É português, chama-se Nuno Plati e descobrimo-lo como desenhador nos super-heróis da Marvel. No início de Janeiro deste ano, fez a sua estreia no mercado franco-belga em Métanöide, que serviu de pretexto para a conversa por mail que se segue.
As
Leituras do Pedro: Depois de publicares na Marvel, agora fazes a tua
estreia no mercado franco-belga. Onde te sentes mais à vontade?
Nuno
Plati: Honestamente
não sei onde me sinto mais à vontade, por um lado trabalhei vários
anos com a Marvel e neste preciso momento estou a desenhar umas
páginas para um livro dos Avengers em parceria com a IDW, mas a
verdade é que já não me dá tanto gozo desenhar os meus heróis de
infância e prefiro outro tipo de temática, apesar de ter de elogiar
o quão profissional é a máquina da Marvel em termos logísticos.
O
franco-belga também era um sonho de criança, e sinto-me muito bem
nesse meio, sinto-me mais livre, e apesar de ser um mundo mais
exigente, se tiver essa oportunidade era por aí que gostaria de
ficar nos próximos tempos. Claro que o ideal é ter a possibilidade
de trabalhar nos dois mundos, não necessariamente na Marvel e nos
supers, mas no mercado independente Americano e no Europeu.
As
Leituras do Pedro: Quais as principais diferenças entre as
respectivas formas de trabalhar?
Nuno
Plati: Da
minha experiência, a principal diferença são os prazos, porque no
geral no mercado Americano, os prazos são curtos, o que implica uma
linha de montagem muito mais rápida, e que não deixa espaço para
refinar determinados aspectos. Mas a base é a mesma, tens um editor
e a coisa desenrola-se seguindo a mesma lógica “hierárquica”.
É
sempre bom ter mais tempo, que é o que acontece no mercado europeu,
mas por outro lado o desafio das deadlines mais apertadas do mercado
americano é algo que até acho estimulante.
As
Leituras do Pedro: Como surgiu esta hipótese de parceria com o David
Boriau e de publicação na Glénat?
Nuno
Plati: O
David era amigo do Ricardo Tércio, meu eterno companheiro de
aventuras que nos deixou em Outubro passado, e com ele desenvolveu
vários pitches.
Ele
viu o meu trabalho, gostou e começamos a desenvolver ideias para
possíveis histórias e, após um longo período em que andámos para
trás e para a frente com estas mesmas ideias com várias editoras
francesas,
o projecto Métanöide
agradou à Glénat e avançou.
As
Leituras do Pedro: De que forma trabalharam? Recebeste o argumento de
uma única vez? A planificação foi tua? Pudeste introduzir
alterações na história? …?
Nuno
Plati: Foi
um processo um pouco diferente, mas muito interessante. O David
basicamente fez um storyboard
com os diálogos, que eu adaptei à minha maneira. Fomos sempre
falando e discutindo o processo, ou seja a história foi mudando
ligeiramente à medida que foi sendo feita. Por vezes achámos que
algum personagem devia ser mais desenvolvido, e introduzíamos uma
nova sequência com esse fim.
Eu
tive sempre liberdade para dar o meu input,
e em termos de layout
e storytelling
a liberdade era total, desde que não fugisse completamente à ideia
que se queria passar. Gostei muito de trabalhar com o David e
considero-o um amigo.
As
Leituras do Pedro: O desenho que utilizaste é bastante diferente do
que utilizaste na Marvel e apresenta alguma influência manga. Porque
esta escolha gráfica?
Nuno
Plati: Quem
conheça o meu trabalho, sabe que me consigo mover em vários
registos, sempre o fiz, e vem do meu background
em ilustração, animação e por aí fora.
O
meu desejo era poder trabalhar num estilo muito mais solto e
“animado”, e como a história puxava para um ambiente sci-fi, com
um toque anime/manga foi por aí que fui e sinto-me bastante à
vontade nesse registo.
As
Leituras do Pedro: O preto e branco (e cinzento) foi escolha vossa ou
da editora? E porquê esta opção?
Nuno
Plati: Inicialmente
a ideia era termos o início dos capítulos a cores, e o resto a
preto, branco e cinzento, como num manga, mas depois acabou por ficar
sem as cores.
O
formato original do livro era outro, era para ser um pouco menor,
entre o formato álbum europeu e comic, e era também o início de
uma nova chancela na Glénat apontada a um público adolescente, e
como tal escolheu-se este look.
As
Leituras do Pedro: Quanto tempo demoraste a fazer este livro?
Nuno
Plati: Em
termos concretos, devo ter demorado uns 6 meses, mais ou menos, mas
na realidade foi quase um ano.
Passo
a explicar, um mês ou dois após ter começado a fazer o livro, o
meu agente e amigo Joe Prado, da agência Chiaroscuro, arranjou-me a
mini série Orphan
Age para a
Aftershock comics, nos Estados Unidos, e eu acabei por estar a fazer
dois livros ao mesmo tempo em registos diferentes, o que foi muito
muito desgastante.
Isto
aconteceu durante algum tempo, mas como o Orphan
Age ainda
não tinha data de saída, negociei acabar primeiro o Métanöide,
e só depois dar continuidade à mini-série.
Isso
fez com que o processo levasse quase um ano, e ironicamente acabei a
fazer 2 páginas por dia durante 2 meses para acabar o Métanöide.
Nuno
Plati: É
um livro para todos os públicos, uma aventura com um toque sci-fi,
meio anos 80, despretensiosa, divertida, dramática, com um foco na
relação entre dois irmãos e nas escolhas que estes terão de fazer
mediante às circunstâncias extraordinárias em que se encontram.
As
Leituras do Pedro: Em que estás a trabalhar agora?
Nuno
Plati: Neste
momento estou a dar uma ajuda no livro da Marvel/Idw Marvel
Action Avengers,
em que desenho algumas páginas dos números #10,
#11
e #12,
e em paralelo tenho 3 ou 4 hipóteses na mesa, para o mercado
americano
e europeu,
mas que neste momento ainda não passam disso mesmo.
Se
quiserem ver o meu trabalho sigam-me no meu Instagram.
Excelente entrevista!
ResponderEliminarObrigado.
ResponderEliminarBoas leituras!