05/06/2017

Nimona

Surpresa






Cheguei à leitura de Nimona quase sem expectativas.
Para além de algumas pranchas que não me tinham propriamente seduzido, pouco mais sabia desta obra de Noelle Stevenson.
Fechado o livro, confesso a leitura agradável.
Sabia que Nimona tinha começado como webcomic cujo sucesso justificou a passagem a livro; que este título independente tinha recebido diversos prémios nos EUA; que tinha sido uma obra disputada por três editoras portuguesas, neste activo e estimulante mercado de BD que hoje temos.
A ideia de se tratar de um relato de ‘capa e espada’ (mais coisa menos coisa), confirmou-se, embora com doses generosas de fantástico e de ciência (!) e um inesperado humor que foi o primeiro aspecto a seduzir-me.
A protagonista, que dá título ao livro, é uma adolescente que num belo dia surge no esconderijo do vilão de serviço, Lorde Ballister Coração Negro, com o propósito de o ajudar a lançar o caos no reino e de derrotar o herói da ordem, Sir Ambrosius Virilha Dourada, para assumir o poder.
Os nomes dos protagonistas levantam um pouco a ponta do véu para o registo inicial da obra, em que o tal humor - inteligente - que já referi, alimenta uma sátira e uma desconstrução do género que lhe serve de base, com trocadilhos, situações surpreendentemente resolvidas, uma inesperada postura ética do vilão e comentários mordazes que transmitem a Nimona uma assinalável frescura e estendem o seu público-alvo potencial para lá da faixa juvenil a que aparentemente se dirigiria.
[O texto que se segue, poderá ter alguns spoilers… cuidado!]
Depois, a trama começa a adensar-se. A aplicação das definições de herói e vilão não se revela tão simples como inicialmente parecia, no passado de Ballister e Ambrosius há situações mal resolvidas que os colocaram nos campos opostos onde estão hoje, a detentora do poder no reino está longe de ser tão ingénua como aparentava, Nimona começa a revelar estranhos poderes que lhe permitem transformar-se instantaneamente no ser que deseja e o seu propósito começa a divergir das intenções do vilão a quem dizia querer ajudar.
Se estas inflexões numa narrativa que no arranque parecia linear - e cuja construção parece revelar que não havia à partida uma ideia completamente definida para a sua progressão, tendo algumas personagens aos poucos crescido e assumido posturas que até a autora poderão ter surpreendido - tornam a história mais apetecível, mais profunda e consistente e lhe conferem um tom mais épico, em contraciclo, aos poucos vão-na despojando do seu primeiro trunfo: o humor.
No conjunto, o livro - cuja escrita me agarrou e obrigou a uma leitura contínua até o finalizar - mesmo que uma e outra vez não tenha correspondido ao que eu esperava e fui esperando - o que só abona a favor da autora - divertiu-me, surpreendeu-me e revelou-se uma agradável proposta que traz a Saída de Emergência para um mercado que - com propostas como Nimona - se revela cada vez mais aberto e diversificado.

Nimona
Noelle Stevenson
Saída de Emergência
Portugal, Junho de 2017
160 x 230 mm, 272 p., cor, capa mole com badanas
ISBN: 9789897730559
18,80 €


(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar e  toda a sua extensão)

2 comentários:

  1. "tinha sido uma obra disputada por três editoras portuguesas, neste activo e estimulante mercado de BD que hoje temos." ja é o 2 livro que acontece isso.

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  2. Anónimo5/7/17 22:17

    Muito engraçado! Gostei bastante da força das personagens e da junção do medieval com o contemporaneo.

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