28/07/2009
Nas bancas: Tex Edição Gigante #19 – Arizona em chamas
26/07/2009
Tex Edição Gigante #6 – A Última Fronteira
21/07/2009
Les Rues de Sable
Paco Roca (argumento e desenho)
Delcourt (França, Abril de 2009)
202 x 257 mm, 96 p., cor, capa cartonada
Resumo
Um jovem, atrasado para se encontrar no banco com a sua companheira, para assinar um contrato de empréstimo à habitação, corta caminho por um velho bairro da sua cidade, cuja saída não consegue achar. Acaba por ir ter a um hotel repleto de personagens absurdas, que vivem um quotidiano vazio e repetitivo, convencidas que nunca o poderão mudar.
Desenvolvimento
Este é um delírio (autobiográfico?) aos quadradinhos, com as sombras tutelares de Hergé e Borges, que explora o mais fundo da mente humana, convidando a que nos percamos com o autor nas armadilhas do subconsciente do protagonista, que, sem o perceber, se vai encontrando com diferentes possibilidades de si próprio, sempre incapaz de fazer (novas) escolhas e opções, sempre preso a momentos, recordações, objectos que o marcaram. Tal como na sua vida real, em que as hesitações, o medo de dar o passo em frente, parecem mais fortes do que o desejo de assumir em pleno a relação amorosa.
Para o narrar, Paco Roca explana mais uma vez o seu belo traço linha clara, combinado com uma planificação sóbria mas diversificada e labiríntica como a própria introspecção que conduz.
Após a leitura, fica a ideia de que a vida é (pode ser) como uma BD, como uma bela BD, na qual sempre pode aparecer a palavra (continua). Resta saber se o protagonista chegou – quis chegar – a tempo ao banco ou se preferiu passar (mais uma parte d)a vida preso nos seus sonhos de liberdade.
A ler, sem qualquer dúvida, apesar de um final demasiado aberto… como quase todos os sonhos. E vidas.
A reter
- Como adepto confesso da linha claro, tenho que destacar o traço de Roca.
Curiosidades
- Tintin, Popeye e o (óbvio) Corto Maltese são alguns heróis de BD que Paco Roca homenageia, expondo-os nas primeiras pranchas do relato.
18/07/2009
Maurício de Sousa, um homem deste tempo
Ao contador de “histórias em quadrinhos” hábil e de mestria inegável, pude associar um contador de histórias vibrante e caloroso, informado e bom conversador, saltando de tema para tema, evocando memórias ou mostrando um brilhozinho nos olhos quando fala dos seus “filhos desenhados” e dos (muitos) projectos que sempre tem.
Um autor que se revelou também, sempre, um homem do seu tempo - deste tempo - alerta para as inovações tecnológicas, que acompanha e utiliza, e para os interesses, sempre em constante mudança, dos seus potenciais leitores, procurando-os onde estão – na net, no orkut ou no Twitter, onde é frequente encontrá-lo, ouvindo críticas e sugestões, mostrando o que está a fazer, admitindo erros, procurando novos caminhos.
E, acima de tudo, penso que posso dizê-lo, alguém que me honrou com a sua amizade e que continuou sempre disponível, nas várias ocasiões em que depois nos cruzamos, pessoalmente ou ao alcance de um “clic”, sempre com a mesma afabilidade, o mesmo calor, o mesmo brilhozinho.
Parabéns, Maurício!
