20/09/2018

100 Balas: Primeiro disparo, última rodada

À prova de bala

100 Balas é um daqueles títulos emblemáticos da produção contemporânea (deixem-me escrever assim) norte-americana em quadradinhos.
Assenta num princípio simples: o protagonista de cada arco - foram diversos ao longos dos 100 comics que a série contou - recebe uma pistola não rastreável e uma mala com 100 balas, e a garantia de total imunidade, que pode utilizar para se vingar de alguém ou fazer justiça pelas suas próprias mãos.
A motivação acaba por ser, por isso, (relativamente) recorrente mas as situações, as razões intrínsecas, as próprias personagens centrais (embora algumas surjam mais do que uma vez) acabam por conferir à série uma diversidade e uma capacidade de renovação que transforma cada volume numa oportunidade de descoberta. Desejo agravado - no bom sentido! - pela vontade de saber quem é na verdade o agente Graves - o responsável pela entrega da pistola e das 100 balas - e o que o move, embora seja de frisar que cada volume pode ser lido de forma isolada e autónoma.
Para além disso, o pressuposto que serve de base a 100 Balas levanta questões éticas, morais, de justiça, de decisão do que é correcto ou não, que prevalecem para lá da leitura.
Com 100 Balas, Azzarello criou uma série de cariz policial, ritmada, forte, dura, surpreendente, muito bem desenhada pelo traço duro de Risso, que marcou aqueles que a leram aquando da publicação regular e que certamente marcará os que a lerem hoje.
Neste primeiro volume, a história principal decorre num bairro problemático e começa com a chegada a casa de Dizzy - que voltaremos a encontrar na série - após cumprir pena de prisão. Pelo caminho é abordada pelo agente Graves, que lhe diz que foi tramada por dois polícias corruptos, responsáveis pelo tiroteio que causou a morte do marido e do filho, bem como de algumas outras pessoas.
História violenta de gangs rivais, de conquista do poder a todo o custo e de corrupção policial, Primeiro disparo, última rodada, decorre num tom duro de confronto e sucessivas surpresas, mostrando que nesta ficção, como na vida, nem tudo é fácil, nem tudo é o que parece, nem sempre a primeira impressão prevalece.
Quanto à segunda narrativa do volume, curta de uma vintena de pranchas, é um exemplo de como o mesmo modelo base - a pistola, 100 balas, um alvo - pode ter uma abordagem completamente diferente e demonstra todo o seu potencial.
Neste caso centra-se num homem bem-sucedido que perdeu o trabalho, a família, quase a razão de existir, quando foi encontrada pornografia infantil no seu computador. A descoberta da responsável leva-o na demanda esperada, mas o desenlace está longe do que ele - e os leitores - esperariam.

100 Balas: Primeiro disparo, última rodada
Colecção Vertigo 25
Brian Azzarello (argumento)
Eduardo Risso (desenho)
Levoir
Portugal, 1 de Setembro de 2018
170 x 257 mm, 128 p., cor, capa dura
13,90 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda sua extensão)

25 comentários:

  1. Uma questão Pedro.
    O álbum diz número1, quer isso dizer que nesta coleção da Vertigo, irá haver um número 2?

    Cumprimentos

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    1. Nesta colecção dedicada aos 25 anos da Vertigo, não haverá mais livros para além dos 8 já anunciados: estes 5, o WE3 e o Xerife da Babilónia.
      Se estas edições venderem o que a Levoir deseja, haverá possivelmente mais 100 Balas e/ou Preacher e/ou Hellblazer.
      Boas leituras!

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  2. Pelo que tenho lido, a resposta haitual do Pedro costuma ser "se o mercado comprar o primeiro volume, outros se seguirão".

    Até ao momento, a Levoir não falhou na edição de BD, mas também (tanto quanto saiba), esta aparenta vir a ser a primera edição de BD (pelo menos, os três volumes remanescentes) independente de coleções com jornais.

    Numa opinião meramente pessoal, diria que os editores esperam vir a editar mais volumes das várias séries que deram a conhecer nesta coleção. E devido a isso, assumiram os tais "numero 1" nalguns dos referidos volumes.
    Se serão edições "avulso" ou em conjunto com jornmais (leia-se Público)... "your guess is as good as mine!"...

    Eu comprei todos estes 5 e ei de comprar os remanescentes três. Se posteriormente forem editados outros, logo pondero a sua aquisição (ou não) de acordo com a minha reação à leitura destes primeiros

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    1. Uma nota ) Não pretendo de maneira nenhuma sobrepor-me ao Pedro Cleto ao ter feito um comentário onde refiro o seu nome. Muito menos no seu blog.

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    2. Sem problema, pco69.
      Agradeço a antecipação; nem sempre me é possível dar logo as respostas...
      Boas leituras!

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  3. Quando temos estas séries, não costuma ser problema porque se compilarem o mesmo que as versões inglesas, no pior caso terminamos de ler em inglês. Infelizmente neste caso, a versões americano do Y, 100 Bullets e Preacher já não sáo iguais a estas.
    Isso é que é chato.

