Se este álbum seria sempre, com certeza, uma das (boas) surpresas de 2020, que agora, tudo indica, se revelará curto e parco, isso só vem reforçar o seu interesse e importância no ano editorial português em curso.
Confesso
que o
nome de Yves Sente na capa de um álbum, me deixa sempre de pé
atrás, dado que o seu percurso como argumentista está recheado de
(alguns)
altos
e (mais)
baixos
e, se é justo reconhecer na
sua bibliografia algumas
histórias muito aconselháveis, há outras que duvido que ele
aprovasse, se ainda fosse editor.
Desta
vez, ainda que estejamos a meio do percurso - entenda-se após a
leitura do primeiro álbum de um díptico - Sente apresenta uma
história (até aqui) sólida e aliciante, sobre um jovem padre que é
ao mesmo tempo uma espécie de James Bond ao serviço do Vaticano,
quer como
encarregado
da segurança de algumas personalidades, quer como
responsável por
algumas
missões difíceis. Apresentado desta forma, num ‘mini-relato’
introdutório
muito dinâmico, com algumas situações surpreendentes e uma bela
perseguição automóvel muito bem resolvida, à maneira do melhor
cinema de acção de Hollywood, o protagonista assume grande parte do
relato em off,
opção
que permite o seu desenrolar como que a dois níveis, aquele que os
nossos olhos apreendem e a visão mais personalizada e menos
objectiva transmitida por quem a vive.
O
clima de intriga e suspeição associado ao Vaticano, a sua ligação
ao mundo da alta finança, a actualidade temática ao associar a
história à cimeira de Davos e alguns pormenores intrigantes ainda
inexplicados que deixo aos leitores descobrirem por si, são outros
elementos que Sente acrescenta a este O
Anjo de Malta e
que fazem dele um relato que agarra o leitor e o leva a querer saber
mais e mais.
Quanto
ao traço de Boucq, apesar do aspecto claramente caricatural das suas
personagens, confirma o seu carácter camaleónico, revelando-se não
só eficaz nos impagáveis relatos nonsense
de
Jérôme Boucherot em que o descobri, mas igualmente eficiente e
muito capaz nas divagações místicas de Face
de Lua,
no western
Bouncer
ou num relato realista como é O
Guardião.
Nota
final
Se
de forma acertada e louvável - pelo incremento de credibilidade
associado e pela garantia de publicação inerente - a Gradiva tinha
agendado o lançamento do segundo
volume
- Fim
de semana em Davos -
para um mês depois do primeiro (Abril
de 2020),
a pandemia de Covid-19 em curso obrigou a adiá-lo (ainda) sem data
definida. Será justo e, certamente, uma ajuda para a editora, a
compra deste volume inicial.
O
Guardião agente secreto do Vaticano
#1
O Anj0 de Malta
Yves
Sente (argumento)
François
Boucq (desenho)
Gradiva
Portugal,
Março
de 2020
233
x 313
mm, 48
p.,
cor, capa dura
ISBN:
9789896169527
15,00
€
(imagens
disponibilizadas pela Gradiva;
clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Sem dúvida e até ver, a melhor edição de 2020...
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