17/06/2009

Nas bancas: Superman & Batman #39

Superman & Batman #39
Panini Comics (Brasil, Setembro de 2008)
172 x 258 mm, mensal, 116 páginas, cor, capa brochada


Resumo/Desenvolvimento
Superman & Batman - Luz negra
Dan Abnett (argumento), Andy Lanning (argumento e arte-final), Mike McKone (desenho), Jonathan Glapion, Rebecca Buchman (arte-final) e Jason Wright (cores)

Superman e Batman investigam um ataque dos Novos Titãs a uma estação espacial, numa história completa, dinâmica, bem desenhada e colorida.

Canário Negro - Vivendo em pecado
Tony Bedard (argumento), Paulo Siqueira (desenho), Amílton Santos (arte-final) e I.L.L. (cores)

Ainda indecisa quanto à resposta a dar ao pedido de casamento do Arqueiro Verde, Canário Negro faz tudo para proteger a sua irmã Sin, numa narrativa descomprometida e divertida, que tem um bom trabalho gráfico de mais uma dupla brasileira.


O Bravo e o Audaz - Os donos da sorte
Mark Waid (argumento), George Pérez (desenho), Bob Wiacek (arte-final) e Tom Smith (cores)

O Lanterna Verde Hal Jordan e a Supergirl investigam a morte de um rapaz cujo corpo apareceu simultaneamente no espaço e em dezenas de lugares na Terra, na estreia da excelente série The Brave and the Bold. Uma intriga interessante e bem trabalhada, protagonizada por duplas de heróis e apresentada em páginas densas e de planificação variada.

Em resumo, um bom conjunto de histórias numa das melhores revistas brasileiras que temos nas nossas bancas actualmente e que promete melhorar nos próximos números.

Curiosidade
A revista oferece um porta-chaves do Batman.

16/06/2009

Batman Barcelona

Batman Barcelona – El Caballero del Dragón
Mark Waid (argumento)
Diego Olmos (desenho)
Marta Martinez (cor)
Planeta DeAgostini (Espanha, Maio de 2009)
198 x 304 mm, 48 p., cor, capa cartonada


Resumo

O Crocodilo foge do Asilo Arkham e vai para Barcelona, depois de ser convencido pelo Espantalho que é a reencarnação do Dragão que segundo a lenda S. Jorge matou, sendo perseguido pelo Batman.

Desenvolvimento
Na génese, Mark Waid pretendia transportar para a actualidade a lenda de S. Jorge e do Dragão, muito popular na Catalunha, onde está na origem até de uma festa popular semelhante ao Dia dos Namorados. A (re)interpretá-los estariam, respectivamente, Batman e o Crocodilo. Só que a ideia, que não é de todo desinteressante, é abordada apenas superficialmente, sendo o comic um banal confronto entre herói e vilão. Sem complicações psicológicas, sem intermináveis crossovers, sem segundas leituras nem interpretações subjectivas, apenas e tão só uma história simples, linear, com acção q.b. e o esperado combate final, no interior da catedral da Sagrada Família.
Graficamente, a obra está também longe de ser apelativa, com o traço de Diego Olmos (prejudicado pelo formato maior desta edição) a apresentar diversas limitações, desde logo na representação da figura humana, mas também na integração dos protagonistas nos cenários reais de Barcelona que, muitas vezes, parecem demasiado fotográficos em comparação com o traço geral da obra. Apesar disso, merece ser apreciada a forma sombria como retrata o Batman, bem como alguns apontamentos interessantes, como a sombra que o avião de Bruce Wayne projecta logo na imagem de abertura ou algumas cenas de acção.
A nível da cor, Marta Martinez, consegue um registo equilibrado entre tom negro e obscuro típico das histórias do Homem-Morcego, e a luminosidade resplandecente da capital da Catalunha.
Finalizando, sabendo que o livro foi um sucesso, em termos mediáticos e de público, em Barcelona (e também em Espanha), para quem foi especificamente concebido, duvido que seja tão bem recebido noutros mercados e mesmo se terá os desejados efeitos de cartaz turístico. Mas a verdade é que só nesta breve resenha há cerca de uma dezena de referências aquela cidade e a alguns dos seus pontos turísticos mais conhecidos…

A reter
- Alguns pormenores interessantes do argumento: o facto de Batman ter pequenas “batcavernas” escondidas pelo mundo, algo indispensável no mundo actual obcecado com a segurança; a ideia de que fora de Gotham, Batman se sente menos à vontade (pouco explorada nesta história); o terror e o pânico que a sua aparição provoca em Barcelona.
- A edição em si, graficamente bem conseguida e enriquecida com a história do projecto, entrevistas com os autores, um making-off da capa e outro da aplicação da cor.

