...pelo
menos, tanto quanto é possível no que à edição diz respeito,
pois sabemos da volubilidade dos leitores e da rápida passagem das
modas.
No
entanto, quer A
Sabedoria dos Mitos, quer
as adaptações das obras de Agatha
Christie parecem
estar acima daqueles desideratos e ter uma base de interessados
suficientemente vasta para justificarem sucessivas
novas
edições.
Apolo,
no primeiro caso, e Crime
no Hotel Bertram,
no segundo, são títulos
recentes do final de Março, que elevam para cinco e nove (um deles
duplo), respectivamente, os volumes editados nestas colecções.
São apostas seguras, lê-se acima, pela sua temática: a mitologia grega, por um lado, e os romances policiais da escritora britânica, por outro, são tópicos intemporais, abrangentes e transversais, capazes de atrair diversos tipos de leitores - mesmo fora do nicho dos que lêem regularmente banda desenhada - e têm ainda a vantagem de (potencialmente) poderem servir de chamariz para a leitura para faixas etárias mais jovens.
Para além disso, são produtos que, mesmo sem deslumbrarem nem surpreenderem - embora isso possa pontualmente acontecer - cumprem com integridade e competência o fim a que se destinam.
Apolo
Colecção A Sabedoria dos Mitos
Luc Ferry (concepção e escrita)
Clotilde Bruneau (argumento)
Luca Erbetta (desenho)
Gradiva
Portugal, Março de 2022
233 x 313 mm, 56 p., cor, capa dura
16,50
€
Após um interregno de cerca de dois anos, a Sabedoria dos Mitos está de volta com este volume dedicado a Apolo, deus grego da música, da medicina, da beleza e dos oráculos. Filho ilegítimo de Zeus e Leto, teve por esse motivo o nascimento em risco devido aos ciúmes de Hera, mulher legítima do pai dos deuses.
Com um traço muito competente - que de alguma forma atenua a ligeireza de um argumento menos elaborado ou pelo menos feito de fragmentos mais ou menos estanques - o álbum justifica as diversas áreas em que Apolo se distingue, embora tenha sido esquecida (a narração das consequências de não ter sido cumprida) a promessa feita pela sua mãe para poder dar à luz em Delos.
Como sempre, em Apolo é igualmente evidente como os deuses sofriam das mesmas qualidades - ou da falta delas - dos humanos, revelando o protagonista uma grande arrogância, espírito vingativo e crueldade assinaláveis.
O dossier final esmiúça um pouco mais o tema do livro e ajuda a conhecer melhor a personagem.
Agatha Christie
Miss Marple: Crime no Hotel Bertram
Dominique Ziegler (argumento)
Olivier Dauger (desenho)
Arte de Autor
Portugal, Março de 2022
210
x 285
mm, 64
p., cor, capa dura
17,50
€
Décimo volume das adaptações (traduzidas para português) das obras de Agatha Christie, este álbum traz como protagonista de novo Miss Marple, personagem pela qual, confesso, nunca nutri grande simpatia.
Se o desenho, à primeira vista uma linha clara agradável, apresenta limitações - alguma rigidez dos intervenientes, fundos pouco po0rmenorizados, falta de dinamismo - o argumento cumpre bem o que se exige nestes casos: a fidelidade ao original e a disponibilização ao leitor de todos os dados para acompanhar - e até antever - a investigação da curiosa protagonista.
O que não invalida que, em termos de argumento base, Agatha Christie tenha estado frequentemente mais inspirada do que neste caso, já que a explicação dada para uma série de assaltos com protagonistas famosos reconhecidamente ausentes noutros locais à data e hora dos crimes, se afigure algo rocambolesca e forçada.
(imagens disponibilizadas pela Gradiva e pela Arte de Autor; clicar nesta ligação e nesta ligação para ver mais pranchas de cada uma delas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Esse marple é um abuso de coincidencias 🤭
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