Importante
Há
obras cuja importância vai (bem) mais além do seu valor intrínseco.
Medindo bem
o que escrevo, esta adaptação do romance homónimo de Eça de
Queirós, integrado na colecção Clássicos da Literatura em BD
é uma
delas; mais, é
um
dos mais importantes lançamentos do ano, em Portugal.
As
razões são várias mas, acredito, simples de entender.
Já defendi por aqui que esta iniciativa editorial da Levoir e da RTP é muito importante no actual contexto editorial: pela relevância mediática que recebe(u), por destacar a banda desenhada junto de públicos que geralmente lhe passam ao lado, por poder servir como porta de entrada na BD a novos leitores sem hábitos dessa leitura, pelo aumento do espaço de prateleira que indirectamente acaba por trazer às edições aos quadradinhos.
Neste contexto, a integração de Os Maias, a partir de amanhã à venda, e, daqui a algumas semanas, de Amor de Perdição, merece todos os encómios para com a Levoir. Pela inclusão de obras de autores nacionais na colecção - e a possibilidade, mesmo que remota? - de os vir a editar noutros países. E também porque representa uma aposta arriscada da editora, já que criar uma obra (deste género) de raiz é bem mais custoso do que fazer a simples tradução de obras pré-existentes - e do ponto de vista de logística, dá também muitas mais dores de cabeça…
Mas, ultrapassadas estas breves considerações, entremos então na obra criada pelo desenhador espanhol Canizales com a colaboração de José de Freitas.
Todas as obras incluídas nesta colecção, sofrem do mesmo problema de base: condensar centenas de páginas em pouco mais de quatro dezenas de pranchas de BD. Isso obrigou todos os autores a uma enorme capacidade de síntese e a seleccionarem o essencial em detrimento do acessório - embora importante - conseguindo transformar o resultado final numa obra de banda desenhada autónoma por si só, para mais quando é maioritariamente direccionada para leitores, que não terão conhecimento prévio dos originais.
Não aconteceu com todas, é verdade, mas Os Maias de Canizales cumprem este - deixem-me escrever assim - requisito prévio. Na sua versão em BD estão as diferenças - a decadência… - entre as várias gerações dos Maias, está a falta de carácter de Carlos, está a sua paixão doentia por Maria Eduarda. Acessoriamente, é também feito o retrato de uma sociedade lisboeta decadente e amoral, talvez mais distante no tempo do que na forma - embora com outros matizes… - da que temos hoje em dia.
Canizales fê-lo - com a colaboração de José de Freitas - com uma assinalável concisão de texto escrito, deixando às ilustrações e aos diálogos o fazer avançar a narrativa.
Graficamente díspar da maioria das outras edições desta colecção, assentes em traços mais clássicos ou semi-caricaturais (mais vulgares), Canizales opta por uma ilustração baseada em cor directa, abdicando de linhas negras de definição de formas e espaço. Isto, a par de uma planificação pouco habitual, com uma divisão de página longe das tradicionais vinhetas e tiras rectangulares, confere uma interessante dinâmica ao relato, ao mesmo tempo que guia e prende o olhar do leitor de forma mais eficaz.
Para quem leu o original - como acontece com todos os outros livros da colecção - vai inevitavelmente saber a pouco. Para um leitor habitual de BD, será uma obra legível e competente. Para o público-alvo da colecção, será uma boa introdução ao romance de Eça; para alguns será mesmo a porta de entrada no livro do escritor e para outros no mundo da BD. São estes dois últimos casos o seu principal propósito.
Entrevistas
Nos próximos três dias, As Leituras do Pedro vão publicar entrevistas com Sílvia Reig, editora da Levoir, o ilustrador espanhol Canizales e José de Freitas. Acredito que são bons complementos ao que acima ficou escrito e à leitura da obra em si.
Os
Maias
Clássicos
da Literatura em BD #11
Canizales
(argumento e desenho)
José
de Freitas (argumento)
Levoir/RTP
Portugal,
24 de Agosto de 2021
210
x 285
mm, 57
p., cor,
capa dura
1o,90
€
(imagens disponibilizadas pela Levoir; clicar nesta ligação para descobrir mais, ou nas mostradas aqui para as apreciar em toda a sua extensão)
Concordo com o Pedro só que o aumento do espaço de prateleira nas lojas reflete-se na fatal diminuição de espaço nas prateleiras em casa dos inveterados mas, já o meu pai dizia, antes sobrar que faltar...
ResponderEliminarSinceramente, o desenho não me agrada, nem um pouco!
ResponderEliminarQuem deveria fazer uma boa adaptação grafica desta obra era o Milo Manara! ;)
ResponderEliminarTambém concordo com o facto de esta arte,...´´não me agrada nem um pouco!´´. Acho que este traço não será o mais apelativo para aproximar novos públicos para a BD. Sinceramente, acho que os afastará.
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