Há sensivelmente uma semana, elogiei
aqui a importância da diversidade do actual mercado português de BD.
Hoje, olho para ele sob outro prisma, tão ou mais
importante: a continuidade das séries em publicação.
Durante anos - décadas - um dos grandes problemas de quem
comprava álbuns de BD no nosso país era a incerteza quanto ao futuro de uma
série. São dezenas os exemplos que se podem apontar de colecções que se ficaram
pelos volumes 1 e/ou 2 - ou, pior ainda, pelo 5 e o 12 ou o 3 e o 8…
Os anos recentes têm trazido alguma mudança, também -
inevitavelmente? - neste aspecto e hoje vou citar três exemplos - e felizmente
há mais.
Michel Vaillant
Rebelião
Philippe Graton e Denis
Lapière (argumento)
Marc Bourgne e Benjamim Benéteau (desenho)
A publicação da 2.ª série das aventuras do mais famoso
piloto da BD começou no segundo trimestre de 2014. Hoje, pouco mais de três
anos volvidos, a ASA - que tinha no seu currículo muitos dos pecadilhos
apontados acima - acaba de editar o sexto volume da série, tendo acompanhado
até agora, nem sempre em simultâneo, mas sempre com proximidade, as edições
originais franco-belgas.
Com uma nova estrutura, mais próxima da das séries
televisivas, esta segunda vida de Michel Vaillant, cujo grafismo repete (ou
reinventa) limitações e tiques já (re)conhecidos, dá mais força às relações
entre as pessoas, relegando para um plano secundário - ou pelo menos
equivalente - as questões desportivas.
Em Rebelião, se o
enredo fica marcado pelo regresso do piloto às pistas - e logo nas míticas 24 Horas de Le Mans - as consequências
da morte de Jean-Pierre, vão bem além do sentimento de perda e da dor que ela
causa, com consequências a diversos níveis, entre os quais a forma como afecta
os relacionamentos familiares. E com uma verdadeira ‘bomba’ que explode na
página final do álbum que, sendo de alguma forma conclusivo, deixa uma grande
interrogação pendente para o título seguinte, como tem sido apanágio até agora.
ASA
Portugal, Junho de 2017
222 x 295 mm, 54 p., cor, cartonado
14,95 €
Assassination Classroom
Vol. #8 Hora da Oportunidade
Yusei Matsui
Em Julho de 2015, A Devir lançava o primeiro tomo de Assassination Classroom. Agora, nem dois
anos depois, são já oito os volumes disponíveis.
O ponto de partida é conhecido: a pior turma de uma escola
japonesa recebe um novo professor, um extraterrestre, que é necessário abater
para evitar que destrua o nosso planeta.
Entre os planos rocambolescos para assassinar um ser que
parece invulnerável, o relacionamento entre os diversos alunos, a empatia que
criam com o professor - e vice-versa - e o quase documentário sobre as desigualdades
existentes no sistema de ensino japonês, esta série tem mantido as
características que a distinguiram: humor nonsense, acção q.b. e a capacidade
de surpreender uma e outra vez.
Devir Portugal
Abril de 2017
126 x 190 mm, 192 p., pb, capa mole
9,99 €
Velvet
Vol. #3 O Homem que roubou o mundo
Ed Brubaker (argumento)
Steve Epting (desenho)
Obviamente, melhor que dar continuidade às séries - embora obviamente
seja consequência disso - é terminá-las.
Velvet, que a G.
Floy iniciou em Setembro do ano passado, chega agora ao final. Foram só - só? -
três volumes (correspondentes a 15 comics) mas em menos de um ano.
Velvet é uma história
típica de espionagem - daria um belo oo7,
do qual se distingue essencialmente pela protagonista feminina - e decorre
entre os anos 50 e 70, sob o signo da Guerra Fria.
Alternando no tempo, para acompanharmos a acção presente, na
qual Velvet é perseguida, acusada do assassinato de um operacional da agência
onde é agora secretária, e o passado, onde ela procura respostas que lhe
permitam compreender o que lhe está a acontecer, esta é uma aconselhável
trilogia de acção, que se lê de um folego, muito bem escrita por Ed Brubaker, à
vontade no género, e com o belo desenho hiper-realista de Steve Epting.
Entre as suspeitas, as traições, as poucas amizades que
restam e o comportamento interesseiro de alguns, o leitor vai acompanhando
Velvet numa viagem no tempo - três décadas, no espaço - pela Europa e EUA - e na
História, pela forma como Brubaker alicerçou nela o relato, querendo saber
sempre mais e mais até o desfecho final. Que já está disponível!
G. Floy
Portugal, Junho de 2017
175 x 260 mm, 128 p., cor, capa dura
9,99 €
Os novos tempos da edição em Portugal, se mostram
determinação diferente por quem edita, não garantem que tudo que começou vá
acabar. O contornar dos escolhos que sempre surgem durante a navegação - da não
adesão dos leitores às mudanças contratuais que as editoras originais vão querendo
introduzir - serão razões válidas para que tal não aconteça.
Parece-me que, no mínimo, os leitores podem começar a
confiar nos editores e perder o medo de acompanhar o que ainda vai no início. Os
sucessivos volumes de diversas séries em publicação, a par de exemplos -
acabados! - como Velvet, DeathNote, Fatale
ou Allyou need is kill, que vêm à memória sem esforço, são motivos de alento
e confiança.
É necessário corresponder-lhes.
(imagens disponibilizadas pelas editoras; clicar nelas para
as aproveitar e toda a sua extensão)
Confio até deixar de confiar. Noutro comentário já referi que a Levoir e a GFloy aparentam ter descoberto a forma de imprimir e vender livros a preço convidativo. Para além disso, até agora ainda não falharam. Como tal, continuam a merecer a minha confiança.
ResponderEliminarMas com toda a sinceridade (e nada, mas nada mesmo me move contra a editora, antes pelo contrário espero que triunfe), desconfio que a Arte de Autor não irá conseguir editar todo o Corto e toda a Druuna. Porque creio que estará a funcionar com base na venda do primeiro volume para editar o segundo e por aí adiante.
Relativamente à ASA, já perdeu credibilidade para mim à muito tempo (Escorpião, Blacksad, etc...)
Blacksad estao todos editados. Ja o escorpião €£<€#%}%#£%££#
EliminarO último Blacksad é da Arcádia....
EliminarMuito importante este aspecto. Aliás no passado cheguei a desistir de comprar edições portuguesas por esse mesmo motivo.
ResponderEliminarFilipe Simões
Tenho mais um spam?
ResponderEliminarEstava lá, estava, mas já corrigi!
EliminarBoas leituras!
A arte de autor está a fazer um bom trabalho e tem potencial para continuar.
ResponderEliminarCoisa rara,com muito run e ciclos sem fim.
ResponderEliminar