Há verdades que não é demais repetir e uma delas é a competência que os diversos tomos da colecção A Sabedoria dos Mitos demonstram.
O que, em
abono da verdade,
os tornam mais interessantes e atractivos do que aquilo que a frase
anterior demonstra.
E
isso acontece,
mesmo quando um dos aspectos que os
tem distinguido, a qualidade gráfica dos desenhadores, fica aquém
do esperado, como acontece neste volume. Não me refiro à abertura
(mais) realista de Dim M., mas sim ao traço de Federico Santagati,
que se revela - aos meus olhos - algo rude e imperfeito. É tanto
assim que o generoso formato da edição
da Gradiva - similar ao do original francófono - parece exagerado e
dei por mim a imaginá-lo reproduzido num formato menor, que
beneficiaria o traço,
‘escondendo’ o vazio de alguns fundos, a falta de pormenores
nalguns rostos, a ausência de dinamismo e movimento nalgumas cenas…
Embora, em
termos de planificação e da condução do leitor ao longo da
narrativa, o trabalho de Santagati mereça
nota bem mais positiva.
O nascimento dos deuses,
se cronologicamente é posterior a alguns dos volumes já
publicados,
de certa forma surge como ponto de
partida pois narra-nos como os deuses do Olimpo grego chegaram a
existir. Se a base já é de si bastante interessante - digo eu,
outra vez - a forma viva, descontraída e envolvente como nos é
narrada multiplica a capacidade de prender o leitor e de o levar a
encarar como normal tudo aquilo que nela acontece.
Um pouco como num história de super-heróis - por exemplo - temos de
aceitar as especificidades desse universo para fruir plenamente a
leitura, no caso presente estamos também perante um universo -
ficcional, pois claro - com regras próprias, que temos de
interiorizar.
Só assim, seremos capazes de deixar que se sucedam perante os nossos
olhos parricídios, incestos, engolir filhos vivos - que crescerão
(literalmente!) no estômago do pai - e, também, factos mais
‘normais’ como traições, conspirações, alianças
interesseiras e a constante luta pelo poder - pelo sexo, pelo
domínio, pelos privilégios, pela atenção…
Questões, afinal, bem humanas que os deuses copiaram dos homens - e
não o contrário!
Nota final 1
Sem o impacto do que aconteceu no álbum de
Bruno Brazil: Black Program,
porque apenas no início de umas poucas frases, também há nos
balões de O nascimento dos deuses
‘NN’ invertidos e ‘II’ serifados. Um aspecto que, com
certeza, a Gradiva terá em atenção em próximas edições.
Nota final 2
Esta série, como outras que a editora tem em
curso ou entretanto iniciou - ou cujos direitos já comprou - são a
prova relevante de
que a Gradiva pretendia fazer uma aposta muito séria na edição de
BD em Portugal. Sem a actual pandemia de Covid-19, o que não
teríamos já disponível ou anunciado…
O desejo é que o regresso à normalidade (possível) possa permitir
que tudo se venha a concretizar, mesmo que a um ritmo mais brando.
O nascimento dos deuses
Colecção A Sabedoria dos Mitos
Luke Ferry (concepção e escrita)
Clotilde Bruneau (argumento)
Dim. D e Federico Santagati (desenho)
Gradiva
Portugal, Fevereiro de 2020
233 x 313 mm, 56 p., cor, capa dura
ISBN: 9789896169510
16,50 €
(imagens em português disponibilizadas pela Gradiva; prancha em francês disponibilizada pela Glénat; clicar
nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
´´Deus´´ te ouça, Pedro - em relação ao regresso á normalidade(possível). Mesmo que a um ritmo mais brando, como estavas a dizer. Até porque tenho coleccionado a maior parte destas edições da Gradiva(que são bastante interessantes), e pretendo acabar as respectivas coleções.
ResponderEliminarPor falar em Gradiva,alguém sabe se a editora vai continuar a coleção onde estão incluídos os volumes "O Universo", "Os Direitos do Homem"?
ResponderEliminarA serie dos descobridores é muito boa!
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