A primeira vez que Danilo Beyruth me chamou a atenção foi aquando
do lançamento de Bando de Dois, uma
história de cangaceiros– que é como quem diz um western brasileiro – muito bem
recebido pela crítica e que curiosamente continuo sem ler…; depois, surgiu Magnetar, a magnífica recriação que fez
do Astronauta de Maurício de Sousa. Agora, com São Jorge, Beyruth confirma-se como um dos autores brasileiros que
convém seguir com atenção.
A minha leitura desta obra, já a seguir.
Se a variedade temática é um dos pontos que ressalta das
obras que criou até agora – e onde falta referir também Necronauta - essa evidência vem acompanhada de uma outra: o
à-vontade como ele evolui em qualquer das áreas que até agora abordou – e que
distintas elas são!
Depois do cangaço, do fantástico e da ficção científica, há
agora um salto no tempo até aos primeiros séculos da era cristã, em plena
desagregação do império romano a partir do seu interior, para recontar, numa
equilibrada e conseguida combinação de realidade, lenda e ficção, a história de
Jorge, o tribuno romano que a tradição católica transformou em santo.
A narrativa pausada, com clara definição temporal, cujos
vários cenários e intervenientes se vão estruturando e justificando a razão de existirem,
permite que vamos conhecendo as diversas personagens, à medida que os combates
e as intrigas palacianas se vão desenvolvendo, a par do crescimento da ameaça
protagonizada pelo (suposto?) dragão que congrega sobre si a atenção de todos
como fio condutor, principal mas longe de ser único.
Se o desenho revela uma sólida pesquisa, evidenciada pelo
cuidado posto na reconstituição de vestes e armaduras, a economia feita nos
fundos e o tom demasiado cinzento – há cenas que pediam um preto bem vincado e
cinzentos mais nítidos, outras cores como as que Chris Peter fez em Magnetar;
todas ganhariam com um formato maior – reduzem o impacto de algumas cenas.
Mas,
por outro lado, permitem que o leitor se concentre na acção e na forma conseguida
como Danilo Beyruth conduz as suas personagens e orquestra as cenas, em
especial as batalhas e os combates de marcada violência e também como equilibra
a acção e a aventura com as convicções do protagonista e o confronto – não
assumido? – entre o poder politeísta romano instituído e a crescente fé cristã.
São Jorge
Volume I: Soldado do Império
Danilo Beyruth
Panini
Brasil, Maio de 2014
160 x 210mm, 120 p, pb, brochado
R$ 19,90 / 7,50 €
Nota final: O preço em euros parece antever uma futura distribuição em Portugal, o que é uma boa notícia.
Se fosse pelo preço n revistas dc vinham para aqui e não se ve.
ResponderEliminarTambém tens razão, Optimus, mas suponho que nesta caso específico - como aconteceu com o Daytripper - vamos mesmo vê-lo à venda em Portugal dentro de alguns meses.
EliminarBoas leituras!