Por causa de...
Há
obras cuja notoriedade se faz à custa de questões (mais ou menos)
acessórias, que não estão intrinsecamente relacionadas com a sua
qualidade em si - não a questionando também.
Indeh:
Uma história das guerras apaches
é um exemplo, sendo o seu 'chamariz' o nome do argumentista: o actor
e realizador Ethan Hawke, várias vezes nomeado para os Óscar.
Diga-se
desde já que disto não vem mal ao mundo. Se o nome do(s) autor(es),
a temática actual ou polémica, a fisionomia das personagens ou
outro qualquer aspecto acessório contribui para que se fale de banda
desenhada - o que me interessa aqui neste espaço - ou para fazer com
que esses livros cheguem a leitores que noutras condições não os
leriam, o objectivo foi (bem) alcançado.
E
até pode servir para que a editora que opta por um destes 'truques'
- quando eles funcionam... - até aproveite as eventuais melhores
vendas para apostar noutras edições menos mediáticas mas mais
interessantes para quem lê regularmente BD.
Curiosamente
- ou talvez não - Indeh nasceu como argumento para um
filme, mas os custos que lhe estavam associados, as questões
técnicas que levantava, o facto de implicar o protagonismo de muitos
actores de ascendência índia e a forma - politicamente incorrecta
para os valores estabelecidos hoje na América - como aborda o
conflito que opôs brancos a índios na segunda metade do século
XIX, durante a chamada conquista do Oeste, impediram a sua
concretização enquanto tal. A solução - que não é virgem nem
original em casos destes - passou para aproveitar o trabalho feito e
transformá-la numa banda desenhada.
Tomada
a decisão, Hawke convidou Greg Ruth para a desenhar, escolha que se
revelou acertada pois o seu traço realista, expressivo e
moderadamente dinâmico, num conseguido trabalhado a preto, branco e,
sobretudo, cinzento(s), apesar de descurar alguns fundos, confere
autenticidade ao relato, transmite uma dose de emoção contida e,
sem cores vivas e chamativas, permite que seja o enredo a ter a
primazia e o destaque maior.
Como
se infere do subtítulo, a narrativa revela uma visão pessoal do seu
autor sobre um tema ainda incómodo no seu país, afastando-se das
visões gloriosas que cinema e BD ofereceram ao longo de décadas,
centrando-se na forma como os apaches de Geronimo e Cochise, foram
(mal-)tratados pelo exército norte-americano.
Não
trazendo nada de realmente novo para quem já sabe antecipadamente
'como a história termina' ou para quem já leu alguns westerns
modernos em que brancos e índios não são apenas estereótipos
puros, mas sim retratos de seres humanos, esta não deixa de ser,
assumidamente, uma visão menos heróica e épica, seja qual for o
ponto de vista - dos brancos, dos peles-vermelhas, dos... - que se
olhe para ela.
Das
visões de grandeza que alguns dos grandes chefes índios tiveram à
sua derrota e - muitas vezes - aniquilação, Indeh retrata as
guerras apaches como uma sucessão de mal-entendidos, de traições
interesseiras e de vinganças disfarçadas, que opuseram duas nações,
uma invasora, outra invadida, que opuseram a cobiça e a
incompreensão da diferença à luta pela liberdade e que,
inevitavelmente, terminou com a vitória do mais forte e o quase
extermínio do mais fraco.
Indeh:
Uma história das guerras apaches
Ethan
Hawke (argumento)
Greg
Ruth (desenho)
Portugal,
Fevereiro de 2019
215
x 275 mm, 240 p., pb, capa dura
22,00
€
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em
toda a sua extensão)
A mim soube-me a pouco.
ResponderEliminarVisualmente excelente mas sem grande profundidade no argumento.
Não diria que soube a pouco, mas ficou abaixo das expectativas...
EliminarBoas leituras!