre si próprio, reservado, pouco
comunicativo, seguidor de regras e estratégias que reduzem ao mínimo a
interacção com os outros, Sam sente-se (quase) como peixe na água no papel –
que afinal espelha as suas opções de vida - que desempenha.
O aparecimento de uma jovem – a cores! – em fotografias
reveladas a preto e branco, em conjunção com uma série de sucessivos
acontecimentos – trágicos para Sam pelas alterações a que obrigam nas suas
rotinas– vão obriga-lo a sair da sua zona de conforto ao mesmo tempo que
mergulham (ainda mais) o leitor no seu intimo.
Narrativa sensível, introspectiva e personalizada, com um
traço delicado e belíssimas cores, com Nova Iorque (magnificamente pintada) a representar mais do que o
simples pano de fundo, Manhattan Murmures
é também, marginalmente, uma reflexão sobre o silêncio, o anonimato e o
isolamento crescentes numa era que se diz de comunicação global.
Do contraste entre o hiper-realismo da situação pessoal de
Sam e o toque (quase) fantástico que a situação envolve, Bevilacqua faz
desenrolar perante os nossos olhos um retrato que nos deixa suspensos e (cada
vez mais) curiosos, mesmo que o final possa revelar-se aquém das expectativas
criadas.
Manhattan Murmures
Giacomo Bevilacqua
Vents D’Ouest
França, 27 de Setembro de 2017
200 x 265 mm, 208 p. cor, capa dura
20,00 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a sua extensão)
Sem comentários:
Enviar um comentário