Confirmação
A
leitura deste tríptico em modo ‘integral’ - que é como quem
escreve, dos três volumes de seguida, sem interrupções de qualquer
ordem - confirma as indicações que o primeiro volume tinha deixado.
Para
o mal e para o bem. Embora com este a prevalecer.
E essa prevalência, sublinhada pelas entusiásticas reacções a esta edição ASA/Público que surgiram aqui, no blog, e nas redes sociais, é igualmente a que fica da minha leitura pessoal, embora tivesse gostado de encontrar algo mais neste O Grão-Duque.
Posso até começar por aqui. Como já tinha referido, o desenho de Hugault, revela-se demasiado ‘bonito’ e ‘escorreito’ para uma temática que pedia um traço mais sujo e agreste.
Por isso - ou para isso? - adivinho alguma contenção em Yann - longe do escritor provocatório de outras obras - na abordagem de alguns episódios - tortura, violações, feridos e mortos - geralmente só referidos, mas (quase) sem qualquer expressão visual. Não o refiro por uma doentia necessidade de ‘voyeur’, mas porque seriam perfeitamente lógicos e enquadrados numa temática - a II Guerra Mundial, nos seus estertores na frente russa - que de belo e ligeiro não teve nada.
Isto apenas tem a ver com as minhas expectativas e não invalida um bom trabalho do argumentista. Por um lado, pelo desenrolar da acção nos dois lados do conflito, o russo e o alemão. Depois, pela forma equilibrada como caracteriza uns e outros, sem estereotipar heróis e vilões, mas humanizando os protagonistas de um e outro lado, mesmo que isso signifique encontrar de ambos os lados da contenda, seguidores cegos das respectivas ideologias e quem perante elas se recuse curvar.
E, para além disso, de forma mais subtil, mostre estalinistas e nazis - mais acertadamente, seres humanos em ambos os campos, a aproveitarem a guerra em proveito próprio - a vários níveis, sem isentar ninguém - mesmo que para isso tenham de recorrer a truques baixos, traições pontuais ou ao próprio corpo.
Acima de tudo, Yann consegue manter uma isenção assinalável, mesmo em relação aos protagonistas que deverão conquistar os leitores, fugindo sempre à solução fácil ou à opção que aos nosso olhos parecia mais evidente. Isto proporciona que as surpresas - ou pelo menos os desvios ao facilitismo - se vão multiplicando, num evidente ganho para quem lê.
Mesmo o final - tão feliz quanto possível num contexto que se quer realista - deixa muitas dúvidas… [E com facilidade, com um só pormenor, Yann tê-lo-ia tornado bem melhor, elevando a obra para um outro nível...]
Finalmente, se questionei de alguma forma o desempenho de Hugaul linhas acima, é ele que brilha a grande altura, expondo mais uma vez a sua especialidade: o desenho aeronáutico, com os aviões a surgirem como os verdadeiros protagonistas, estejam em simples descanso ou manutenção nos solos gelados, ou a evoluir graciosa ou furiosamente nos céus, nos combates impiedosos e sem quartel que cobrem grande parte das páginas e parecem ter lugar - realmente - perante os nossos olhos.
Termino com um aplauso para a decisão de editar esta obra em três semanas seguidas - mesmo que o aproximar do final do ano também o propiciasse - porque a leitura ritmada num curto espaço de tempo (15 dias…) - ou de uma só vez, como eu a fiz - são a forma ideal de desfrutar d’O Grão-Duque em pleno.
Como escrevi acima, foi a aproximação possível ao conceito de ‘integral’, no contexto de edição regular com jornal, que, ao nível de livrarias, tem sido posto em prática em Portugal - e muito bem - por outras editoras.
O
Grão-Duque #1 As feiticeiras da noite
O
Grão-Duque #2 Camarada Lilya
O
Grão-Duque #3 Wulf & Lilya
Yann
(argumento)
Romain
Hugault (desenho e cor)
ASA/Público
Portugal,
9, 16 e 23
de Novembro de 2022
240
x 320 mm,
48
p.,
cor,
capa dura
10,90
€ (cada)
(capas disponibilizadas pela parceria ASA/Público; pranchas da edição original francesa disponibilizadas pela editora Paquet; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)
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