05/05/2016

Par perfeito



Concretizar sonhos serve para nos tornar felizes ou, pelo contrário, esvazia-nos pois é ‘o sonho que comanda a vida…’?
Ou, aplicando a ideia a Par perfeito, unir o Super-Homem e a Mulher Maravilha finalmente como casal (perfeito?) satisfaz os fãs que (pensavam que) o queriam - como bem explana Filipe Faria na introdução – mas esvazia a narrativa do que a tornava tão forte - a tensão sexual latente entre os dois - ou deixa-os a salivar pelo (super-)passo seguinte, a concretização carnal da união - umas quantas vezes prometida nesta centena e meia de pranchas…?

Independentemente disso – e o ponto central de Par perfeito é, sem dúvida, a concretização do super-casal DC, e a forma como a sua (des)estruturação vai avançando - esta é uma história escorreita, sem surpresas de vulto, para além daquela maior, baseada na forma como tentam (ou não…) encaixar-se na sua nova realidade e no combate (a dois…?) de ameaças provenientes dos respectivos universos e passados a solo, aqui e ali com um grau de violência visualmente acima do que nas histórias de super-heróis é vulgar.
Graficamente, se Tony Daniel denota algumas dificuldades com a anatomia humana, em especial com a constância e expressividade dos rostos, acaba por o compensar com uma planificação que usa e abusa das pranchas duplas, de belo efeito visual e, pontualmente, também capazes de detalhar pormenores da acção contra o fundo expandido, e pelas longas sequências (quase) puramente visuais impregnadas de grande dinamismo.
No final, terminada a leitura, sobram duas ideias fortes.
A primeira, tem a ver com o absurdo que (geralmente) constituem estes recontos e recomeços dos universos de super-heróis onde, para além de pedirem aos leitores para esquecerem, pura e simplesmente, muito do que até aí era uma evidência inegável – como o facto de durante décadas o Super-Homeem e Lois Lane terem sido o… par perfeito – aplicam aos protagonistas lavagens cerebrais semelhantes mas selectivas – porque razão o Super-Homem recorda o Apocalipse mas desconhece quem é Zod?
A segunda, mais importante talvez no contexto desta análise, é a certeza que fica de que o ‘par perfeito’ tem os dias contados e afinal de contas aquilo que parecia evidente – que dois dos mais poderosos seres à face da Terra estavam (desde sempre?) condenados a ficarem juntos – têm mais a separá-los do que a uni-los. Para além de aspectos fulcrais nas suas idiossincrasias – o Super-Homem preza a vida acima de tudo, Diana relativiza-a em função das circunstâncias; ele quer a todo o custo ser (parecer?) igual aos humanos que o acolheram (daí a sua identidade secreta), ela, como deusa e ser superior, pouco mais do que os suporta… - é na forma como vivem a nova relação – ele, receoso e inseguro e priorizando-a sempre a seguir ao salvamento de vidas, ela de forma apaixonada e com uma entrega total mesmo quando isso vai contra a sua forma de ser e de estar – que ao longo das páginas adivinhamos que a ruptura, não sendo para já – os fãs têm direito a um momento de felicidade… - chegará mais cedo do que seria espectável…

Super-Homem e Mulher Maravilha: Par perfeito
Colecção DC #14
Inclui Superman/Wonder Woman #1-7 (Vol 1)
Charles Soule (argumento) e Tony Daniel (desenho)
Levoir / Público
Portugal, 5 de Maio de 2016
175 x 265 mm, 176 p., cor, capa dura
9,90 €

1 comentário:

  1. Como seria uma sessão de sexo entre estes dois? Será que o SH cosegue ter uma 'erecção de aço'? Seria uma sequência quase infidável de 'Rapidinhas'? Questões..questões...

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