Através dos tempos
Uma boa ideia base nem sempre garante uma boa banda desenhada. Desta vez, à originalidade do princípio correspondeu um desenvolvimento sólido e o resultado é uma boa leitura pontuada pela acção e a aventura
Andy, Nicky, Joe, Boker e Nile têm uma característica invulgar em comum: são imortais. Ou quase. Porque, podendo morrer, renascem imediatamente. Ou quase, mais exactamente até um dia em que não. Daí a minutos, dias, séculos, ninguém sabe.
E sendo a questão da sua imortalidade um dos tais aspectos distintivos, a sua paradoxal falência a qualquer momento, traz uma nota de insegurança e dúvida para alguns momentos da narrativa - e para a mente do leitor.
Contando, consoante os casos, entre diversos milhares ou umas poucas dezenas de anos, ao longo dos tempos têm-se unido. Alguns desaparecem, outros surgem. Como e/ou porquê ninguém sabe, mas o quinteto actual tem usado essa capacidade para desenvolver missões que ajudam a melhorar o mundo.
É o que parece ir acontecer mais uma vez, quando são contactado para salvar algumas meninas raptadas por uma facção de guerra de um país africano.
Inevitavelmente, nem tudo é o que parece e vão-se ver a braços com alguém que deseja a todo o custo descobrir o segredo da sua longevidade.
Se esta é essencialmente uma narrativa de acção e aventura, com um qb de suspense, a verdade é que também levanta algumas das questões importantes que a quase imortalidade implica: a perda dos entes (mortais) tornados queridos ao longo dos tempos; a saturação daquela vivência (quase) eterna; um misto de receio e desejo de que a morte (finalmente) chegue.
Bem escrita, de forma incisiva e assertiva, sem excessos textuais, focando-se apenas no fundamental, e assente num desenho igualmente contido, não virtuoso mas muito eficaz, A Velha Guarda - neste primeiro volume, tal como no segundo, aliás - revela-se um relato dinâmico que cativa o leitor e o transporta ao longo de uma hora e tal de boa leitura, despreocupada e que diverte.
Tendo sido utilizado - a espaços quase linearmente - como storyboard do filme da Netflix - que tem diferenças e desvios relevantes, no pormenor que não na essência, revelando, assim uma grande fidelidade a este original aos quadradinhos - A Velha Guarda #1 Abrir Fogo, disponível a partir de hoje nos quiosques nacionais, apresenta um punhado de momentos marcantes, muito bem conseguidos devido à dualidade morte/consequências - ou mais exactamente pela ausência destas últimas - o que torna possíveis ou especialmente angustiantes algumas das cenas.
A Velha Guarda - Livro Um: Abrir fogo
Greg Rucka (argumento)
Leandro Fernández (desenho)
G. Floy
Portugal, 11 de Novembro de 2020
180 x 280 mm, 184 p., cor, capa dura
18,00 €
(imagens disponibilizadas pela G. Floy; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Eu gostei, já tinha lido no original, o Rucka e o Fernández sabem da poda.
ResponderEliminarO problema é que o conceito já está muito gasto, via histórias de vampiros e outros imortais e claro, aquilo que nunca consegui tirar da cabeça enquanto lia o comic: a série e os filmes Highlander onde era debatida a perda de entes queridos regularmente.
Ainda recentemente no primeiro arco do Goddamned foi apresentado algo do género via o protagonista Caim, condenado a andar sobre a terra século após século como castigo e obrigado a presenciar a morte e destruição daquilo que conhece até ao ponto de se tornar insensível.
O Old Guard é uma boa adição a este género de mitos mas sabe um pouco a requentado.
Também vi a adaptação do filme que é mázinha pois cortaram muitos dos elementos históricos e isto é importante para percebermos a mentalidade e o desgaste dos personagens, presumo que neste caso tenha a ver com budgets.
ResponderEliminarMuito "Eduardo Risso", o que não me chateia nada, antes pelo contrário,gostei bastante....
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