Menos conseguido
- A banalidade da história.
- A capa de Jim Lee, decalcada de outra que fez há alguns anos e para mais impossível no cenário real da Sagrada Família.

Curiosidades
- A ideia deste projecto surgiu durante a San Diego Comic Con 2008 e é uma evidência da importância crescente do Salón del Comic de Barcelona.
- O desenhador e a colorista vivem em Barcelona, o que era uma das imposições iniciais do projecto.
- A obra foi editada em simultâneo nos EUA, em Espanha e em Itália.

15/06/2009

Príncipe Valente

Foster e Val – Os trabalhos e os dias do criador de ‘Prince Valiant’
Manuel Caldas
Livros de Papel (Portugal, Dezembro de 2006)
260 x 340 mm, 128 p., pb e cor, capa brochada com badanas

Príncipe Valente
(6 volumes, de 1937-38 a 1947-48)
Harold R. Foster
Livros de Papel (vol. 1 a 5) e Bonecos Rebeldes (vol. 6) (Portugal, Março de 2005/Junho de 2007)

270 x 348 mm, 112 p., pb, capa brochada com badanas

Resumo
Publicado durante décadas no suplemento dominical de "O Primeiro de Janeiro", o Príncipe Valente é, possivelmente, um dos clássicos da banda desenhada norte-americana melhor conhecidos em Portugal. A isto, há que acrescentar a sua passagem por diversas revistas desde os anos 50 e também algumas edições (muito) parciais em álbum. Por isso, para muitos será desnecessário apresentar a série, mas para outros, justifica-se fazê-lo. Criado em 1937, por Harold Rudolf Foster, "Prince Valiant in the days of King Arthur", no original, é uma soberba saga medieval, que exalta valores como a liberdade, o cavalheirismo, a amizade, a honra e a valentia, e que narra a juventude, idade adulta e envelhecimento de um dos cavaleiros da mítica Távola Redonda da Corte do Rei Artur.
“Foster e Val” é uma biografia (apaixonada e apaixonante) do seu autor, repleta de ilustrações.

Desenvolvimento
Pegando no que atrás ficou escrito, diga-se que a evolução do herói, que vai avançando na idade, casa, tem filhos, que crescem e progressivamente o vão substituindo ou pelo menos partilhando com ele o protagonismo das aventuras, é uma das marcas distintivas da série. Como o é também, o facto de nela não existir qualquer balão, surgindo todo o texto na parte inferior das vinhetas. Mas que acabam por ser aspectos secundários, quando comparados com as qualidades que a tornaram única: a erudição literária do seu texto, o requinte e o pormenor do seu desenho clássico, realista, expressivo e imponente, a diversidade e a consistência das (muitas) histórias que vão sendo contadas, passadas numa época mítica, à qual Foster dá um toque de fantástico aqui e ali, não se coibindo, por oposição, de também dar uma aura de autenticidade através da citação de episódios históricos ou até da participação activa do protagonista neles.
Nos primeiros anos, a acção centra-se na longa procura de Aleta, rainha das Ilhas Brumosas, por parte do Príncipe Valente, que termina com o casamento dos dois após muitos encontros e desencontros. A par da magia da aventura em estado puro e dos múltiplos combates com que Foster alimentou anos da saga, e dos muitos lugares remotos visitados, destaca-se a forma como Foster os entremeia com registos mais caseiros, quase sempre condimentados com um invulgar sentido de humor.

A reter
- A paixão de Caldas pela obra de Foster, patente (e latente) nestas edições.
- O extremo cuidado posto na restauração de cada prancha.
- A qualidade literária dos textos do Príncipe Valente.
- O traço clássico, minucioso e pormenorizado de Foster.

