27/09/2018

Zahna

Fora da zona de conforto


E de repente - que é como quem diz, perante um livro com quase 120 pranchas! - Joana Afonso resolve deixar os relatos de tom mais intimista - que muitos acreditariam ser a sua zona de conforto - para nos brindar com uma história de espada e feitiçaria.
Com algumas particularidades.
Mas já lá vamos, arranco com dois ‘senãos’, para que o encerrar deste texto com eles não faça prevalecer na memória do leitor uma imagem negativa. O primeiro é a capa, pouco apelativa; justificava-se uma cena com mais acção que já introduzisse o leitor no seu conteúdo. O segundo, é para lamentar que a bela edição da Polvo, num formato simpático, consistente, (muito bem) em capa dura, não tenha tido mais meia dúzia de páginas com extras…
Mas adiante. Com pré-lançamento na Comic Con 2018, onde rapidamente esgotou a meia centena de exemplares disponíveis, Zahna é a história de uma jovem guerreira que se debate com uma estranha maldição: uma chama que paira sobre a sua cabeça e que aumenta consoante o seu nível de exaltação. Conhecedora da sua origem, ela parte para tentar encontrar uma solução para o problema que a afecta e a distingue por onde quer que passe.
Narrativa de matriz clássica, no que à sua construção dentro do género diz respeito, bem desenvolvida, a um ritmo moderado que permite apreciar a arte (já re)conhecida de Joana Afonso em novas roupagens, a história baseia-se na busca por uma solução que se revela ser também uma viagem iniciática a diversos níveis, e que permitirá aos leitores - e a ela própria - ir descobrindo a protagonista e ir percebendo o que originou a sua ‘maldição’, bem como alguns pormenores que se irão tornando relevantes. Assistiremos igualmente a encontros com diferentes personagens, que aportam um olhar diferente sobre a situação e que a ajudarão Zahna a ponderar a dimensão do seu problema e a aproximar-se - ou não… - de uma eventual solução. Que, como acontece tantas vezes, está mais no seu interior do que nos poderes extraordinários ou nas soluções apresentadas pelos outros, mesmo que pelo meio haja lugar para algumas surpresas e traições - que na verdade são também (más) surpresas...
Dotado de uma planificação multifacetada, com alguns efeitos visualmente bem conseguidos que contribuem para o seu dinamismo, como seria de esperar num relato de espada e feitiçaria, nele deparamos com alguns seres fantásticos, combates aguerridos, alguma magia - para além da que a leitura em si proporciona - reencontros marcantes e… bem, as tais particularidades a que aludi no início, que não vou revelar, mas que se podem causar alguma estranheza no tipo de história, conferem a Zahna uma leveza e um tom especial - surpreendente e divertido…

Zahna
Joana Afonso
Polvo
Portugal, Setembro de 2018
175 x 245 mm, 120 p., cor, capa mole
16,00 €

(imagens disponibilizadas pelo autora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. Maldição? dá um jeitaço ter uma chama na cabeça, as possibilidades são infinitas, desde fazer churrascos a acender cigarros, nunca terá frio no inverno, etc e tal...

    Uma chama perpétua na vagina é que era mais chato.

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