12/09/2018

Maurício de Sousa: “Não estou habituado ao fracasso”



É um grande senhor da BD mundial, tem 83 anos, uma energia surpreendente e contagiante e uma obra que fala por si, reconhecida internacionalmente e que atravessa gerações.
A Comic Con Portugal, de que foi este ano o grande cabeça de cartaz, em cinco edições nunca tinha vista filas para autógrafos de um autor de BD como as que Maurício de Sousa originou nesta edição de 2018, nem nunca tinha visto um auditório a abarrotar como aquele que o acolheu com uma imensa salva de palmas quando entrou.

As Leituras do Pedro: O que sentiu quando entrou no auditório?
Maurício de Sousa: Carinho. Um carinho que surge devido às personagens que criei, que são como se fossem meus filhos. E que devido a essa carinho não estou sozinho. Não estar sozinho é a maior das maravilhas.

As Leituras do Pedro: Alguma vez sonhou chegar onde está hoje?
Maurício de Sousa: Sonhar, nunca sonhei, mas planeei tudo. Quando planeamos, não sabemos se vai dar certo, se vai resultar. No meu caso, muitos dos projectos avançaram e materializaram-se. Mas há alguns, poucos, que não deram certo.

As Leituras do Pedro: Esses ficaram esquecidos ou estão à espera de outra oportunidade?
Maurício de Sousa: Não estão esquecidos, ficaram a pesar-me no pensamento, foram fracassos. E eu não estou habituado ao fracasso. Foram projectos que não se enquadraram nas expectativas ou tiveram algum erro de cálculo quanto ao seu contexto.

As Leituras do Pedro: Quais foram os fracassos que lamenta mais.
Maurício de Sousa: Os Beatles infantis foi um deles. Foram recusados por 3 votos a favor e 1 voto contra, de uma representante de um dos músicos. Nunca soube quem foi.
Mas o fracasso que me custou mais foi o Dieguito, a versão desenhada de Maradona. Desenvolvi uma série de personagens para o acompanharem e enquadrarem, concebi uma campanha para o lançamento a nível mundial do Dieguito, mas não pude avançar devido ao comportamento que Maradona tinha na época, que o impedia de ser um exemplo para os pequenos leitores a quem o Dieguito se destinava. Era para ter sido o meu novo Pelezinho.

As Leituras do Pedro: O que é a Turma da Mônica hoje?
Maurício de Sousa: Uma marca. Não no sentido comercial, mas como uma bandeira colocada num território que se conquistou. É uma marca que irradia arte, mensagens, exemplos de comportamento, entretenimento e cultura.

As Leituras do Pedro: O que vem a seguir?
Maurício de Sousa: Está em gestação uma terceira via da Turma da Mônica, a Turma da Mônica Adulta, para finalmente termos uma turma de e para cada faixa etária.
A partir de 2019 serão lançados diversos filmes, com as diversas turmas, em animação ou não, para a Internet. A produção já começou e terão circulação a nível mundial, sem fronteiras de público.
A par disso há uma grande aposta no lançamento de revistas e produtos derivados no México e no Japão. Neste último caso a aposta é grande por isso criei a Maurício de Sousa Produções Japan.

As Leituras do Pedro: O que é que ainda lhe falta fazer?
Maurício de Sousa: Só vou saber amanhã (risos). Às vezes, de uma conversa, um passeio, uma palestra, surge uma nova ideia.

(um obrigado especial aqueles que tornaram possível esta entrevista; clicar nas fotografias para as aproveitar em toda a sua extensão)

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