Num tempo em que impera o doentio e enjoativo politicamente correcto,
em que cada piada, por mais inocente que seja, é logo atropelada por
um sem número de desculpas e justificações, admira como Les
Schtroumpfs Noirs tem conseguido passar quase incólume pelos
grossos pingos de chuva das acusações (gratuitas) de racismo.
Vamos começar por um resumo esclarecedor: após ser mordido por uma
mosca, um dos Schtroumpfs torna-se negro. E selvagem, desprovido de
linguagem e mau - ! - e desata a morder os outros - no rabo! -
transmitindo assim a sua doença (\o/!) e espalhando uma negra
epidemia...
Se uma leitura básica e limitada - tão em voga nos nossos dias -
verá aqui uma clara apologia do racismo, nem sempre o que parece, é.
Datada originalmente de 1963, se para alguns, esta história era uma
crítica velada ao nazismo e ao fascismo italiano que tinham varrido
a Europa anos antes, muito possivelmente foi apenas uma forma - a
primeira... - de Peyo mostrar as possíveis consequências funestas -
no caso a destruição da harmoniosa sociedade shtroumpf - das
divisões profundas que afectam as sociedades.
Há poucos anos, nos Estados Unidos, a história viu a luz
rebaptizada (e repintada) como The Purple Smurf - logo roxo!? A
sério?! - sem problemas de maior, mas mentes inquietas. que pensam
velar por nós. poderiam facilmente ver nela um ataque a..., o mesmo podendo acontecer - consoante as diversas interpretações saloias - se estes Schtroumpfs tivessem sido
imaginados por Peyo cor-de-rosa, vermelhos, amarelos...
Para quem - e acredito que serão muitos - tem conseguido, ao longo
de décadas, aproximar-se dos simpáticos anõezinhos - mesmo quando
travestidos de preto - sem preconceitos, terá oportunidade de ler
(mais) uma história dinâmica e muito divertida, mas não isenta de
crítica mordaz para com as sociedades de há meio século como - com
maioria de razão? - para as dos nossos dias.
Escrevi no início que 'admira' como esta história tem escapado -
com ligeiras excepçõres - a críticas relacionadas com uma eventual
postura racista do seu autor. Ao contrário, por exemplo, do que tem
acontecido recorrentemente com Tintin no Congo. Acho, no
entanto, que não haverá surpresa nisto, apenas a diferença de
notoriedade e mediatismo dos respectivos protagonistas, sendo sem
dúvida Tintin mais apetecível que os Schtroumpfs para quem se tem
posto em bicos de pés à sua custa, em busca de 15 minutos de fama
(bacoca)...
Os Schtrumpfs negros
Seguido de O ladrão de Schtrumpfs e O Schtrumpf
voador
Peyo
União Gráfica
Portugal, 1967
190 x 280 mm, 64., cor, capa mole
(imagens da edição original
francófona; clicar nelas para as aproveitar em toda a extensão)
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