Passou-me
por acaso pelas mãos e por isso decidi evocar
aqui um livro com mais de uma dezena de anos. Intitula-se
“Sonno Elefante – I muri hano orecchie” e o seu autor é o
italiano Giorgio Fratini, com a curiosidade de ser uma obra sobre...
a PIDE.
Para isso, recupero aqui o texto integral da entrevista que lhe fiz, publicada no Jornal de Notícias
de 19 de Fevereiro de 2008, aquando da edição italiana da obra, que
seria editada poucos meses depois em português, pela Campo das
Letras.
BD
sobre a PIDE editada em Itália
Sonno
elefante é “uma metáfora sobre a perda da memória de um lugar”,
disse ao JN o autor, Giorgio Fratini
Acaba
de ser editada em Itália, pela editora BeccoGiallo, uma banda
desenhada cuja história “roda à volta de um lugar tristemente
famoso de Lisboa, a ex-sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso”,
revelou ao JN o seu autor, o italiano Giorgio Fratini.
Nascido
a 23 de Novembro de 1976, é “arquitecto, licenciado pela Faculdade
de Arquitectura de Florença” e esteve em Portugal “pela primeira
vez em 2000, para estudar arquitectura ao abrigo do programa
Erasmus”.
A
Lisboa, voltou “várias vezes” e dessas estadias nasceu “Sonno
Elefante – I muri hano orecchie”, cujo título, diz, “é uma
metáfora sobre a perda da memória de um lugar, de um pedaço da
história”. Algo como “o sono da memória”, acrescenta Fratini,
cujo traço a preto e branco, matizado de cinzentos, em que se
destaca o tratamento realista dado aos edifícios, que contrasta com
o tom semi-caricatural das personagens, e a agradável e
multifacetada composição das páginas, não deixam adivinhar
tratar-se da sua primeira obra.
O
ponto de partida para a história foi a descoberta de que a antiga
sede da PIDE, iria ser “remodelada, dando lugar a um conjunto de
apartamentos de luxo e lojas”. Nada de especial, a acreditar nas
palavras de uma personagem, logo nas primeiras páginas do livro: “E
então? Um dia há uma coisa, depois outra; é normal, não é?”.
A
história, resume o autor, está “ambientada
poucos anos antes da Revolução dos Cravos e segue os destinos de
Zé, Marisa, Leon, Maria e Afonso”, ligados àquele “palácio
nefasto, como aconteceu a milhares de cidadãos portugueses comuns”.
Entre eles “há quem se oponha, quem traia, quem colabore, quem se
anule e quem morra. E um deles, muitos anos depois, volta àquele
lugar trazendo consigo o que considera impossível cancelar: a
própria história”. E recorda “o terrível passado do edifício,
as crueldades que tiveram lugar dentro daquelas paredes, os gritos e
lágrimas sufocados naqueles quartos, lutando, à sua maneira, contra
a destruição da memória de todas as vidas ali perdidas na luta
pela liberdade”, conclui o editor, Federico Zaghis.
Uma
história narrada ao longo de pouco mais de uma centena de pranchas,
“inspirada parcialmente em factos reais, trabalhados pela minha
imaginação”, para a qual Giorgio Fratini, “para além da
Internet”, teve que “fazer pesquisas no Arquivo da PIDE, na Torre
do Tombo, e no Centro de Documentação 25 Abril da Universidade de
Coimbra, bem como no arquivo fotográfico em linha da Câmara
Municipal de Lisboa, fundamental para a iconografia dos anos 70” em
que decorre boa parte de “Sonno Elefante”, para já sem edição
prevista no nosso país, embora “haja alguns contactos com editoras
portuguesas”, revela o autor.
As
Paredes Têm Ouvidos - Sonno Elefante
Giorgio Fratini
Campo
das Letras
Portugal,
Abril de 2008
170
x 237 mm, 112 p.,
pb, capa mole com badanas
ISBN:
9789896252939
(imagens
retiradas do blog do autor; clicar nelas
para as aproveitar em toda a sua extensão)
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