Três, de uma vez
Por vezes as leituras não motivam grandes reflexões, mas há pequenos apontamentos de leitura - ou não - que ficam pendentes, mas podiam influenciar decisões.
Hoje, deixo três notas curtas, referentes a tantas outras edições, para tentar obviar aquela questão.
Le Scorpion #13: Tamose, L'égyptien
Stephen Desberg (argumento)
Luigi Critone (desenho)
Dargaud
França, 13 de Novembro de 2020
225 x 298 mm, 48 p., cor, capa dura
12,00 €
O Escorpião está de regresso - em França... - com as mesmas temáticas apaixonantes - que tanto podem pôr em causa as bases do catolicismo como questionar a existência e a obra de um faraó - mas também com o mesmo ritmo exasperadamente lento no desenvolvimento do enredo a que Desberg nos habituou.
Saltitando entre Cracóvia, Constantinopla e o Egipto, em busca de Méjaï e do (seu) filho que eventualmente nasceu, Armando Catalano, o protagonista, vai ver-se a braços com mais um mistério de contornos arqueológicos, mesmo que no final do tomo, o leitor fique com a sensação de que (quase) nada aconteceu... Mais uma vez.
No entanto, a principal nota deste novo ciclo iniciado com este Tamose, L'égyptien, é a mudança de desenhador. Se alguns apontam a Luigi Critone como principais méritos o rigor clássico na reconstrução arquitectónica e o magnífico colorido, Marini vai deixar muitas saudades pelo dinamismo do seu traço e a sensualidade das suas mulheres...
Assassination Classroom #16
Yusei Matsui
Devir
Portugal , Junho de 2020
127 x 180 mm, 196 p., pb, capa cartão
9,99 €
Existem duas leituras possíveis para Assassination Classroom.
A primeira passa por aceitar a sua original ideia base: um estranho ser, com espantosos poderes, surge no Japão após ter pulverizado grande parte da Lua e, qual bomba-relógio ambulante, explodirá no prazo de um ano destruindo o planeta. Aceite como professor de uma turma de alunos marginalizados numa das principais escolas nipónicas, ao mesmo tempo que os ensina, vai desafiá-los para o assassinarem e salvarem a Terra. Acção, humor e muitas surpresas pontuam o relato estimulante e desafiador.
A segunda - que deve ser (apenas) complementar daquela - passa por ver no Korosensei, a personagem em questão, o exemplo do que um bom professor deve ser: alguém inteiramente dedicado aos seus alunos, capaz de chegar até eles e de os compreender, de dar e fazer tudo por eles, vendo em cada um não um tormento ou um número estatístico, mas um ser humano com imenso potencial. Deste ponto de vista, Assassination Classroom - por muito que não possa parecer - é uma emocionante ode à tarefa de ensinar.
...e quando a história parecia começar a ser demasiado esticada, surge este 16.º volume que desvenda a origem do Korosensei e as razões para ser o que é - e como é - agora.
A viagem mais longa
João Ramalho Santos (argumento)
Miguel Jorge (desenho)
Ciência Viva
Portugal, Outubro 2020
190 x 285 mm, 48 p., cor, capa cartão
Sem distribuição comercial
Numa altura em que se multiplicam as colecções didácticas - A Sabedoria dos Mitos, Eles Fizeram História, Clássicos da Literatura em BD... - caracterizadas por reunirem num mesmo volume uma BD e um dossier que aprofunda o tema, merece destaque esta edição da Ciência Viva, que se baseia nos mesmos pressupostos.
A esta edição, falta o entorno profissional de que a BD desfruta nos países francófonos, o que garante à partida um outro profissionalismo, seja na disponibilidade dos autores para se consagrarem às obras, seja na promoção e até na distribuição (comercial) da obra o que, no caso presente, infelizmente não acontece.
O que atrás fica escrito - e o que dessa escrita se possa inferir, não coloca em causa o empenho e o trabalho dos dois autores nacionais, embora se pedisse um relato um pouco mais solto, menos descritivo no texto e mais dinâmico no traço. Curiosa - e conseguida - é a adopção do formato 'diálogo' no dossier final, que assim ganha em leveza e facilidade de leitura, sem que a abordagem seja menos exigente ou informativa.
(imagens disponibilizada pelas editoras; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
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