14/03/2019

Astonishing X-Men

 
Surpreendente(s)
Já o escrevi várias vezes: nunca fui e não sou grande leitor de comics. Talvez porque cheguei ao género demasiado tarde... Não nego, no entanto, que a leitura de algumas obras me tem proporcionado excelentes momentos. Entre elas, conto estes Astonishing X-Men, que tinham à partida como 'agravante' o protagonismo dos mutantes da Marvel.
Por isso, hesitei algum tempo antes de reler - e finalmente concluir - esta saga. O temor não se justificava, continua tal e qual eu recordava.

Foi na edição da BDMania, de 2008/2009 - de que já não sei porquê nunca tive/li o último volume... - que descobri esta abordagem feita por Joss Whedon e John Cassaday, cuja leitura me agradou particularmente.
Explicar porquê, à partida parecia difícil e não soar bem. Como escrevi então no Jornal de Notícias: 'Os heróis são os mesmos, as situações - ódio aos mutantes (uma forma de xenofobia), ameaças poderosas, tensões internas - já são conhecidas' e a elas poderíamos acrescentar ainda uma ameaça galáctica, uma conspiração de proporções gigantescas com o envolvimento da S.H.I.E.L.D. e as inevitáveis mortes e ressurreições de heróis. Voltando ao JN: 'pode dizer-se que estas histórias já foram contadas...'
E se isso é inegável, parece-me que nunca tinham sido contadas desta forma. Na verdade, 'Whedon fez deste regresso dos X-Men, ocupados com a reconstrução do grupo e da sua escola e a braços com [mais uma aparente cura para o gene mutante - que até seduz alguns dos X-Man] e um invulgar inimigo, um dos arcos mais interessantes dos últimos anos.' De sempre, na minha óptica, atrevo-me a escrever, no meu conhecimento limitado do género.
Os segredos - se ainda os há, se alguma vez os houve - são, afinal, apesar do que escrevi atrás, fáceis de encontrar. Astonishing X-Men, é uma saga relativamente independente. Convém ter conhecimentos mínimos do Universo Marvel em geral e dos X-Men em particular mas é uma (longa de quase 600 páginas) obra que se entende perfeitamente por si só. Há (inevitáveis) referências a momentos antigos - o genocídio em Genosha, o vírus Legado, a morte de Jean Grey... - mas com cujo desconhecimento se lida sem problemas de maior.
O passado comum do (novo) núcleo duro - Emma Frost, Ciclope, Logan, Fera, Kitty Pride - vai também sendo evocado, surge quer como obstáculo, quer como forma de avançar uma e outra vez, mas apenas vem dar força a uma das principais temáticas das histórias dos mutantes: as tensões internas e como as ultrapassar. É evidente que há alguns excessos - bolas! continua a ser uma história de super-heróis! - mas nada que surja de forma gratuita ou descontextualizada ou que ponha em causa a coerência do relato e o prazer da leitura.
A par da legibilidade da história, que não tem desvios desnecessários nem atalhos que limitem a compreensão do leitor, o grande trunfo da escrita de Whedon está nos seus diálogos: vivos, credíveis, sem as longas dissertações que tantas vezes tornam tediosa as leituras de super-heróis, sem abusar das 'piadolas' que descredibilizam o contexto. São diálogos concisos, que se cingem ao essencial para entender cada momento e o que está a acontecer entre os protagonistas e que fazem avançar a acção.
Dessa forma, auto-contidos - no conteúdo e na forma... - ajudam a fazer brilhar outro dos pontos essenciais deste arco, a arte de John Cassaday.
Se há obras que justificam um formato de impressão maior - como o deluxe que a G. Floy aplicou a estes Astonishing X-Men - indiscutivelmente esta é uma delas, desculpando-se até que esta seja a terceira vez que este arco é editado em Portugal no (curto) espaço de uma década.
O traço de Cassaday é hiperrealista, os seres humanos - e os X-Men, e os extraterrestres - são proporcionados, as suas feições de uma extrema expressividade, algumas mulheres de uma estonteante beleza. A contenção que revela em muitos dos fundos e cenários - sem que estes sejam despidos - ajuda a destacar a importância dos seres vivos na acção e a força das diferentes emoções que vão sentindo. O que não impede que Cassaday tanto se sinta à vontade nas cenas mais intimistas como nos momentos em que o espaço é o palco ou naqueles em que a acção explode. O recurso a uma planificação multifacetada, em que páginas de divisão mais tradicional convivem lado a lado ou em sequência com vinhetas de grande dimensão, e a utilização de enquadramentos e tomadas de vista dinâmicos e diversificados é outra das razões para que a leitura de centenas de pranchas não apresente pontos mortos nem zonas cinzentas ou menos apetecíveis.
Finalmente, se acredito que nem todos as apreciam e que nem todas as obras as justificam, a verdade é que a opção por cores fortes, saturadas e maioritariamente lisas se revela completamente acertada, sendo mais um contributo para tornar agradável e desejável a leitura destes Astonishing X-Men.

