O
que faz o sucesso - ou a falta dele? - de uma série? Porque razão
Tex
é publicado há mais de 70 anos e outros westerns
(equiparáveis)
ficaram pelo caminho, alguns dos quais até sem deixar memória? Ou o
que levou a que Astérix
se tornasse mais popular do que Humpá-pá?
Ou, entrando no livro
de hoje, o que faz de Dragonero um dos grandes sucessos actuais da
Bonelli - dentro e fora de Itália?
Obviamente
não existe uma resposta genérica nem há uma fórmula de sucesso
garantido - ou então, cada nova criação bateria
recordes de
vendas. Mais do que isso, para cada um dos casos citados - e para
dezenas, centenas de outros que poderia ter apontado - a resposta não
é a mesma, embora possa haver nela(s) pontos em comum.
Debrucemo-nos
então sobre Dragonero
- para tentar perceber porque protagoniza um quinto dos volumes
Bonellis já lançados em Espanha pela Panini, nos últimos dois
anos.
Um
dos pontos (mais) comuns a séries de sucesso, é uma história
consistente, geralmente de cariz popular - se falámos de ‘sucesso
de massas’ - que atrai e prende o leitor. Neste caso - como em
tantas criações Bonelli, (quase) qualquer edição permite a
aproximação do leitor não-iniciado, sem que o desconhecimento das
referências ao universo em causa coloque em causa a fruição da
leitura - embora ela seja potenciada pela leitura
anterior de outros volumes da série.
Podendo
ser classificada como uma narrativa de Espada
&
Feitiçaria
- com matizes próprios e
originais que vincam a diferença
- Dragonero
conta com uma galeria de personagens eficiente: um herói musculado,
inteligente e bem-parecido, um companheiro de aventuras de grande
força e cerebralmente menos dotado, que resolve as situações de
maior aperto e provoca as situações de humor (pontuais) que atenuam
a tensão, personagens femininas, bonitas a atraentes, (muitas
vezes) de
vestes generosamente parcas, adversários temíveis e malvados,
humanos, ogres, elfos, dragões voadores, uma fauna fantástica…
Tudo
reunido num mundo ficcional, em constante expansão, em que cada nova
cidade ou região é apresentada de forma sumária mas convidativa ao
leitor, possibilitando
a variação dos enredos.
Tematicamente,
se a aventura e a acção imperam, existem sempre doses variáveis de
humor, romance, magia, (pseudo-?)ciência e suspense que doseiam o
ritmo e a adrenalina e impelem o leitor a prosseguir página após
página.
A
tudo isto, há que acrescentar uma arte sempre competente, com
frequência mais do que isso até, como sempre foi apanágio das
edições Bonelli.
Se
a ‘receita’ fica dada acima, vamos espreitar um pouco deste El
fin de Yastrad que
leva Ian, Gmor e Sera a uma nova localização do mundo de Erondar,
onde aqueles que até aí eram procurados para curar os doentes,
passam a acusados (e
julgados responsáveis) por
uma temível epidemia que transforma os afectados em assassinos sem
razão, tão só porque a
nova doença parece ser
causada por um fungo - o tipo de produto que os agora perseguidos
utilizavam
para
o bem,
numa demonstração de como é fácil motivar turbas e moldar
vontades e
atitudes.
Chamado
de emergência, o trio de protagonistas dirige-se para aquele lugar
para tentar salvar alguns amigos que Ian lá conta.
Numa
bela demonstração de desenvolvimento narrativo, o volume abre com
uma sequência muito
forte e violenta, em
boa parte muda, em que um grupo de soldados se vê face a face com os
habitantes infectados de uma povoação seguindo-se, após um breve
entreacto cómico entre Sera e Gmor, a explicação do sucedido para
que o leitor possa caminhar um passo à frente dos heróis ao
longo de boa parte do livro.
A
partir daí, bem, deixo aos curiosos descobrirem, com a certeza de
uma boa hora de leitura que, embora leve, será cativante e
intensa, de mais uma bela edição de capa dura e papel de gramagem
generosa da Panini espanhola.
Dragonero:
El
fin de Yastrad
Luca
Enoch e
Stefano Vietti
(argumento)
Gianluigi
Gregorini e Giancarlo Olivares
(desenho)
Panini
Espanha,
20
de Fevereiro
de 2020
195
x 259 mm, 2o8
p., cor, capa dura
ISBN: 9788491674153
22,00
€
pergunto porque não editam mais coisas da bonelli em portugal? temos muito pouco tex em portugal, dragonero nem se fala e Dylan Dog la vai aparecendo.fico com esperança que a editora A Seita continue a editar mais livros Bonelli como fez com Dylan Dog e Dampry recentemente.
ResponderEliminarAqui estava um grande aposta para as editoras. Algumas passam a vida a reeditar ou com séries sem interesse nenhum! Em Espanha já vão no 6 volume e com excelentes vendas.
ResponderEliminarNão vou à bola com o Tex nem com o Dylan Dog, detesto quando abruptamente mudam de contexto durante uma cena no DD, estamos a ler uma conversa a decorrer e de repente somos transportados para uma cena onírica, durante uma investigação ele está a recolher informação e de repente está enfiado num ardil qualquer, sem qualquer explicação, até parece que faltam pranchas.
ResponderEliminarMas o Dampyr e o Dragonero parecem mais coesos e estimulantes, pelo menos daquilo que li gostei, deviam publicar o melhor do Dampyr, sem muitas daquelas aventuras mal desenhadas.