28/12/2022

Mônica: 1970

Reconhecimento


Nome incontornável dos quadrinhos brasileiros e mundiais, Maurício de Sousa, para além do reconhecimento popular de décadas, tem tido, muito justamente, o reconhecimento daqueles que gostam, divulgam e defendem outro tipo de banda desenhada.
A Biblioteca Maurício de Sousa, inaugurada com o volume Mônica: 1970, é mais um (belo) exemplo disso.

O - extenso e pesado - volume em causa, reúne nas suas mais de 500 páginas, os oito números iniciais da revista homónima - a primeira com as personagens criadas por Maurício - publicados exactamente durante o ano de 1970.

Percebendo as razões da opção - e o impacto consequente que lhe está associado - enquanto leitor e (pouco) coleccionador - com tudo o que tem de subjectivo - teria preferido um livro mais próximo da dimensão original da revista - até porque o desenho não precisa de maior dimensão para ser apreciado nem ganha (ainda) mais legibilidade. Para além disso, penso que teria ganho se a opção tivesse recaído em papel baço e não brilhante e até com um tom que imitasse de alguma forma o do papel original, tornando mais próxima a evocação das publicações da época.

Mas reconheço que são questões de gosto, que não colocam em questão de forma alguma a edição que, para além da óbvia recuperação de edições antigas, (re)apresentadas a novas gerações, se apresenta com um enorme valor nostálgico, com a (re)descoberta de histórias há muito lidas e relidas.

Nesta primeiro ano da Mônica, ressalta uma maior ‘convivência’ entre os integrantes das (futuras) ‘turmas’ criadas por Maurício e também a descoberta dos melhores caminhos para a definição das personagens, do tom narrativo e de algumas soluções gráficas, constituindo assim um excelente meio para compreender as opções que o grande criador brasileiro foi tomando e que todos hoje (re)conhecemos.

Com alguns apontamentos ao longo do livro, justificando ou explicando opções e situações da época à luz dos tempos actuais, o volume encerra com uma série de extras que enriquecem sobremaneira a edição, embora algumas das imagens incluídas devessem ter maior dimensão.


Nota final

Aparentemente não tenho noção - pensava ter mais… - de como está hoje em dia o Brasil. Mas entristeceu-me imenso que, em nome do maldito politicamente correcto que cada vez mais nos (tenta) tiraniza(r), uma edição como esta, que reúne histórias que marcaram gerações de leitores, de um e outro lado do Atlântico, que eu e milhões de leitores desfrutámos com 5, 6, 7… anos - e que para alguns foram efectivamente as primeiras leituras… - traga agora na contracapa o seguinte aviso: “Aconselhável para maiores de 14 anos”...

Triste sinal dos tempos, que Maurício de Sousa, autor para todas as idades e todas as épocas, não merece.


Mônica: 1970

Biblioteca Maurício de Sousa, volume 1

Reúne Mônica #1-#8 (1970)
Maurício de Sousa

Panini Comics

Brasil, Abril de 2022

190 x 275 mm, 512 p., cor, capa dura
R$ 
149,90

(imagens disponibilizadas pela Panini Comics; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. Não consigo concordar com o que escreveste, porque o Maurício de Souza merece uma vez que a MSP é uma das maiores defensoras do politicamente correcto no Brasil.

    Esse livro é responsabilidade a 100% da editora do Maurício que se auto-censurou ao longo da sua carreira, deixando a sua vertente de empresário ir sempre à frente da versão de autor.

    Os leitores brasileiros acham esses textos vermelhos redundantes, mas a editora nunca os retira. A MSP até à pouco continuava com a política tiranica de não creditar os autores verdadeiros das histórias.

    Portanto, a MSP como empresa puxou para si muito do politicamente correcto por opção.

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