Apenas segundo álbum da série, E a montanha cantará para ti parece marcar já o fim de um ciclo na
vida do protagonista.
Ao mesmo tempo que nos oferece o primeiro de vários belos
títulos da série.
Primeiro ‘som’ de uma banda desenhada, um livro, um filme…,
o seu título pode assumir várias nuances: resumir a história, contar o seu fim,
despertar a curiosidade ou, como no caso presente, de alguma forma reunir todas
as anteriores num inegável tom poético.
Se na literatura portuguesa António Lobo Antunes é um dos ‘criadores
de títulos’ que mais aprecio, Cosey, em Jonathan,
em especial na primeira meia dúzia de volumes (quase todos) revela-se
igualmente muito inspirado.
E a montanha cantará
para ti é um belo exemplo pois, embora enigmático, desperta suficientemente
a curiosidade do leitor e está também – sem que ele o saiba – a resumir (o tom
de) um episódio que acentua o fascínio de Cosey pela cultura e pelas crenças
tibetanas, reforça a sua fé no ser humano e no valor da amizade desinteressada
e nos mostra como os pequenos grandes gestos, sendo muitas vezes guiados por percepções,
suposições ou intuições ou provocados pelo acaso, o destino - ou o que lhe
quiserem chamar… - podem fazer toda a diferença. No caso de Jonathan,
reencontrar a sua paz interior, enterrar os fantasmas do passado e prepará-lo para
partir para o desafio seguinte.
E a montanha cantará
para ti tem, igualmente, outro aspecto importante, a tomada de posição – e de
partido – por parte de Cosey em relação à questão político/militar que opunha a
China e o Tibete – ou talvez fosse mais justo escrever ‘em que a China oprimia,
esmagava o Tibete’, embora pudesse soar a uma escolha de campo da minha parte, a
par de Jonathan e do seu criador…
Graficamente, as melhorias sentidas ao longo do primeiro
álbum acentuam-se, mas ainda a caminho do traço mais seguro e realista que hoje
(re)conhecemos a Cosey, embora a opção pelos ‘floreados orientais’ que
enquadram as pranchas – e que, felizmente, não se repetiram - seja no mínimo questionável,
para lá de, de alguma forma, parecerem confinar e limitar os cenários em que a
acção decorre, nomeadamente quando tem lugar nas montanhas geladas dos
Himalaias que poderiam beneficiar em termos de grandiosidade – mesmo que só nos
olhos (e na mente) do leitor – das margens brancas do papel…
E a montanha cantará para ti
Colecção Jonathan #2
Cosey
ASA/Público
Portugal, 4 de Maio de 2016
220 x 290 mm, 48 p., cor, brochada com badanas
5,50 €
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
Parabéns pelo excelente trabalho!!
ResponderEliminarAbraço
Obrigado, Pedro.
EliminarBoas leituras!