O desenhador francês Siné faleceu ontem, aos 87 anos, no
Hospital Bichat, em Paris, na sequência de uma intervenção cirúrgica.
Nascido Maurice Sinet, na capital francesa, a 31 de Dezembro
de 1928, formou na adolescência a sua posição crítica em relação ao Estado, à
justiça e à polícia, uma das marcas distintivas da sua produção humorística, devido
à revolta que sentiu por o pai ter sido condenado a trabalhos
forçados.
Depois de tentar a sua sorte como cantor de cabaret e
cumprir o serviço militar (passado na maior parte na prisão), no início da
década de 1950 publicou os seus primeiros desenhos, vindo depois a tornar-se colaborador
do L’Express como desenhador
político, mas a sua posição anticolonialista durante a Guerra da Argélia,
valeu-lhe alguns problemas com os leitores e a publicação, que chegou a pedir
desculpar na primeira página por um dos seus desenhos.
Em 1962 deixou o L’Express,
em 1962, para fundar o seu próprio jornal, Siné
Massacre, que duraria dois anos, onde se afirmou como desenhador anarquista
e de extrema-esquerda e deu largas às suas posições contra o colonialismo, o
sionismo, o capitalismo e o clero.
Com o Maio de 1968 como pano de fundo, lançou L’Enragé, cujos desenhadores,
posteriormente, se juntaram ao Hara-Kiri,
que em 1970 deu origem ao Charlie Hebdo,
de que Siné se tornou um baluarte a partir de 1974.
Quando soube da Revolução do 25 de Abril em Portugal, deixou
tudo e veio ao nosso país para a acompanhar, tendo-a ilustrado em diversos
trabalhos publicados em jornais portugueses, com destaque para o Sempre Fixe. O
livro CIA, escrito por Jean-Jacques
Pauvert e ilustrado por Siné, foi lançado nesse ano pela Mondar Editores e
é o seu único título lançado em Portugal.
Em Julho de 2008, um artigo que escreveu no Charlie Hebdo sobre o filho do
presidente Sarkozy, foi considerado anti-semita e Siné foi despedido, embora
mais tarde o tribunal lhe tenha dado razão. Logo em Setembro desse mesmo ano
regressava às bancas, como responsável pelo Siné
Hebdo, que se viria a transformar em Siné
Mensuel e cujo número mais recente, o #53, foi publicado na passada quarta-feira.
Nele, o desenhador francês afirmava que nos últimos tempos
só pensava na sua “próxima desaparição, mesmo iminente” e que sentia à sua
volta “a morte a rodar sem cessar como um porco farejador de trufas”. E continuava:
“É horrível estar obcecado com a morte que se aproxima, com as futuras exéquias
e com a tristeza dos que me são próximos”, mas também se lembrava de “todos os cretinos
que vão esfregar as mãos”, sentindo-se irritado “por morrer antes deles!”
Seguindo o seu desejo, o Siné
Mensuel – que enfrentava graves problemas financeiros - continuará a ser
publicado, mas agora sem o humor de um desenhador corrosivo e polémico que passou
por quase todos os grandes títulos da imprensa francesa e marcou o último meio
século do humorismo gráfico.
(versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de
Notícias de 6 de Maio de 2016; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a
sua extensão)
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