E de
repente - que é como quem diz, perante um livro com quase 120
pranchas! - Joana Afonso resolve deixar os relatos de tom mais
intimista - que muitos acreditariam ser a sua zona de conforto - para
nos brindar com uma história de espada e feitiçaria.
Mas
já lá vamos, arranco com dois ‘senãos’, para que o encerrar
deste texto com eles não faça prevalecer na memória do leitor uma
imagem negativa. O primeiro é a capa, pouco apelativa;
justificava-se uma cena com mais acção que já introduzisse o
leitor no seu conteúdo. O segundo, é para lamentar que a bela
edição da Polvo, num formato simpático, consistente, (muito bem)
em capa dura, não tenha tido mais meia dúzia de páginas com
extras…
Mas
adiante. Com pré-lançamento na Comic Con 2018, onde rapidamente
esgotou a meia centena de exemplares disponíveis, Zahna é a
história de uma jovem guerreira que se debate com uma estranha
maldição: uma chama que paira sobre a sua cabeça e que aumenta
consoante o seu nível de exaltação. Conhecedora da sua origem, ela
parte para tentar encontrar uma solução para o problema que a
afecta e a distingue por onde quer que passe.
Narrativa
de matriz clássica, no que à sua construção dentro do género diz
respeito, bem desenvolvida, a um ritmo moderado que permite apreciar
a arte (já re)conhecida de Joana Afonso em novas roupagens, a
história baseia-se na busca por uma solução que se revela ser
também uma viagem iniciática a diversos níveis, e que permitirá
aos leitores - e a ela própria - ir descobrindo a protagonista e ir
percebendo o que originou a sua ‘maldição’, bem como alguns
pormenores que se irão tornando relevantes. Assistiremos igualmente
a encontros com diferentes personagens, que aportam um olhar
diferente sobre a situação e que a ajudarão Zahna a ponderar a
dimensão do seu problema e a aproximar-se - ou não… - de uma
eventual solução. Que, como acontece tantas vezes, está mais no
seu interior do que nos poderes extraordinários ou nas soluções
apresentadas pelos outros, mesmo que pelo meio haja lugar para
algumas surpresas e traições - que na verdade são também (más)
surpresas...
Dotado
de uma planificação multifacetada, com alguns efeitos visualmente
bem conseguidos que contribuem para o seu dinamismo, como seria de
esperar num relato de espada e feitiçaria, nele deparamos com alguns
seres fantásticos, combates aguerridos, alguma magia - para além da
que a leitura em si proporciona - reencontros marcantes e… bem, as
tais particularidades a que aludi no início, que não vou revelar,
mas que se podem causar alguma estranheza no tipo de história,
conferem a Zahna uma leveza e um tom especial - surpreendente
e divertido…
Zahna
Joana
Afonso
Polvo
Portugal,
Setembro de 2018
175
x 245 mm, 120 p., cor, capa mole
16,00
€
(imagens
disponibilizadas pelo autora; clicar nelas para as aproveitar em toda
a sua extensão)
Maldição? dá um jeitaço ter uma chama na cabeça, as possibilidades são infinitas, desde fazer churrascos a acender cigarros, nunca terá frio no inverno, etc e tal...
ResponderEliminarUma chama perpétua na vagina é que era mais chato.