Há
livros cujo folhear antecipa, molda e condiciona a leitura.
Aconteceu-me
com Beowulf.
Já
conhecia outras obras de David Rubin, acompanho-o à distância,
seduzido pelo seu desenho de traço grosso e cores fortes mas, no
presente caso, ele foi mais além. Construiu uma obra visceralmente
visual, plasticamente de grande impacto, mas que vai bem mais além
dessa beleza - ou do horror que lhe está visceralmente (outra vez
este adjectivo) associado.
Porque,
no desdobramento em múltiplos painéis sobrepostos à prancha, ou na
explosão em imagens gigantes que vão até à dupla página, tudo no
trabalho gráfico de Rubin serve um único propósito: narrar uma
história. Narrar - adaptar em BD - a gesta heróica de Beowulf, o
matador de monstros.
Por
isso, podemos ter páginas tradicionais com diálogos (escritos) que
situam o leitor e o introduzem no contexto narrativo, como a tal
multiplicação de vinhetas que desconstroem a acção em fragmentos
sucessivos. Também podemos admirar pranchas seguidas com longas
vinhetas verticais, utilizadas para narrar acontecimentos simultâneos
em lugares diferentes ou encontrar sucessivas vinhetas horizontais
que acentuam a determinação do protagonista ou a dimensão
ciclópica do seu monstruoso opositor.
Tudo
sempre relatado a um ritmo elevado, marcado por constantes movimentos
vertiginosos de aproximação ou afastamento da câmara imaginária
que Rubin utiliza com mestria.
Básico
no seu conteúdo numa análise fria e distanciada - que só a muito
custo consegui, ao escrever estas linhas - o Beowulf de
Santiago Garcia e David Rubin exibe toda a dimensão épica da gesta
de honra e coragem e da busca da eternidade que moveram o seu
protagonista, retrata de forma crua a selvajaria, a bestialidade e a
violência inata do(s) monstro(s) que ele persegue e constitui-se um
exercício de leitura, envolvente e estimulante, ao qual não me
parece possível resistir.
Mais
a mais dada a excelente qualidade da edição (de estreia) da Ala dos
Livros - (bem) clonada da original espanhola - de dimensões
generosas, capa dura, papel de gramagem elevada e excelente
impressão.
Beowulf
Santiago
García (argumento)
David
Rubín (desenho)
Ala
dos Livros
Portugal,
Agosto de 2018
220
x 310 mm, 200 p., cor, capa dura
25,00
€
(imagens retiradas do blog do autor; clicar nelas para as aproveitar em
toda a sua extensão)
Vi os vários previews dos vários blogs de bd. Não gostei do desenho.
ResponderEliminarQuando passei por uma livraria, agarrei no livro, desfolhei, li uma ou outra página, fui olhando para o desenho e... não gostei...
Dei mais uma volta... e voltei atrás para comprar o livro
Por várias razões:
- mesmo à primeira vista não me ter agradado, dar uma hipotese/conhecer um autor/desenhador novo
- sendo uma editora nova e ter de imediato a coragem de editar um calhamaço de 200 páginas a um preço (correcto para as referidas 200 páginas) algo elevado, merece/necessita de apoio do próprio mercado, ou seja, apoio meu (dentro das minhas possibilidades)
- gosto de sagas "maiores que a vida"
Pode não ser um livro de leitura fácil, por ser 'demasiadamente' gráfico, mas em termos de desenho - e de desenho narrativo - eu acho que é fantástico. Eu, pois claro.
EliminarBoas leituras!
Bom... eu olhei para o livro, desfolhei e não gostei.
ResponderEliminarNão comprei porque existe muita outra BD que me agrada para comprar.
Fazer escolhas é normal e ainda bem que há por onde escolher.
EliminarBoas leituras!
Comprei, li e adorei.
ResponderEliminarÉ para ler com uma broa!
ResponderEliminarSó assim funciona.
Psicadélico!
Eu achei uma excelente obra, comprei e adorei,...e pelo que sei está a ter óptimas criticas por esse mundo fora. Até o Pipoca e Nanquim vai publicar ´Beowulf´ lá no Brasil.
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