Nota: A melhor forma de homenagear Maurício de Sousa – qualquer criador –, que hoje comemora 50 anos de carreira, é ler as suas obras. Mensalmente, chegam às nossas bancas mais de uma dezena de títulos, para (quase) todos os gostos e idades, das revistas clássicas da Mônica, Cebolinha, Cascão ou Chico Bento, para os mais conservadores, às novas versões da Turma da Mônica Jovem, da Tina ou do Ronaldinho Gaúcho. Procurem-nas e leiam-nas. Vão ver que vale a pena. Pelo humor e pela simplicidade. E pelo regresso à infância…
17/07/2009
La Théorie du Grain de Sable – Tome 2
16/07/2009
A teoria do grão de areia - Tomo 1
Curiosidade
- A edição à venda na FNAC é acompanhada do “DVD de Presse” francês, que inclui um documentário sobre o making-of do álbum. (Versão revista e actualizada do texto publicado a 11 de Julho de 2009 no suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
14/07/2009
Gil Jourdan – L’Intégrale #1
Maurice Tillieux (argumento e desenho)
Dupuis (Bélgica, Junho de 2009)
220 x 300 mm, 240 p., cor, capa cartonada
Resumo
Primeiro volume da reedição integral de Gil Jourdan, uma das mais marcantes criações de Maurice Tillieux (1921-1978), para além de um texto introdutório, inclui as histórias "Libellule s'évade", "Popaïne et vieux tableaux", "La Voiture immergée" e "Les Cargos du crépuscule".
Desenvolvimento
Clássico dos anos 50 e 60, criado quando Tillieux se juntou à revista Spirou, Gil Jourdan é o exemplo perfeito – e possivelmente o primeiro exemplo – de um conseguido casamento entre o tom policial e o registo semi-humorístico. Para o conseguir, foi necessário um autor de eleição como Tillieux hábil no desenvolvimento das histórias, convincente nos casos criados, equilibrado entre os momentos narrativos e os de acção, mestre na criação de situiações de suspense no fim de cada página, como obrigava a publicação semanal em revista, insuperável na construção dos diálogos, ao mesmo tempo credíveis e divertidos, contidos e esfusiantes, e com os incontornáveis trocadilhos de Libellule.
A galeria de personagens é outro dos trunfos desta série, que passou incólume quase meio século, com o protagonista Gil Jourdan, um recém-licenciado em Direito que se torna detective particular, a ser ladeado por Libellule, um criminosos que ajudou a evadir, Crouton, um inábil (para não dizer pior…) polícia e a sua eficiente secretária Queue-de-Cerise.
Nas quatro histórias aqui reunidas – na verdade apenas três, poisas duas primeiras formam um (pouco habitual na época) diptíco – Jourdan enfrenta e desbarata um bando de traficantes de arte e droga, descobre um assassino e neutraliza um plano para apropriação fraudulenta de um seguro. Erece um destaque especial "La Voiture immergée", um relato de pura dedução, que na sua maior parte se desenrola numa estrada (inspirada na realidade) entre o continente e uma ilhota, que fica submersa pela maré na maior parte do tempo, onde (quase) tudo acontece, no qual Tillieux consegue criar momentos de extrema tensão.
A reter- A frescura de uma obra com 50 anos.
- O ritmo e o tempo certos das histórias e o equilíbrio perfeito entre o registo policial e de humor.
- O texto introdutório que apresenta o autor e a personagem e analisa cada uma das histórias.
Curiosidades
- Se quase apetece copiar integralmente todo o (belo) texto introdutório de apresentação do autor e dos seus heróis, quero citar três curiosidades nele referidas: Tillieux foi “empurrado” para a BD por “não saber escrever nem desenhar”, o nascimento de Gil Jourdan deveu-se a uma mudança de editor e, por uma vez, foi mecânico de François Schuiten!
- Nas primeiras histórias de Gil Jourdan, Tillieux “reciclou” gags e ideias anteriormente desenvolvidas por si na série “Félix”.
Desabafo
- Eu sei que o país é diferente, que a realidade - económica e cultural… - também e até percebo as razões: tiragens mais levadas, inexistência de custos de tradução e legendagem, fotolitos já existentes, menores custos com direitos de autor… Mas não posso deixar de sentir inveja dos belgas, franceses e suíços quando olho para estas belas edições integrais com o quádruplo das páginas de um álbum normal e um preço que mal chega ao dobro…
09/07/2009
Lance #2
Warren Tufts (argumento e desenho)
Libri Impressi (Maio de 2009)
Resumo
Lance St. Horn, tenente (indisciplinado) do exército norte-americano vive grandes aventuras que só têm paralelo nas paixões que provoca.
