Alicerces
Pode
um mercado assentar apenas na edição de obras-primas?
Por
muito que custe ou que custe a entender, a resposta é não. Um
mercado - seja qual for a sua dimensão - funciona como uma pirâmide
em que as obras-primas - como as obras alternativas - são
sustentadas pelas edições 'grande público' e pelas obras de
'dimensão média'. Ou seja, por aquele tipo de bandas desenhadas -
de humor, aventura.... - que,
para além dos leitores regulares do género, são capazes de
satisfazer os leitores ocasionais.
Sendo
que tudo o que atrás fica escrito - como o que vem a seguir - está
sempre dependente dos gostos relativos de cada leitor e, globalmente,
dos do tal 'mercado', é por isso que, entre nós, actualmente,
predomina um certo tipo de banda desenhada chamado genericamente de
'aventuras'. Com pontos a favor e contra, séries como Mercenário, Guardião, Duke, Thorgal,
Tango...
têm
o seu lugar, são fundamentais até na estruturação de vendas e de
conquista de lugar nas livrarias
e, enquanto séries, beneficiam do efeito de 'arrastamento' que cada
novo volume provoca.
Este
Nevada,
é o exemplo mais recente.
Num mercado que alguns consideram saturado de westerns - mas que possivelmente apenas (cor)responde ao que os leitores desejam... - esta criação de Duval, Pécau e Wilson, fica de algum modo a meio caminho entre aquele género e a aventura (mais) 'pura'.
A meio caminho porque, se em termos de localização e de cenários - e mesmo do posicionamento de muitos dos intervenientes - tudo parece apontar para o Oeste selvagem, a sua colocação temporal na segunda década do século passado, obriga à troca dos cavalos pelos primeiros automóveis e motas e o nascimento de Hollywood e da indústria do cinema - onde os westerns muitas vezes tiveram um lugar primordial - permite um outro tipo de situações e de enredo.
O protagonista é Nevada Marques é um aventureiro com um pé em cada um daqueles espaços/tempos, encarregado de fazer o trabalho sujo encomendado pelos estúdios, como encontrar actores renitentes ou saturados da exploração a que estão sujeitos, impedir ou atenuar o surgimento de escândalos com eles relacionados...
Com um traço mais duro e sujo do que é habitual neste tipo de criações - mas que é de certa forma a imagem de marca do talentoso Colin Wilson - o que acentua o seu tom sombrio, alguma amoralidade do protagonista e o ambiente de podridão em que Hollywood se (a)firmou, com muitas intrigas e ódios, negócios esconsos e exploração humana à mistura, Nevada tem nessa duplicidade temática o seu aspecto mais interessante e desafiador. Até porque, num volume em que predomina a acção, se é evidente que facilmente a mesma história - com pequenos ajustes - poderia ser contada como um western puro ou numa série de aventuras um pouco mais à frente no tempo, é nela que assenta a sua originalidade.
Narrativamente, Duval e Pécau revelam a competência expectável numa série franco-belga que, nos próximos volumes, irá com certeza explorar o passado do protagonista, para lhe conferir maior espessura e credibilidade e permitir a criação de empatia por parte dos leitores - aspecto fundamental para o sucesso de uma BD de aventuras. Para já, aceitando alguma previsibilidade numa leitura que pressupõe diferença e descoberta, fica retido na memória o pormenor que o final desvenda e marca pontos a favor de Nevada.
Nevada
#1 A estrela solitária
Fred
Duval e Jean-Pierre Pécau (argumento)
Colin
Wilson (desenho)
A
Seita
Portugal,
Abril de
2022
230
x 320 mm, 56
p., cor, capa dura
16,85
€
(imagens disponibilizadas por A Seita; clicar nesta ligação para ver maispranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar no texto a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Um bom desenho mas um argumento totalmente desinteressante. Mesmo o pormenor final, que segundo o Pedro marca pontos, não tem qualquer originalidade já que é uma ideia roubada a um filme famoso. Os albuns seguintes até podem ser melhores mas com tanta coisa para ler já não vou perder mais tempo com esta série.
ResponderEliminarJoão Dias
Por mim, comprei (claro! tratando-se de mais um pseudo-western) e estou a ler. Para já fica a nota para a espetacularidade do desenho e composições de Wilson, bem melhor do que o traçado da juventude de Blueberry! Fico expectante e à espera dos álbuns seguintes. (João Reis)
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