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  4. Com a conclusão do Y no proximo ano espero que esta serie e o preacher venham a ser um foco da editora para terminar.
    Já quanto ao Constantine gostava de continuar e nem importava se primeiro terminassem o run do azzarello (+3 volumes) e depois seguissem ou para a fase do delano ou do ennis.
    De qualquer uma das formas se até 2020 tivessemos estas series completas teriamos integralmente publicado 4 das melhores series da vertigo em pt-pt com sandman , y o ultimo homem , preacher e 100 balas o que para a nossa realidade realmente é algo fantastico!

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  5. Podem chamar-me de filisteu mas na Levoir já deviam disponibilizar edições electrónicas destas edições, na G-Floy e a Salvat idem.

    O papel não dura para sempre e as prateleiras também não são intermináveis.

    Que dizer das edições que acompanham jornais? hoje em dia mal se compram jornais, é tudo online.

    Não digo que uma devia substituir a outra mas já devia haver esta possibilidade.

    Também é útil para aqueles que com a idade já não vêm tão bem como antes e poderão assim aumentar as vinhetas para ler e apreciar melhor a arte.

    É assim tão descabido? Estamos no século 21.

    O factor ecológico também pesa.

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    1. Já ouviste falar em pirataria?

      Se lês em "bife" ou em "avec", tens essas edições todas à disposição digitalmente. Sejam compradas ou simplesmente descarregadas de forma não legal.

      Os mercados FrancoBelga e USA, possivelmente tem capacidade de absorver/aguentar a perdas que resultam da digitalização das obras. O mercado português...
      Acho que nem vale a pena desenvolver mais...

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    2. Pois, por isso mesmo é que deviam haver edições e-book encriptadas, as editoras fazem isso, a Marvel faz isso, vai à Amazon, ao Wook que encontras versões electrónicas para muitas obras.

      E não se pode ter edições em português ou é demasiado à frente?

      É errado pensar que edições electrónicas são todas pirataria, nem estou a falar de digitalização de papel mas sim de edições e-book de melhor qualidade feitas a partir de masters.

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    3. Boas, aqui vão algumas respostas.

      Não existe qualquer impedimento técnico a que isso se faça, o impedimento é de natureza legal. Normalmente, os contratos que assinamos para ter o direito de editar os livros estrangeiros que editamos na G.Floy não contemplam autorização para fazermos edições electrónicas. Teríamos de pagar adiantamentos adicionais para acrescentar essa edição ao nosso contrato, e os royalties são normalmente muito altos (muito mais que sobre o preço de capa de um livro físico).

      Há editoras que pura e simplesmente não contemplam sequer essa possibilidade. É o caso da Marvel, que inclusive se reserva o direito de ficar com as nossas traduções e legendagens e editarem eles em e-book (mediante um pagamento único, que é pequeno).

      Todas as experiências que eu conheço nesta área em Portugal têm sido decepcionantes, ou limitadas a best-sellers, ou de vendas remanescentes, ou limitadas a nichos específicos, como o livro técnico. É também verdade que quebrar as restrições de DRM é relativamente fácil, e que uma vez que um livro esteja disponível em versão electrónica é fácil de piratear.

      A minha opinião pessoal é de que as poucas vendas que iríamos ter dos nossos livros não compensariam o enorme risco acrescido de pirataria e de cópias ilegais a circular (que já representa, juntamente com a versão em papel em inglês dos livros que editamos) a nossa principal concorrência; e provavelmente não compensariam o custo acrescido de comprar os direitos de o fazer.

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    4. Agradeço o esclarecimento.

      O papel é frágil, nem sempre acompanha os sobressaltos que uma vida dá.

      Várias vezes tive de comprar uma mesma edição, porque se estragou, estragaram, humidades, perdas por diversas razões, até mesmo vendas ou trocas por razões financeiras e que mais tarde me arrependi, teria sido bom adquirir a edição digital neste caso, mais barata e onde podemos guardar em sítios seguros e consultar onde quer que estejamos.

      Quem sabe um dia.

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  6. Só espero nunca ver o dia em que o “e-book” substitua o livro impresso. Para mim nada substitui o objecto livro, o prazer de folhear, de ter o livro na mão. É uma experiência completamente diferente de ler num ecrã. Para mim é o mesmo que ver um Guernica no computador ou no museu. Se o vir no telemóvel posso dizer que já vi o quadro mas será que realmente o “vi”?

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    1. Esse comentário é falacioso, comparar arte que só vemos em museus com aquela em que conseguimos deitar as mãos.

      Guernica? já a viu ao vivo e a cores? se não fossem as reproduções e fotos que existem um pouco por todo o lado quase ninguém saberia o que é, reservada apenas a alguma elite obscura e negociantes de arte.

      Também prefiro o papel mas temos de ser realistas.

      Posso ler uma BD num computador ou no tablet no mesmo formato em que estava originalmente, não precisa de ser no telemóvel.

      A Guernica já foi mais vista num monitor de computador do que ao vivo desde que foi criado.