Desenvolvimento
O segundo tomo da reedição integral deste western clássico de recorte humano, datado de meados dos anos 50 do século passado e ambientado nos primeiros anos da expansão para o oeste selvagem, destaca-se mais uma vez pela superior qualidade da edição, da responsabilidade do português Manuel Caldas que gastou em média 15 horas no restauro de cada prancha da obra a partir de páginas de jornais da época, obtidas no Ebay, pois já não existem as provas originais.
Este segundo volume tem a particularidade de incluir não só as magníficas pranchas dominicais, coloridas, mas também as tiras diárias, a preto e branco, tendo estas sido de curta duração, pois publicaram-se apenas durante 16 meses, enquanto a série durou cinco anos.
Isto não retira interesse à narrativa, com a história dividida entre as proezas heróicas de Lance St. Lorne, um impetuoso e impulsivo (e por vezes indisciplinado) tenente do exército norte-americano, com uma visão muito pessoal do sentido do dever, sempre ao lado dos mais fracos e desfavorecidos, e as paixões amorosas que vai desencadeando. Neste volume, entre o combate à ofensiva desencadeada pelo chefe índio Nariz Partido e a tentativa de ajudar os caçadores montanheses ao lado da jovem e fogosa Valle, com quem acaba por casar, sobra tempo para um curto mas belíssimo interlúdio, compostos pelas pranchas 79 a 85, que revelam toda a mestria narrativa e gráfica do traço clássico de Tufts, a sua soberba aplicação de cores e a sua invulgar capacidade de emprestar emoções bem humanas aos seus heróis de papel.
A reter
- A edição em si.
- A paixão e o cuidado postos no restauro dos originais por Manuel Caldas.
- O episódio das pranchas 79 a 85.
Menos conseguido
- Eu sei que a edição integral obrigava à publicação como ela é feita, alternando as pranchas dominicais com as tiras diárias, mas a verdade é que a sua leitura conjunta, retira dinamismo à acção, tornando-a mesmo algo repetitiva, uma vez que a narrativa das tiras, embora aprofunde e acrescente pormenores ao todo, começa um pouco antes do fim da prancha dominical anterior e termina um pouco depois do início da prancha seguinte…
Curiosidades
- As pranchas dominicais de Lance foram publicadas entre 5 de Junho de 1955 e 29 de Maio de 1960, enquanto que as tiras diárias existiram de 4 de Janeiro de 1957 a 17 de Maio de 1958.
- Segundo (o especialista) Manuel Caldas, “o belíssimo interlúdio do episódio de Muitas Túnicas esteve para ser passado ao cinema na época em que a série se publicava”.
(Versão revista e actualizada do texto publicado a 20 de Junho de 2009 no suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
06/07/2009
Nas bancas: Tex Anual #9 - Forte Saara
03/07/2009
Nas bancas: Turma da Mônica Jovem #6
Estúdios Maurício de Sousa
Panini Comics (Brasil, Janeiro de 2009)
160 x 210 mm, mensal, 128 p., preto e branco, brochada
Resumo
Mônica, Cebola, Cascão, Magali e Franja vão numa visita de estudo até uma estação espacial, comandada pelo Astronauta, próxima de Marte, onde terão de enfrentar perigos inesperados.
Desenvolvimento
Confesso que duvidei quando soube do lançamento da Turma da Mônica Jovem, a versão adolescente dos heróis criados por Maurício de Sousa.
Mas, após 6 números, confesso-me rendido. A Turma da Mônica Jovem é uma criação bem pensada, com escrita competente e um desenho atraente, equilibrada entre a ponte que faz com o passado da Turminha e as (muitas) novas vias que abre para o seu futuro, com imensos piscares de olho às (outras) séries que o seu público-alvo, os adolescentes (principalmente), conhecem e curtem na TV, em jogos de computador ou em histórias aos quadradinhos. Equilibrada também no tom que assume, entre a aventura, a acção, o romance e o humor, com destaque para os gags em torno das especificidades da própria banda desenhada.
