Regresso ao Príncipe Valente da Planeta DeAgostini. Faço-o vinte e nove meses depois (do primeiro texto sobre a colecção) ou 69 anos após (considerando o tempo que medeia entre os dois volumes considerados); depende do ponto de vista.
A culpa é da minha maldita curiosidade que me espicaçou a comprar este volume de 2006, depois de ter deparado com ele à venda...
Conheci o Príncipe Valente (possivelmente) antes de saber ler, em O Primeiro de Janeiro que os meus avós compravam. Redescobri-o, depois, no Mundo de Aventuras - e numa série de outras publicações dos anos 70/80 da Agência Portuguesa de Revistas, que o publicaram de (quase) todas as formas e feitios, muitas delas indescritíveis.
Mas, foi com as edições de Manuel Caldas que aprendi a respeitá-lo, a admirá-lo e a reconhecê-lo como uma das maiores sagas em banda desenhada de todos os tempos.
Se a fase final de Foster, desenhada por Cullen Murphy, sobre a qual escreverei em breve, já me tinha deixado amargos de boca, o que já conhecia das épocas posteriores não auguravam, nada de bom - ou até de interessante.
Mas, a minha ‘maldita curiosidade’ - e o acaso improvável de encontrar o livro em banca - fizeram com que me deixasse tentar, levando-me a espreitar o que Gary Gianni e Mark Schultz realizaram com a série.
Retirado o plástico protector, o primeiro folhear confirmou as minhas mais negras expectativas - ou a falta delas! O desenho é estático, pobre e sem pormenores, os fundos estão maioritariamente despidos, a planificação é básica e desinteressante, o colorido é pesado…
[Há acima dois aspectos que merecem ser explicados, o Principe Valente de Foster era maioritariamente publicado em páginas completas, o que resultava numa planificação de 6 a 9 vinhetas; o de Gianni e Schultz está pensado para meias páginas ou até só um terço, daí ter apenas 3 a 5 vinhetas. Num caso e noutro, as pranchas eram feitas de forma a poderem ser adaptadas consoante o espaço (e o formato) de publicação disponível nos jornais.
A outra questão, tem a ver com a simplificação de linguagem que é apanágio desta edição da Planeta DeAgostini; ao fazê-lo, reduziram a mancha de texto e por isso, em muitos casos, dá a sensação que a cor ‘acabou’ antes do tempo.]
Prosseguindo. Se a componente visual já não era famosa, em termos narrativos as coisas não melhoram. Um dos aspectos de sempre em o Príncipe Valente, que era/é publicado uma vez por semana, é a necessidade de existir um resumo dos acontecimentos na primeira vinheta, o que se torna redundante na leitura em álbum. No caso presente, com a referida redução do número de vinhetas por página, conforme explicado atrás, isso é ainda mais penalizador, com (praticamente) o mesmo texto a repetir-se a cada três ou quatro vinhetas, principalmente nasequência inicial, no barco vicking…
Independentemente disso, a mesma redução do número de vinhetas, obriga a reduzir os acontecimentos que têm lugar, prolongando demasiado qualquer acontecimento e tornando muito reduzido o ritmo narrativo. Este loivro, correspondente a um ano de publicação, tem apenas um episódio incompleto ou, numa óptica mais benevolente, o final de um (o rapto de Valente e Nathan), a estadia na Torre de Hércules e, por fim, a libertação da princesa cartaginesa Makeda. Muito pouco.
Finalmente, mas mais importante, Giani não é Foster, e o que ele nos conta soa um tanto ou quanto a requentado, embora agora, em parte, centrado (de forma ligeira) também no seu filho mais novo, Nathan - e a sensação que me deixou foi que já tinha visto algo assim (parecido) algures nos primeiros anos da série…
Ficam desta leitura duas curiosidades: negativamente, o episódio demasiado místico na Torre de Hércules; positivamente, o facto de grande parte do livro ter lugar na Ibéria, possivelmente até em território hoje português dado Valente ter aportado no extremo Norte da Galiza, mas a verdade é que não há qualquer confirmação geográfica desse facto.
Por tudo isto, se celebro Foster e a sua criação, não consigo perdoar o não lhe ter posto um fim definitivo em devido tempo - mesmo sabendo que o SEU Príncipe Valente, os respectivos direitos, possivelmente pertenciam a quem o publicava (King Features Syndicate) e não ao autor...
Se desta vez me arrependo - relativamente… - da minha ‘maldita curiosidade’, ao longo dos anos ela tem-se revelado útil e proveitosa, e foram muitas as obras e séries que me fez descobrir, por isso continuarei sempre a dar-lhe ouvidos...
Príncipe
Valente 2006
Gary
Gianni (argumento)
Mark
Schultz
(desenho)
Planeta
DeAgostini
Brasil,
2020
Distribuição em Portugal: Agosto
2021
225
x 310
mm, 64
p., cor,
capa dura
10,90
€
(capa disponibilizada pela editora; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)
As páginas do Príncipe Valente podiam ser apresentadas no formato tradicional, ou no deitado. É por isso que na segunda linha as vinhetas são sempre de tamanho igual. (para uma ficar em cima e outra em baixo, na transposição). Nas páginas com vinheta grande, ficam duas pequenas, uma em cima da outra, e depois a grande.
ResponderEliminarNesta altura, penso que seria mais ao contrário. O Príncipe Valente já só ocupava a meia página nos jornais, pelo que a remontagem é feita para esta publicação em álbum...
EliminarBoas leituras!
um aspeto que não referiste, e que me parece ser a grande marca diferenciadora do PV de Gianni e Schultz, mais que a apresentação gráfica, é a entrada total no terreno do fantástico - e isso não acontecia com Foster, nem mesmo nas pranchas dos primeiros anos (há apenas leves insinuações).
ResponderEliminarReferi: 'negativamente, o episódio demasiado místico na Torre de Hércules?.
EliminarTenho ideia, por pranchas soltas que já vi, que a situação se agrava mais para a frente...
Boas leituras!
Hay que ser muy curioso para dejarse llevar por una portada tan fea!
ResponderEliminar(sí, Foster era dueño de su creación y la vendió en sus últimos años de vida a King Features, por una soma que ahora no recuerdo pero de la que se habla en su última entrevista, al "Comics Journal")
Ah, ah, ah! Não foi a capa - horrível! - que me despertou a curiosidade, mas sim os autores!
EliminarE obrigado pela explicação quanto à venda da personagem.
Boas leituras!
O desenho das pessoas, dos detalhes das mãos, dos rostos... parecem caricaturas dos desenhos de Foster... Sinceramente nunca pensei que a qualidade caísse tanto. É absolutamente irreal - para quem colecionou Foster - conseguir tolerar esses desenhos. Um dos motivos porque nunca comprarei nada que não tenha sido desenhado e narrado por Foster. Não vou perder tempo e dinheiro em caricaturas do Príncipe Valente.
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