20/03/2019

Dylan Dog: O velho que lê

A obra e mais ainda







Há livros cuja leitura - a nível exclusivamente pessoal - transcende a qualidade intrínseca da obra. Para mim, este é um deles.
Começo então por aí. Para alguém que utiliza muito do seu tempo a divulgar banda desenhada (no caso), é sempre gratificante quando vejo as minhas sugestões reconhecidas e/ou apreciadas ou simplesmente comentadas ou sublinhadas.
No que diz respeito às edições da Sergio Bonelli Editore, há mais de uma década que as venho a divulgar. Só aqui no blog, há mais de 200 entradas com essa etiqueta, porque acredito que as suas propostas variadas, de uma qualidade média muito interessante, apesar do seu pendor comercial e do seu direccionamento global para o grande público, mereciam a atenção dos editores - e dos leitores - portugueses.
Agora, depois das apostas da Polvo em Tex - nas colecções Tex Romance Gráfico e Universo Tex - e da colecção Bonelli com que a Levoir e o Público nos brindaram no ano passado, surge a vez de a G. Floy começar a mergulhar no arquivo Bonelli, propondo-nos - para já...? - dois títulos de Dylan Dog... e deixando em aberto a possibilidade de explorar outras séries da editora nesta nova colecção Aleph, criada para publicar obras que saem da linha - de comics - mais habitual da editora, e onde poderemos vir a encontrar também títulos de outras proveniências europeias, nomeadamente franco-belga.
Mas não é só pela minha 'ligação' com a Bonelli e mesmo com Dylan Dog que este será um dos meus grandes destaques deste mês.
Paradoxalmente, se Dylan Dog - depois do bom acolhimento de Mater Morbi e dos dois volumes (A saga de Johnny Freak e Os Inquilinos Arcanos) incluídos na colecção já citada - era a proposta mais óbvia para a G. Floy no catálogo Bonelli, quer pela imensa popularidade que goza em Itália (onde as vendas chegaram a ultrapassar as de Tex), quer pela boa aceitação fora do círculo alargado de quem lê BD, quer pela forma como aborda a temática fantástica, em paralelo muitas vezes será 'pouco popular' - ou de difícil compreensão... - para o tal 'grande público'.
O Velho que lê, demonstra uma das grandes qualidades das edições Bonelli: a sua excelência gráfica. O trabalho de traço fino de Fabio Celoni é magnífico: os rostos são expressivos, os fundos pormenorizados, a variação dos ângulos de aproximação às cenas multiplica-se, a transição entre diversos contextos narrativos faz-se sem choques nem sobressaltos e há neste volume uma série de pranchas soberbas, pela sua qualidade plástica, o seu ritmo e/ou montagem. [Como aliás foi possível observar nos originais, durante o recente Coimbra BD.]
Mas, para além do seu excelente desempenho gráfico, Fabio Celoni, um dos poucos autores completos de Dylan Dog, oferece-nos igualmente uma narrativa cativante em que, a pretexto do misterioso desaparecimento de um velho que passava (literalmente) os dias a ler, nos leva por uma divagação melancólica e onírica pelos problemas da velhice e da solidão e pelos prazeres da leitura e do conhecimento. Entre fantasmas e pesadelos, sonhos e anseios, somos transportados num relato incómodo pela forma como nos obriga a deixar as nossas zonas de conforto e a mergulhar em conceitos, propostas e desafios que fogem ao habitual.
Mas - outra vez - a edição não fica por aqui e presenteia-nos igualmente com A Pequena Biblioteca de Babel, uma daquelas pequenas pérolas com que a BD por vezes nos deleita.
É uma história de apenas 16 páginas, em que os criadores de Dylan Dog, Tiziano Sclavio e Angelo Stano, numa nova incursão (não convencional) na literatura, a coberto de uma escapadela romântica de DD, presumivelmente com uma das suas (belas e sensuais) clientes, nos desvendam um dos maiores mistérios da humanidade: quem somos, de onde vimos, para onde vamos. E porque desaparecemos às vezes.

Dylan Dog: O velho que lê
Fabio Celoni e Tiziano Sclavi (argumento)
Fabio Celoni e Angelo Stano (desenho)
G. Floy
Portugal, Março de 2019
170 x 230 mm, 120 p., pb, capa dura
12,50 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

7 comentários:

  1. Olá,

    este livro do dylan dog já se encontra nas bancas? Li por aí que estaria em banca a partir de dia 20 de março mas ainda não o vii em lado nenhum...

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    1. Trouxe o meu do Coimbra BD...
      Era suposto ter sido distribuído hoje, mas ainda não tive qualquer confirmação nesse sentido.
      Boas leituras!

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  2. Muito obrigado! Vou andar atento.

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  3. Inominável, O Velho que lê vai ser distribuído no dia 10 de Abril. Houve um atraso na gráfica a entregar a edição, que motivou este atraso na distribuição.
    O segundo volume desta colecção, Até que a Morte vos Separe, vai chegar às bancas sensivelmente u mês depois, em inícios de Maio, mas antes disso estará em pré-venda nas Jornadas do Clube Tex Portugal, na Anadia, na presença do desenhador, Bruno Brindisi.

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    Respostas
    1. Olá JML, muito obrigado pela informação.

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    2. Olá, parece que anteciparam o lançamento do Até que a morte vos separe, pois já está nas bancas mas o Velho que lê ainda não apareceu em banca.

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    3. Segundo informação da editora, devido a um erro nos armazéns da distribuidora VASP, o volume 2 de Dylan Dog - Até que a morte vos separe - foi distribuído antes do volume 1 - O velho que lê. Este último será distribuído a partir de dia 17.
      A apresentação oficial de Até que a morte vos separe continua agendada para a 6.ª Mostra do Clube Tex, em Anadia, nos dias 28 e 29 de Abril, onde estará presente o seu desenhador, Bruno Brindisi.
      Boas leituras!

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