Menos conseguido
- É lamentável que uma edição desta qualidade de um clássico eterno, termine abruptamente ao fim de seis volumes
[1] devido a uma querela motivada (?) por razões financeiras. Como se o pouco dinheiro que se consegue amealhar editando BD em Portugal o justificasse…

Curiosidade
- Mantido por Hal Foster ao longo de mais de 30 anos, em sumptuosas pranchas dominicais, o "Príncipe Valente" conta 2.244 páginas da sua autoria, incluindo cerca de
meio milhar desenhadas por John Cullen Murphy (para não citar a sua actual fase, assinada por Gary Gianni). Da fase assinada a solo por Foster, cuja edição integral estava prevista em 22 volumes, com uma centena de páginas cada, estão já editados seis, com uma qualidade gráfica nunca antes vista que fazem dela a edição definitiva de "Príncipe Valente". Para a concretizar, Manuel Caldas, especialista e apaixonado confesso da obra de Foster, conseguiu que o King Features Syndicate abrisse os seus arquivos para obter as provas originais ou, quando elas não existiam, recorreu às páginas de jornais, compradas durante anos através do eBay, das quais eliminou a cor e restaurou até ao mínimo pormenor para obter o preto e branco cristalino que a actual edição apresenta.
- Cada volume contém no seu final meticulosas notas de leitura que podem ir da simples curiosidade ao enquadramento histórico e que revelam a verdadeira paixão e profundo conhecimento de Caldas pela obra.
- Manuel Caldas, através do selo editorial Libri Impressi, tem em curso uma edição em espanhol, que vende pelo correio para o país vizinho (impossibilitado que está de a distribuir nas livrarias) e também o primeiro volume da série em inglês.
[1] Existe um sétimo volume, editado “a solo” pela Bonecos Rebeldes. Se a qualidade da obra em si se mantém, na (inevitável) comparação gráfica com os seis volumes anteriores, da responsabilidade de Manuel Caldas, entretanto afastado, nota-se (e muito) a falta da sua paixão e minúcia, visível no menor cuidado posto no restauro dos originais, na inestética legendagem mecânica, na omissão das datas originais de publicação e na ausência das suas saborosas anotações e comentários…

(Montagem e actualização de diversos textos publicados entre 2005 e 2008, no Jornal de Notícias e na In’ - suplemento da revista NS, distribuída aos sábados com o JN e o DN)

10/06/2009

Histoires Cachées

Histoires Cachées
Colonel Moutarde (argumento)
Brigitte Luciani (desenho)
Delcourt (França, Janeiro de 2009)
136 x 176 mm, 48 páginas, cor, capa cartonada


Resumo

Uma família (aparentemente) harmoniosa reúne-se na velha casa de campo para um último adeus ao (falecido) patriarca da família. É tempo de relembrar o passado e de contar novidades. No entanto, há velhas “histórias escondidas” que teimam em vir ao de cima…

Desenvolvimento
Esta é (mais) uma história de relações familiares na aparência cordiais e serenas, mas na realidade distantes, tensas, recheadas de invejas, ciúmes e segredos.
E tudo é despoletado pela morte do patriarca Joseph, o que provoca o reencontro de todos os seus membros, confinados durante alguns dias ao espaço da velha casa de família, que tanto funciona como espaço de liberdade, pela fuga à rotina diária e pela evocação dos bons tempos passados, quanto como prisão claustrofóbica que catalisa e faz vir à tona velhos conflitos mal resolvidos.
São essas tensões que Colonel Moutarde vai introduzindo, em diálogos breves mas com o peso certo, enquanto nos vai apresentando os diversos membros da família que, se de alguma forma correspondem a estereótipos, têm o seu retrato psicológico suficientemente definido.
A seu lado, Brigitte Luciani, com a sua linha clara estilizada, agradável e bem servida por cores planas, com destaque para os tons verde, salmão e cinzento, vai-nos guiando de cena em cena, aprofundando os nossos conhecimentos de cada membro da família. Que, ao fim daqueles dias, com feridas saradas ou novas ou mais fundas cicatrizes regressam à sua vida quotidiana….
Ou não, porque as revelações ainda não acabaram. Terminada a leitura “normal”, há que voltar atrás e, com um abre-cartas bem afiado, separar cinco pares de páginas, aparentemente deixadas “coladas” por um erro da gráfica… Incluindo-as numa segunda leitura, descobrimos algumas das “histórias escondidas” daquela família (narradas em tons mais escuros, para se distinguirem em leituras futuras), percebendo – agora – melhor a razão de ser de alguns olhares, trocas de palavras e atitudes. E ficando assim a conhecer mais profundamente cada um dos protagonistas, com as suas qualidades, defeitos e segredos bem humanos.

