19/09/2018

Novembro

Indefenição

Oxalá pudéssemos viver eternamente em certos momentos da nossa vida…
mas os instantes são efémeros, por definição.”
In Novembro

A única certeza da vida é que na vida não há certezas. E cada vez menos, com a precariedade do emprego, a saída tardia de casa dos pais para uma vida própria, o isolamento provocado pelas redes sociais, a imaturidade que cada vez desaparece mais tarde.
Novembro, é sobre isto e, acima de tudo, sobre relações, a forma de as encarar, a forma de as viver. Que às vezes são coisas diferentes.
Novembro, é a história de Gus. Mas também de Clara, de Mario, de Lucia… Jovens à procura de si mesmos, de rumo(s), com dificuldade nas escolhas - ou não - presos a sonhos imberbes (eles), firmes nas opções, mesmo que pouco convencionais (elas). Jovens que se cruzam, partilham, convivem, desfrutam, se afastam.
O protagonista está fechado num mundo próprio, à parte. Tem dificuldade em relacionar-se, tem dificuldade em manter relações. Vive mais para si do que para os outros, raramente decide, deixa que as coisas se decidam. O encontro com Clara parece poder mudar tudo mas, citando Oscar Wilde, como fez Cabot, ‘Ter ou não um final feliz depende de onde decidas terminar a história.’
Por isso, talvez, a história de Novembro não termina. ‘Começa mal’, atrever-se-iam alguns a dizer, complementando que ‘acaba bem’. Visão errada, sem dúvida, porque a narrativa de Cabot, explanada com um traço fino, semi-caricatural, funcional antes do mais, servido por aguarelas de tons sóbrios, avança e recua. Vive de momentos específicos, bons ou maus, relatados sem cronologia rígida, não destaca uns mais do que outros, deixa-nos escolher o registo - optimista ou pessimista - que mais nos agrada. No momento em que lemos.
Porque é, possivelmente, afinal, apenas um registo realista, um retrato vivo de uma realidade actual, cuja melhor melhor forma de descrever seja conseguida com apenas uma palavra: ‘indefinição’.

Novembro
Sebastià Cabot
Levoir
Portugal, 22 de Agosto
220 mm x 300 mm, 192 p., cor, capa dura
10,90 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda sua extensão)

8 comentários:

  1. Essa indefinição (palavra muito correcta para defenir o livro) fez com que não lhe achasse muita piada.

    Creio que foi bem editado numa coleção de "jornal", que permitiu a sua edição e aquisição e leitura por mim. Mas se fosse editado individualmente, não me parece que fosse compra minha.

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    1. O termo 'indefinição' aplicava-se tanto ao livro como à situação real da geração retratada.
      Em relação ao livro, a questão é que não existe um princípio ou um fim, só nos são contados - para o bem e para o mal - uma sucessão de momentos... O que fazemos com eles, como os aproveitamos ou não, a forma de os interpretarmos irá valorizá-lo aos nossos olhos.
      Boas leituras!

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  2. Pedro,
    este livro é um exemplo muito bom da estrutura narrativa do Miniplot.

    Se temos três tipos de estruturas mais faladas na estruturação de histórias:
    - 3 actos
    - Miniplot
    - Antiplot

    Se o Novembro é um excelente Miniplot (por vezes é o Slice of life), os três actos é a estrutura de quase tudo o que é super-heróis e o anti-plot, uma coisa com a Garagem hermética, por exemplo.

    Eu gostei muito do Novembro, mas no entanto achei que faltava qualquer coisa. Penso que o problema é que uma história desde tipo é como partir um bolo em que há fatias que podem ser melhores que outras. A fatia que o autor tirou era óptima, mas se calhar não era a melhor.

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  3. Fernando, como escrevi acima, o livro é uma sucessão de momentos, de fatias, se quiseres. Umas melhores, outras piores, também em função da nossa situação e da nossa experiência, até da disposição no 'momento em que lemos', como diz no meu texto.
    O problema é que, geralmente, o leitor comum gosta de histórias com princípio, meio e fim, não de ser deixado 'à deriva'...
    Boas leituras!

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    1. Sendo de referir também, que é o "leitor comum" que compra o livros.
      E se não achou piada ao primeiro que leu desse autor, provavelmente ficará (eu fiquei) "de pé atrás" em relação à compra de outros livros do mesmo...

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  4. Devido a este comentário/opinião (https://24.sapo.pt/opiniao/artigos/esquadrinhar-quadrinhos)
    comprei e li o referido livro...

    Na verdade, quando o acabei de ler, lembrei-me deste post do Pedro e da seu titulo: "Indefenição" (e devido a isso, comento aqui)

    Porque foi na verdade como fiquei ao terminar a leitura do Sabrina.
    Indefenido.

    Não sei se gostei ou nem por isso.
    Não sei se percebei o que o autor pretendeu transmitir, ou nem por isso.
    Não sei se o livro merece estar a lista do "Man Booker Prize" ou nem por isso...

    Mas acho que devia ser uma obra lida por muitos dos que varrem essa internet fora a vociferar facilmente sobre tudo e sobre todos, sem terem o minímo de noção do mal que isso faz exactamente a esses todos ou individualmente sobre alguns.
    E faz pensar sobre a facilidade que é actualmente de saber quase tudo sobre quase qualquer pessoa

    É o tipo de obra que me faz (cada vez mais), assinar os meus posts com o pseudónimo "pco69"

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    Respostas
    1. Pela resposta do MECO, percebo que o inicio do meu comentário pode induzir em erro.
      A obra a que me refiro, é naturalmente SABRINA de Nick Drnaso.
      Como ele muito bem indicou :-)

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  5. Por momentos pensei que estavas a falar do Novembro e, apesar de não ter lido o livro, li o resumo e não estava a perceber o teu comentário :-).
    Depois fui ler o artigo e é sobre Sabrina de Nick Drnaso.

    Há umas semanas tinha referido este título como "sugestão" para uma futura Colecções Novelas Gráficas, no seguimento da notícia da nomeação para o Man Booker Prize. Já estive mesmo para comprar mas hoje em dia já temos a (boa) dúvida sobre se havemos de comprar em Inglês ou aguardar uns tempos porque pode sair em PT. Ficou em standby mas irei comprar mais tarde ou mais cedo.

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