Compilação
das narrativas curtas escritas e desenhadas por Miguel Montenegro nos
últimos dois anos, Futuroscópio prima pela coerência. E
pelo futuro negro que traça da vida na Terra.
Passadas num futuro que se teme mais próximo do que distante, este conjunto de bandas desenhadas com (mais ou menos) meia dúzia de pranchas mostra uma sociedade que, em muitos casos, evoluiu tecnologicamente, mas nas quais valores que hoje consideramos - consideramos, quem, ainda? - fundamentais foram abandonados em benefício das modas, da normalização, do igualitarismo e dos (falsos) consensos ou dos consensos forçados.
Passadas num futuro que se teme mais próximo do que distante, este conjunto de bandas desenhadas com (mais ou menos) meia dúzia de pranchas mostra uma sociedade que, em muitos casos, evoluiu tecnologicamente, mas nas quais valores que hoje consideramos - consideramos, quem, ainda? - fundamentais foram abandonados em benefício das modas, da normalização, do igualitarismo e dos (falsos) consensos ou dos consensos forçados.
Se
em Futuroscópio, também por isso, há algo do 1984
,de Orwell, por exemplo, a verdade é que na sua base está a
formação em Psiquiatria e Psicologia de Miguel Montenegro que
aplica os seus conhecimentos teóricos na prática que domina a(s)
sociedade(s) do futuro que imaginou.
Sociedade(s)
transformada(s) num imenso rebanho, sem vontade própria, sem
auto-estima e sem auto-determinação, em que as ‘ovelhas negras’
que surgem, movidas pela vontade de libertação, pelo desejo da
diferença ou da mudança são recondicionadas, silenciadas ou, pura
e simplesmente, abatidas.
Criadas
ao longo de dois anos, para publicações diversas, com destaque para
a revista Bang!, se há algo que une estas histórias é a sua
coerência gráfica e, principalmente, a sua coerência temática,
que as transforma em capítulos, consecutivos ou paralelos, de uma
antecipação da história (da Humanidade), possível e, por isso,
mais assustadora. Até porque, na verdade, não deixa de ser um
desenvolvimento lógico de muitos dos sucessivos sinais que os nossos
dias, crescentemente, vão transmitindo.
Com
um traço seguro, realista, expressivo e enérgico e uma disposição
das vinhetas nas páginas que diversifica a leitura e a torna mais
dinâmica, evocando mesmo, aqui e ali, os princípios de Montenegro
na Marvel, o autor consegue atenuar alguns excessos (necessários) de
textos de contextualização e criar uma obra, para ler em doses
moderadas, cujas questões continuam a soar na mente do leitor mesmo
após o fecho da edição - simpática mas que merecia uma capa (pelo
menos) um pouco mais consistente.
Futuroscópio
Miguel
Montenegro
Arcádia
Portugal,
Setembro de 2018
170
x 260 mm, 72 p., cor, capa mole
15,00
€
(imagens
disponibilizadas pelo autor; clicar nelas para as aproveitar em toda
a sua extensão)
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