Para além disso, tem um bom ritmo, capaz de prender o leitor ao longo de mais de uma centena de páginas, em suspense crescente, como nesta edição, ou de passear pelo quotidiano (normal) dos (novos) heróis como se viu na edição #5. Agrada, assim, tanto a velhos fãs da série quanto a novos, a rapazes quanto a raparigas.
A reter
- A forma convincente como Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e todos os outros cresceram, mantendo no entanto as características que lhes eram (re)conhecidas.
- O argumento desta edição, da responsabilidade de Marcelo Cassaro, com diálogos vivos que conduzem toda a narrativa, sublinhando os momentos-chave da trama e as dúvidas, emoções e sentimentos próprios dos adolescentes.
Menos conseguido
- A indefinição da época em que as personagens vivem. No presente, como visto na edição #5 ou num futuro (algo) distante, como nesta?
- O vazio da maior parte dos fundos das vinhetas, sejam as histórias fantásticas, sejam as do quotidiano. Um aspecto a melhorar, sem dúvida.
Curiosidades
- Esta história é baseada na longa-metragem de animação “A Princesa e o Robô”, protagonizada pela Turma da Mônica em 1983.
- Como na saga inicial, publicada na Turma da Mônica Jovem #1 a #4, são muitas as referências feitas, quer internas (Astronauta, Xabéu, Zé Luís), quer externas (Transformers, Usagi Yojimbo)… Cabe ao leitor descobri-las, aumentando os laços e afinidades com a Turma da Mônica Jovem e as suas aventuras.
01/07/2009
As Melhores Leituras de Junho
- Tex Gigante #6 – A Última Fronteira (Mythos), Nizzi e Parlov
- Superman & Batman #39 (Panini Comics Brasil)
- Les Sentinelles #1 e #2 (Delcourt), Dorison e Brecci
- Rafael Bordalo Pinheiro – Fotobiografia (Assírio & Alvim), João Paulo Cotrim
- 11-M La Novela Gráfica (Panini Comics Espanha), Gálvez, Guiral e Mundet
- Clássicos da Revista Tintin – Rock Derby (ASA + Público), Greg
29/06/2009
11-M La Novela Gráfica
Pepe Gálvez e Antoni Guiral (argumento)
Joan Mundet (desenho)
Francis Cuadrat, Norma Cuadrat e Marina Ariza (cor)
Panini Comics (Espanha, Maio de 2009)
190 x 282 mm, 112 p., cor, capa cartonada
Resumo
A 11 de Março de 2004, Madrid sofreu vários atentados terroristas em diversas estações ferroviárias, perpetados por islamistas radicais.
Como consequência das explosões faleceram cento e noventa e uma pessoas: trinta e quatro na estação de Atocha, sessenta e três na rua Téllez, sessenta e cinco na estação de El Pozo, catorze na estação de Santa Eugénia e quinze em diversos hospitais de Madrid. Para além disso, ficaram feridas 1857 pessoas.
Este livro faz o relato do que aconteceu naquele dia, tendo como base o laudo do tribunal que viria a condenar 21 pessoas envolvidas nos atentados.
Desenvolvimento
Antes de tudo, esta é uma obra documental. Algo que a banda desenhada (também) tem mostrado saber fazer. Uma obra que narra, cronologicamente, a preparação do atentado, a sua realização e alguns dos acontecimentos que se seguiram até à condenação (de alguns?) dos terroristas nele implicados. Uma vez que segue de perto o laudo final do tribunal, o relato pode soar algo impessoal e sem emoções (embora isto não seja de todo verdade…), o que é propositado, ou não fosse o horror dos factos suficiente para abalar o leitor.
Por isso os autores tentam ao máximo ser simples relatores, não tomando posição nem fazendo da obra um líbelo acusatório, abordando apenas aquilo que ficou provado em tribunal. Não o fazem em relação aos atentados em si, nem à forma como o governo espanhol tentou utilizá-los em seu favor ao atribuí-los à ETA, o que acabou por ter consequências funestas, ou seja a perda das eleições que decorreram poucos dias depois.
