21/02/2020

Dragonero: El fin de Yastrad

Segredos

O que faz o sucesso - ou a falta dele? - de uma série? Porque razão Tex é publicado há mais de 70 anos e outros westerns (equiparáveis) ficaram pelo caminho, alguns dos quais até sem deixar memória? Ou o que levou a que Astérix se tornasse mais popular do que Humpá-pá? Ou, entrando no livro de hoje, o que faz de Dragonero um dos grandes sucessos actuais da Bonelli - dentro e fora de Itália?
Obviamente não existe uma resposta genérica nem há uma fórmula de sucesso garantido - ou então, cada nova criação bateria recordes de vendas. Mais do que isso, para cada um dos casos citados - e para dezenas, centenas de outros que poderia ter apontado - a resposta não é a mesma, embora possa haver nela(s) pontos em comum.
Debrucemo-nos então sobre Dragonero - para tentar perceber porque protagoniza um quinto dos volumes Bonellis já lançados em Espanha pela Panini, nos últimos dois anos.
Um dos pontos (mais) comuns a séries de sucesso, é uma história consistente, geralmente de cariz popular - se falámos de ‘sucesso de massas’ - que atrai e prende o leitor. Neste caso - como em tantas criações Bonelli, (quase) qualquer edição permite a aproximação do leitor não-iniciado, sem que o desconhecimento das referências ao universo em causa coloque em causa a fruição da leitura - embora ela seja potenciada pela leitura anterior de outros volumes da série.
Podendo ser classificada como uma narrativa de Espada & Feitiçaria - com matizes próprios e originais que vincam a diferença - Dragonero conta com uma galeria de personagens eficiente: um herói musculado, inteligente e bem-parecido, um companheiro de aventuras de grande força e cerebralmente menos dotado, que resolve as situações de maior aperto e provoca as situações de humor (pontuais) que atenuam a tensão, personagens femininas, bonitas a atraentes, (muitas vezes) de vestes generosamente parcas, adversários temíveis e malvados, humanos, ogres, elfos, dragões voadores, uma fauna fantástica…
Tudo reunido num mundo ficcional, em constante expansão, em que cada nova cidade ou região é apresentada de forma sumária mas convidativa ao leitor, possibilitando a variação dos enredos.
Tematicamente, se a aventura e a acção imperam, existem sempre doses variáveis de humor, romance, magia, (pseudo-?)ciência e suspense que doseiam o ritmo e a adrenalina e impelem o leitor a prosseguir página após página.
A tudo isto, há que acrescentar uma arte sempre competente, com frequência mais do que isso até, como sempre foi apanágio das edições Bonelli.

Se a ‘receita’ fica dada acima, vamos espreitar um pouco deste El fin de Yastrad que leva Ian, Gmor e Sera a uma nova localização do mundo de Erondar, onde aqueles que até aí eram procurados para curar os doentes, passam a acusados (e julgados responsáveis) por uma temível epidemia que transforma os afectados em assassinos sem razão, tão só porque a nova doença parece ser causada por um fungo - o tipo de produto que os agora perseguidos utilizavam para o bem, numa demonstração de como é fácil motivar turbas e moldar vontades e atitudes.
Chamado de emergência, o trio de protagonistas dirige-se para aquele lugar para tentar salvar alguns amigos que Ian lá conta.
Numa bela demonstração de desenvolvimento narrativo, o volume abre com uma sequência muito forte e violenta, em boa parte muda, em que um grupo de soldados se vê face a face com os habitantes infectados de uma povoação seguindo-se, após um breve entreacto cómico entre Sera e Gmor, a explicação do sucedido para que o leitor possa caminhar um passo à frente dos heróis ao longo de boa parte do livro.
A partir daí, bem, deixo aos curiosos descobrirem, com a certeza de uma boa hora de leitura que, embora leve, será cativante e intensa, de mais uma bela edição de capa dura e papel de gramagem generosa da Panini espanhola.

Dragonero: El fin de Yastrad
Luca Enoch e Stefano Vietti (argumento)
Gianluigi Gregorini e Giancarlo Olivares (desenho)
Panini
Espanha, 20 de Fevereiro de 2020
195 x 259 mm, 2o8 p., cor, capa dura
ISBN: 9788491674153
22,00 €

(capa disponibilizada pela Panini espanhola; pranchas em italiano disponibilizadas pela Sergio Bonelli Editore; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

3 comentários:

  1. pergunto porque não editam mais coisas da bonelli em portugal? temos muito pouco tex em portugal, dragonero nem se fala e Dylan Dog la vai aparecendo.fico com esperança que a editora A Seita continue a editar mais livros Bonelli como fez com Dylan Dog e Dampry recentemente.

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  2. Aqui estava um grande aposta para as editoras. Algumas passam a vida a reeditar ou com séries sem interesse nenhum! Em Espanha já vão no 6 volume e com excelentes vendas.

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  3. Não vou à bola com o Tex nem com o Dylan Dog, detesto quando abruptamente mudam de contexto durante uma cena no DD, estamos a ler uma conversa a decorrer e de repente somos transportados para uma cena onírica, durante uma investigação ele está a recolher informação e de repente está enfiado num ardil qualquer, sem qualquer explicação, até parece que faltam pranchas.

    Mas o Dampyr e o Dragonero parecem mais coesos e estimulantes, pelo menos daquilo que li gostei, deviam publicar o melhor do Dampyr, sem muitas daquelas aventuras mal desenhadas.

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