Inevitavelmente, Julia Kendall voltou às minhas leituras.Voltou às minhas leituras, da mesma forma que a noite sucede ao dia ou após a chuva regressa o sol. Mesmo que possa demorar. [Mas, confesso, no caso de Julia, luto contra mim próprio para dosear esses regressos, de forma a não devorar todas as edições de uma vez, querendo ter sempre - quase sempre - edições por ler…].
Em
mais uma edição dupla da Mythos, são díspares os casos
apresentados, tal como díspares são as artes das duas histórias,
um traço mais limpo e luminoso, na primeira, mais sujo e sombrio na
segunda.
O
primeiro, Acidente de Caça,
começa
com a morte de um observador de aves, aparentemente de
forma acidental, por
um caçador imprevidente. Aparentemente, escrevi, porque o que é
demasiado óbvio nunca é verdade qualquer
que seja o relato relato
policial - e
Julia não é excepção - e
a investigação subsequente acabará por revelar um daqueles casos
em que a floresta - a procura de grandezas, leia-se
grandes motivos
- impede de ver a árvore à frente dos protagonistas.
Do
relato, salienta-se ainda - pela negativa… - um final demasiado
feliz e cor-de-rosa, quase à medida dos contos de fada infantis de
outrora, que destoa numa série que espelha tanto o desencanto do
mundo real.
Passando
a Nos
Braços da noite,
o tom muda drasticamente, quando um desentendimento num lugar
esconso, resulta numa cadáver abandonado numa linha de metro
desactivada. Cadáver que afinal se revelará ser um ferido em estado
grave que lançará Julia numa cruzada pessoal. Tudo porque a vítima
tem nome desde a primeira prancha: Leo Baxter, o detective particular
com quem a criminóloga de Garden City já partilhou tantos casos.
Desta forma, esta investigação afasta-se
da
esfera profissional e torna difícil traçar linhas
que a jovem não esteja disposta a cruzar, desde arriscar-se
pessoalmente até propor alianças pontuais com gente pouco
recomendável.
É,
na prática, uma
daquelas
situação-limite
- que
também surgem no nosso quotidiano, embora com contornos e fronteiras
diferentes dos que são aqui apresentados - em
que e emoção tolda a razão e
nos leva a fazer o que nunca tínhamos imaginado ousar
ou ser capazes.
Nesta
narrativa - como às vezes na vida - em que escolhas
passadas e
opções presentes
são postas
em causa, são os outros, aqueles a quem podemos chamar amigos, que
surgem em auxílio de Julia e a fazem entender que ninguém está
sozinho - mesmo que às vezes em desespero se afaste
a companhia e se procure
a solidão.
J. Kendall, as aventuras de uma criminóloga #141
Acidente de caça
G. Berardi e M. Mantero (argumento)
Federico Antinori (desenho)
Nos braços da noite
G. Berardi e L. Calza (argumento)
Marco Soldi (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Julho/Agosto de 2019
135 x 180 mm, 260 p., pb, capa mole, mensal
R$ 24,90 / 8,00 €
(capa disponibilizada pela Mythos Editora; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
J. Kendall, as aventuras de uma criminóloga #141
Acidente de caça
G. Berardi e M. Mantero (argumento)
Federico Antinori (desenho)
Nos braços da noite
G. Berardi e L. Calza (argumento)
Marco Soldi (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Julho/Agosto de 2019
135 x 180 mm, 260 p., pb, capa mole, mensal
R$ 24,90 / 8,00 €
(capa disponibilizada pela Mythos Editora; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
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