Memória do património
Temática usada em Portugal e noutros países ocidentais
durante décadas para contornar as limitações que a censura impunha, a biografia
aos quadradinhos continua a ter cultores como o veterano José Ruy, autor de “Leonardo Coimbra e os Livros Infinitos” (Âncora), na qual provoca o encontro entre duas
“versões” do biografado, o homem maduro e o jovem de 14 anos, que vão
conversando e percorrendo os diversos locais onde viveu uma das figuras mais
proeminentes do movimento da Renascença Portuguesa.
Menos conhecido é o fotógrafo brasileiro Maurício Hora, natural
da favela do Morro da Providência, no Rio de Janeiro, onde ainda hoje habita
por opção, cujas dificuldades de vida inerentes ao meio são traçadas em “Morro da Favela” (Polvo) do também brasileiro André Diniz.
Nos Estados Unidos, os quadradinhos biográficos dedicados a personalidades
e celebridades das mais diversas áreas encontraram um nicho de mercado que a
Bluewater Productions tem explorado a fundo. O actor Lou Ferrigno, o escritor
George R.R. Martin, o basebolista Jackie Robinson ou os One Direction são
alguns dos nomes que recentemente integraram um já vasto catálogo onde também
se encontram biografias de Barack Obama,
dos príncipes William e Kate, de Michael Jackson ou de Angelina Jolie, esta
última desenhada pelo português Nuno Nobre.
Editada pela revista satírica “Charlie Hebdo”, conhecida
pelas muitas polémicas que tem provocado e cuja sede chegou a ser alvo de um
atentado bombista, desencadeou uma tempestade mediática quando foi editado o
primeiro volume, mas a obra revelou-se fiel à versão histórica, fruto de um
profundo trabalho de pesquisa por parte de Zineb e Charb, que entre outras
bases utilizaram os textos sagrados do Corão “para ilustrar o percurso de um
homem, Maomé, tal e qual é descrito nas próprias fontes islâmicas”.
A finalizar, a título de curiosidade fica uma referência a
três biografias intimamente ligadas ao género narrativo que as suporta: “Maurício
de Sousa: biografia em quadrinhos”, assinada pelo respectivo estúdio, mas que
assume alguns contornos autobiográficos, “Osamu Tezuka – Biographie”, obra
póstuma sobre o criador de Astroboy, e “A Saga do Tio Patinhas”, editada em
Portugal pela Edimpresa, na qual Don Rosa recriou cronologicamente o percurso
do pato mais rico do mundo a partir dos muitos episódios escritos e desenhados
por Carl Barks, o seu criador.