Do outro lado do
mundo
Anterior a Pyongyang,
já editado pela Devir, Shenzhen, no
mesmo registo autobiográfico documental, narra três meses da vida do autor
naquela cidade chinesa, onde trabalhou como director de um estúdio de animação
que produzia uma série - Papirus -
para uma televisão francesa.
Sem surpresa, o livro assume o tom de um verdadeiro diário
gráfico, centrado em três meses de quase completa solidão num universo cultural
e civilizacional completamente diferente.
Quase completamente isolado pela barreira língua, Delisle
vai descrevendo o seu quotidiano repetitivo e assinalando as curiosidades e
diferenças da civilização chinesa. Fá-lo com um humor ligeiro e terno, um tom
muitas vezes quase neutro e um desprendimento que se pode primeiro surpreender,
possivelmente funciona como forma de auto-preservação para o exercício delicado
que uma experiência deste género inevitavelmente pode constituir.
A principal diferença, em relação ao livro posterior, é o
traço menos depurado, menos solto, mais sujo, embora com a mesma legibilidade e
capacidade narrativa que, mais que centrado no autor, embora seja
inquestionável o seu carácter autobiográfico, nos apresenta um retrato de uma
realidade, distante e surpreendente, mostrando que aquilo que para nós -
ocidentais… - é dado como adquirido, noutras civilizações pode ser um anseio
legítimo, um luxo ou algo pura e simplesmente utópico.
Shenzhen
Gui Delisle
Devir
Portugal, Maio de 2017
180 x 210 mm, 152 p., pb, capa dura
ISBN: 978-989-559-380-4
EAN: 9789895593804
21,99 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a sua extensão)
Embora o tema me atraia (diferença de culturas), o desenho não me atrai e considero que 17 anos na vida de um país, (nomeadamente, na China, com uma evolução vertiginosa), é uma diferença temporal muito grande entre a criação do livro e a sua edição em Portugal, pelo que dispensei a sua aquisição.
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