      É errado agarrarmo-nos apenas ao papel, não tem futuro e não preciso de uma bola de cristal para adivinhar que o seu uso será proibido um dia, mas eu digo que isso não é impeditivo de deixar de haver produção da 9ª arte.

      De qualquer forma, hoje em dia, muita da BD que vemos é criada etratada em computador, alguns daqui talvez nem percebam pois existem tratamentos gráficos que imitam os traços e pinceladas feitos com lápis e caneta.

      É preciso ter uma certa idade e andar a ler desde os anos 70 para perceber aquilo que estou a dizer.

      Sou capaz de estar a ficar preciosista mas hoje em dia, arranhões ou rugas no papel, manchas, aquele hábito merdoso de atar os volumes de capa dura com cordas que amolgam as capas, tudo isso me estraga o prazer da leitura, a Guernica nesses preparos também não ficaria muito atraente.

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    2. Para mim, o Ebook já substituiu o livro impresso à uns 4 ou 5 anos. Deixei de encher as prateleiras (com excepção das BD que continuo -e cada vez mais- a comprar) e ando com mais de 400 livros no bolso sempre disponíveis para ler em qualquer lugar e quase em qualquer circunstãncia...

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  7. Os ebooks são o futuro para as próximas gerações. Nunca agora. Já existem há mais de 10/15 anos e simplesmente não pegou. Quando os miudos de hoje chegarem a adultos talvez compense. Eu tento e simplesmente não consigo ler no ipad. Fica tudo demasiado disperso e não me consigo concentrar. E olhe que sou super digital, excepto nisto...

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    1. Não confundir ebooks com edição de BD em digital. Não é a mesma coisa.

      Tenho um kindle e à 4 ou 5 anos que quase só leio no kindle.
      Transporto comigo (no bolso) para todo o lado mais de 400 livros. Paro 5 minutos à espera de qq coisa, saco do aparelho e leio mais um bocado. Acabo um e começo de imediato outro sem ter que esperar chegar a casa.

      E leitura em EbookReader NÃO É A MESMA COISA QUE LER EM COMPUTADOR OU TABLET...

      As BD em formato digital, são normalmente em CBR (é simplesmente ZIP com uma extensão diferente) e não são legiveis em EbookReader. Só em PC/Tablet. Que é uma coisa totalmente diferente.

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Obrigado pelas opiniões mas penso que não me expliquei bem. O meu comentário foi em resposta à ideia do Pedro Santos de substituir livros impressos por livros em formato digital. Eu não disse que era contra livros e ler em formato digital (eu próprio o faço todos os dias). O que disse foi que eu, pessoalmente, prefiro sem dúvidas ou reservas o livro impresso, comprado e na prateleira a um ficheiro no meu computador e que espero que o digital nunca substitua o livro físico. Quando leio algo novo em formato digital e que goste bastante acabo sempre por comprar o livro. E não é só por “colecionismo” é mesmo porque,tal como disse, a experiência de leitura é diferente. O ter o livro na mão, folhear, a concentração, o ritmo de leitura, para mim é sempre diferente e melhor. Mas esta é mesmo só a minha opinião e nada mais. Mas hoje em dia por vezes até parece que temos de pedir desculpa por ter uma opinião diferente do outro... abraço a quem gosta de bd, seja em que formato for.

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    1. Quando queremos que a nossa opinião prevaleça lemos sempre a dos outros na diagonal.

      Eu não escrevi que também prefiro ler no papel?

      O que estou a dizer é que o futuro é digital e temos de nos preparar para isso, isso e os carros eléctricos, não há volta a dar.

      Ambos os media podem coexistir.

      Qual é a alternativa? acabar com a BD porque o papel deixa de ser usado? isso é impensável e há que evoluir.

      Não digo agora, talvez daqui a 10 anos, 15.

      O papel higiénico lá terá de se manter, parece que ainda não há substituto. :)

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    2. Os smart phones e os tablets já fazem muito mas ainda não limpam o rabo.

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    3. Oh Pedro, tem razão, fui eu que li mal. Obrigado e desculpe lá qualquer coisinha.

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    4. Ora ora, não tenho qualquer atrito consigo.

      Aqui não há insultos.

      Foi salutar, um dia até talvez se organizem jantares das "Leituras do Pedro" para debater melhor as coisas da vida e a BD :) quando às vezes um assunto nos apaixona é fácil passar por agressivo.

      Cuidado com as térmitas e as baratas, ás vezes organizam-se entre si para nos comerem as prateleiras e os livros todos.


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  10. Paulo Pereira23/9/18 14:46

    E depois de lidas todas as opiniões, o que a "malta" como eu na casa dos cinquenta e uns pozinhos gosta é de muita e boa bd. E nos ultimos anos isto tem sido uma barrigada de bd que ja engordei as minhas prateleiras como nunca. Viva a nona arte e boas continuações.

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    1. Amen Paulo. Eu estou 10 casas mais abaixo mas já vou na minha terceira estante, leio todos os dias e só desejo que venha mais, de preferência impresso, em bom papel, capa dura que a BD, como forma de arte que é, bem merece

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