Primeiro romance gráfico de Carles Esquembre, Lorca: Un poeta em Nueva York é, por isso, mas também a outros níveis, uma obra iniciática.
Para o
autor, como já escrito, com experiência em ilustração e
storyboards
mas ‘pouca rodagem’ em BD, feita, afinal, nesta obra, que denota
o seu crescimento, em especial no tratamento da figura humana, talvez
o aspecto menos conseguido do seu desenho. Mas,
com o passar das páginas, vai aperfeiçoando a forma como nos
apresenta protagonistas e figurantes e aprendendo a ‘diluí-los’
nos cenários, mais realistas e fotográficos. O conjunto, que conta
alguns enquadramentos interessantes, acaba por funcionar bem em
termos narrativos, levando o leitor por uma temática nem sempre
fácil: a experiência do poeta Federico Garcia Lorca, em Nova
Iorque.
O
lado iniciático da obra para Esquembre, acaba por espelhar o tom
iniciático desta viagem. Primeiro, porque Lorca parte da (então)
sub-civilizada Granada, Espanha, para a cidade que era - ainda é…
- o topo do mundo, a (Grande) Maçã no topo do bolo que eram os tão
sonhados Estados Unidos, como terra de todas as oportunidades. O
choque social e civilizacional é evidente, numa viagem que se
transforma numa busca pela diferença, pela novidade, na
música, na literatura, nas artes, noutras experiências...
E,
principalmente, numa busca de Lorca por si próprio, numa fuga para a
frente dos pesadelos que o assombram e da relação (mal) terminada
com o seu amante.
Se
o conhecimento prévio da obra e da biografia do autor castelhano
será sempre uma mais valia para o leitor, que melhor será capaz de
situar os episódios intermitentes que constituem esta obra, nesse
todo maior que
é a vida de Lorca, a obra aguenta-se bem sozinha e pode mesmo criar
em quem lê a vontade de conhecer mais sobre o poeta.
Lorca:
Un poeta em Nueva York
Carlos
Esquembre
Panini
Comics/Evolution Comics
Espanha,
Janeiro
de 2020 (nova
edição)
170
x 240
mm,
160
p., pb
e cinza,
capa mole
com badanas
18,00
€
Sem comentários:
Enviar um comentário