Milo
Manara tornou-se conhecido como autor de banda desenhada erótica,
mas reduzir a sua carreira e a sua obra apenas a isso, é ignorar o
melhor do seu legado.
Manara
já tinha dado mostras da sua versatilidade nas (soberbas)
colaborações com Hugo Pratt - Verão Índio, El Gaúcho
- ou Alejandro Jodorowsky - Bórgia - mas, em ambos os casos,
muitos davam mais mérito aos dois argumentistas de renome com quem
trabalhara, do que ao artista italiano, mas agora, já depois dos 70
anos de idade, volta a demonstrá-lo - desta vez como autor tanto da
escrita quanto do desenho - deste díptico, dedicado ao pintor
Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610), integralmente editado
em português pela Arte de Autor poucas semanas após a edição
original francófona.
Em
dois volumes, Manara, como que retribuindo a um dos artistas a quem
reconhece inspiração e influência, traça um retrato vivo e
palpitante de um homem inquieto e instável, dividido entre o dom que
fez dele um dos maiores pintores de sempre - pelos enquadramentos
ousados e com um quê de cinematográfico, pelos jogos de luz e
sombra patentes na sua obra, pela invulgar capacidade de
retratista... - e o seu carácter impulsivo e belicoso, que lhe
provocaram inúmeros dissabores, como este segundo volume bem vinca.
Biografia
fiel à História oficial conhecida, mas suficientemente romanceada
para se tornar apelativa aos leitores, assente no traço realista e
magnífico de Milo Manara, que parece não sentir a passagem do
tempo, e em que mais uma vez - inevitavelmente... - brilha a perícia
no desenho do corpo humano, embora aqui a par de um radioso desenho
arquitectónico e da magnífica reconstrução de época. Depois de O
Pincel e a Espada ter narrado os seus primeiros anos e a
chegada a Roma onde o seu talento o tornou admirado e reconhecido, O
Indulto - num título que (só) aparentemente encerra uma
contradição... - após essa ascensão artística, narra a sua queda
perante as perseguições dos poderes instituídos e dos inimigos que
sempre foi granjeando, apesar dos mecenatos e dos muitos apoios de
gente de todas as classes sociais, em consequência da forma
impulsiva como sempre provocou os poderes religiosos e políticos,
levando-nos a acompanhá-lo num percurso descendente até ao seu
final, trágico, exilado e solitário, ignorando a redenção que
tinha ao alcance da mão.
Caravaggio
- Segunda parte:
O Indulto
Milo
Manara
Arte
de Autor
Portugal,
Fevereiro de 2019
320
x 240 mm, 56 p., cor, cartonado
19,00€
(imagens disponibilizadas pela
editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a extensão; versão
revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 19
de Fevereiro de 2019)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMy blog,see,thank you!
ResponderEliminarÓh Sr. Pedro andam aqui espiões russos!!
ResponderEliminarÉ mais a CIA disfarçada às ordens do Trump.
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