A utilização de três personagens fictícias - um jornalista, um familiar de uma das vítimas e um polícia - tem três objectivos, cumpridos: por um lado, aligeirar a carga documental do relato, conferindo à narrativa o ritmo e o dinamismo necessários para lhe dar legibilidade; por outro, atenuar o efeito de alguns saltos cronológicos (necessários), fazendo a ponte entre eles; finalmente, a par do relato "burocrata" do tribunal, mostar o papel que tiveram as "pessoas reais" durante o fatídico dia e os meses seguintes e como os atentados afectaram as suas vítimas indirectas, conferindo assim algum dramatismo ao relato. Os três, com especial destaque para Paco, o jornalista, surgem, no entanto, como bem reais, de carácter bem definido e não estereotipados.
O traço de Mondet, realista, mostra a sua faceta de ilustrador, algo preso de movimentos, mas no geral revela-se competente e equilibrado.
A reter
- A legibilidade da obra, apesar do seu peso documental.
- Alguns apontamentos gráficos bem conseguidos, como a (eventual) troca de olhares entre os terroristas e as suas futuras vítimas, minutos antes dos explosivos cumprirem a sua função assassina (página 27), a alegoria ao quadro "Guernica", de Picasso (pp. 36-37) ou o lápis de bico partido (p. 43).
Menos conseguido
- Alguns desiquílibrios ao nível do desenho, nomeadamente quando o traço fica demasiado preso ao seu modelo fotográfico.
Curiosidades
- O livro tem prólogo de Pilar Manjón, mãe de uma das vítimas mortais do atentado e presidente da Associação 11-M Afectados por el Terrorismo.
- Os dois argumentistas são, também, especialistas em banda desenhada.
28/06/2009
Là où vont nos pères
Shaun Tan (argumento e desenho)
Dargaud (França, Março de 2007)
240 x 320 mm, 128 páginas, cor, capa cartonada
Resumo
Um homem faz a mala, despede-se da mulher e da filha e parte. Embarca num navio e cruza o oceano, rumo a um país desconhecido, à terra prometida. É (mais) um emigrante.
Desenvolvimento
Esta é (mais) uma história de emigração.
Que começa com um homem que se despede - de forma pungente. E que depois parte. Só, com uma mala de mão. Com poucos pertences e uma fotografia. Talvez o mais valioso de todos. Uma fotografia de uma família, da sua família: ele, a mulher e uma filha pequena.
O homem parte para longe. Para o outro lado de um vasto oceano. Para um admirável - mas assustador - mundo novo. De linguagem incompreensível. De escrita indecifrável. Com novos animais, novas plantas, novos alimentos. Lá chegado, só - ainda mais só -, tem que arranjar alojamento, um emprego… uma nova vida. Uma nova forma de viver.
Esta é a história de muitos (de quase todos?) os emigrantes: abandonar os entes queridos para procurar melhores condições de vida (os seus sonhos?). E é também a história deste notável "Là où vont nos pères".
Notável porque é um enorme romance mudo, feito de imagens aparentemente soltas, trabalhadas a lápis, em incómodos tons de cinzento e sépia, por Shaun Tan.
Notável pela forma como explode em imagens de página inteira ou as monta até 30 por página, como forma de apressar ou retardar o ritmo da narrativa, de revelar mudanças de espírito, de nos surpreender numa paisagem, de nos reter num pormenor, de nos emocionar numa descoberta ou com um revés.
Notável na forma como retrata o desconhecido, como transmite emoções e sentimentos, como ilustra o passar do tempo.
Notável, ainda, porque diz, porque faz acreditar que a integração dos emigrantes é possível, que os sonhos se concretizam…
A reter
- O traço realista, quase fotográfico, de Shaun Tan.
- O ritmo que a obra tem, graças à forma como o autor montou as imagens.
- A cuidada edição da Dargaud.
Curiosidade
- "Là où vont nos pères" foi considerado o Melhor Álbum editado em França em 2007 pelo júri do Festival de BD de Angoulême.
(Versão revista e actualizada do texto publicado no Jornal de Notícias de 8 de Abril de 2007)