Astonishing X-Men, livros Um e Dois
Inclui Astonishing X-Men #1 a #24 e Giant-Size Astonishing X-Men #1
Joss Whedon (argumento)
John Cassaday (desenho)
Laura Martin (cores)
G. Floy
Portugal, Setembro de 2018/Março de 2019
190 x 280 mm (deluxe), 304 p. / 340 p., cor, capa dura
25,00 € / 28,00 €

(imagens - só do livro Um - disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

14 comentários:

  1. Pequena correcção: AXM1 custa 25€ e tem 304 pgs, mas o AXM2 custa 28€ e tem 340 pgs!

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  2. X-Men do Grant Morrison e do Whedon são as melhores obras que se fizeram nos mutantes nas últimas 2 décadas. Não me consigo lembrar de nada recente que chegue ao nível.

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  3. O AXM1 recentemente foi publicado pela Salvat em dois volumes.

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    1. Na coleção da SH, correcto? (já agora, em que nºs?) Como fiz a coleção mas ainda não esses volumes, presumo que valha então a pena comprar este 2 (editado pela GFloy) como complemento ou mesmo fim do arco. É isso?

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    2. Da Salvat numeros 4 e 21. Correspondem ao AXM1.

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    3. Obg.
      E confirma-se que este AXM2 completa o arco dos nº 4 e 21 da Salvat?

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    4. Sim, Xico. AXM2 completa a história dos 2 volumes da Salvat.

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    5. Esta fase dos X-Men já foi publicada anteriormente duas vezes em Portugal. Na origem, foram 4 volumes US, que a BdMania publicou em 4 volumes portugueses de capa dura (coincidentemente publicados em co-edição com a G.Floy/Mucha na Polónia, há uma dezena de anos!). A Salvat publicou os primeiros dois volumes na colecção Graphic Novels Marvel.

      Os nossos dois volumes reúnem os 4 US (e correspondem aos 4 da BdMania também).

      O terceiro volume que vamos lançar mais para o Verão incluirá a fase completa do Warren Ellis (Astonishing X-Men comics #25-35), parte da qual (a primeira metade) foi editada na colecção da Levoir de 2015 (a de lombada/capa preta), "Caixa Fantasma". A segunda metade desse volume será verdadeiramente a primeira que é 100% inédita em Portugal.

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  4. Gostaria de saber se o X-men e Wolverine noir se já alguma vez publicados em Portugal?

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    1. Nunca foram, a ver vamos se algum dia serão publicados.

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  5. Pedro,
    não sendo tu grande leitor de sups, aconselho-te os Novos X-Men do Grant Morrison. A série do Wheddon, do Morrison e do Casey são as melhores recentes.
    Além disso, são para leitores que também querem algo mais.

    A saga do Morrison pega em alguns elementos do passado e homenagea-os. Infelizmente em portugal a Devir acabou por não editar o epílogo em que se fecha a história.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. É uma boa fase de AXM,antes de Cismas,Escola e Morte de Wolverine,vilinizaçao de Ciclope e morte de Ciclope etc,etc.
    Mas o volume mais recente de AXM do Soule/Rosenberg que a Goody em X-Men iniciou a publicação não fica atrás.

    https://static.fnac-static.com/multimedia/Images/PT/NR/38/39/16/1456440/1540-1.jpg

    https://i.annihil.us/u/prod/marvel/i/mg/5/e0/5b3408b12f71d/clean.jpg

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