Nem sempre...
Na actual
tendência para a adaptação de obras literárias em BD - num
curioso regresso a um certo passado, conforme já referido por aqui -
a oferta (estrangeira) é grande e as opções são muitas.
Não são
todas para os
mesmos
leitores
e nem todas são especialmente felizes.
Em termos de público, penso que se podem dividir em três grupos principais: as destinadas a jovens leitores sobre o prisma que assim podem descobrir as obras originais de forma mais chamativa; as vocacionadas para leitores de BD, pela forma como esta forma narrativa se apossa dos romances originais; as outras, destinadas a todos em geral e a ninguém em particular (cuja explanação poderia dar pano para mangas - não é esse o meu objectivo agora).
Entre nós, curiosamente - ou talvez não - a maior parte destas adaptações de obras literárias em banda desenhada, têm surgido no catálogo de editoras geralmente pouco viradas para a BD.
Naturalmente, pode dizer-se - contrariando o 'curiosamente' escrito acima - porque, para além de tentarem seguir uma tendência (supostamente lucrativa) muitas vezes já possuem no seu catálogo as obras originais, acreditando que desta forma elas também ganham outra visibilidade.
Neste particular, a Relógio D'Água tinha sido até agora especialmente feliz nas suas escolhas, já que a par do magnífico 1984, disponibilizara igualmente versões interessantes de Fahrenheit 451 e de Mataram a Cotovia.
O mesmo não se pode dizer agora, desta versão de O Grande Gatsby assinada por Fred Fordham e Aya Morton, por duas ordens de razões. A primeira - na enunciação, não seguindo nenhuma ordenação especial - é o grafismo aplicado à obra: demasiado estático, forçado nos rostos demasiado semelhantes e sem expressão, plano e desprovido de volumes, pouco pormenorizado, faz com que se perca em boa parte um dos elementos fulcrais do romance original de F. Scott Fitzgerald: a imponência do sonho americano nos anos 1920 - em oposição à podridão moral da aristocracia e aos excessos de uma juventude sem ambições nem princípios, retratado através das vidas fúteis e decadentes de Nick, Gatsby, Daisy, Jordan, Tom...
Por outro lado, esta adaptação depende demasiado dos textos de Fordham, várias vezes excessivos por demasiado descritivos, impossibilitando que o desenho assuma por inteiro uma verdadeira componente narrativa.
O
Grande Gatsby
Fred
Fordham (argumento)
Aya
Morton (desenho)
Relógio
D'Água
Portugal,
Março de 2022
155
x 231 mm, 216 p., cor, capa cartão com badanas
17,50
€
(imagens disponibilizadas pela Relógio D'Água; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para os aproveitar em toda a sua extensão)
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