A reter
- A curiosidade do exercício proposto pelas autoras.
- A forma divertida como é resolvida a questão do filho bastardo de Antoine.

Menos conseguido
- Algumas poses da figura humana, estáticas e pouco naturais.
- A perda do efeito surpresa em leituras subsequentes.

09/06/2009

Silver Surfer – Requiem

Silver Surfer – Requiem
J. M. Straczynski (argumento)

Esad Ribic (desenho e cores)
BdMania (Portugal, Setembro 2008)
176 x 262 mm, 92 páginas, cor, capa cartonada


Resumo



Afectado por uma estranha doença, o Surfista Prateado recorre a Reed Richards para tentar encontrar uma cura.

Desenvolvimento
Contar e recontar origens e fins, tem sido um dos filões explorados ciclicamente pela Marvel, seja para dar nova roupagem a um herói, relançá-lo pelas mão do autor do momento, interligá-lo com a mega-saga em curso, obter retorno mediático ou relançar vendas…
No caso deste “Requiem”, no entanto, o fim do Surfista Prateado, faz todo o sentido. Desde logo porque ele é uma das personagens mais estranhas do universo Marvel, com uma grande carga mística e filosófica e divagar sobre o sentido da (sua) vida, como antecâmara da sua morte anunciada, na sequência de uma doença degenerativa incurável, surge como natural e lógico. Claro que só isso não seria suficiente, pois facilmente a história poderia descambar para o lamechas ou até ridículo. Mas Straczynski , argumentista talentoso e competente, que assinou o Homem-Aranha durante anos, consegue evitá-lo, com um argumento seguro, solidamente construído, ancorado em textos de apoio que vão conduzindo a narrativa, levantando questões e apresentando algumas respostas. E ao mesmo tempo, relembra o passado do herói, a sua chegada à Terra e a interacção com o Quarteto Fantástico. E consegue ainda criar momentos marcantes como o (belo) presente de Mary Jane, a resolução (óbvia mas necessária) de um conflito cósmico milenar e, claro está, todo o epílogo em si.
Por seu lado, Ribic, fez de cada vinheta uma autêntica pintura, reforçando com isso o clima dramático da trama, mas dotou-as também de movimento, expressividade e bons enquadramentos que permitem que a leitura vá fluindo ao rimo adequado. E a isto tudo há que acrescentar ainda o fantástico acabamento “metalizado” do protagonista, pleno de reflexos e cambiantes, que realça e torna mais traumática a sua degeneração final.

A reter
- O argumento sólido e contido de Straczynski
- O trabalho fabuloso de Ridic, no desenho e na cor.

Menos conseguido
- Editar (BD, literatura, etc.) pressupõe o desejo/a vontade de fazer o livro chegar ao maior número possível de leitores; para isso, é preciso que os livros cheguem às livrarias, dentro de um prazo razoável. Não é isso que tem acontecido com as (boas) edições da BdMania (e da Vitamina BD). E por muito que eu conheça os problemas da distribuição em Portugal e possa compreender (o que não quer dizer concordar) todas as condicionantes e razões para que tal aconteça, quem fica a perder é, primeiro, o leitor, e, depois, o editor.



(Versão revista e aumentada do texto publicado no suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias, de 6 de Junho de 2009)

08/06/2009

Tex #468 e #469

Tex #468 – A sentinela do passado Tex #469 – A volta do soldado 
Claudio Nizzi (argumento) 
Miguel Repetto (desenho) 
Mythos Editora (Brasil, Outubro e Novembro de 2008) 
Revista mensal, 136 x 176 mm, 114 páginas (cada), preto e branco, capa brochada 

Resumo Fugindo de um bando de índios, procurados por efectuarem assaltos a diligências e fazendas isoladas, Tex Willer e Kit Carson são obrigados a embrenhar-se numa meseta rochosa. Aí, após enfrentarem uma série de perigos naturais - e outros nem tanto -, descobrem um ex-soldado sulista, John Rickfiekld, que não sabe que a guerra acabou há já duas dezenas de anos. Trazendo-o de volta à civilização, decidem acompanhá-lo a Atlanta, a sua cidade natal, onde acabam por descobrir que a sua família foi assassinada pelo homem forte local, que é também candidato ao cargo de Governador. 

Desenvolvimento Na verdade, não se trata de uma mas sim de duas aventuras de Tex, embora interligadas. Desnecessariamente, diga-se desde já. Da primeira, ressalta a novidade do confronto dos heróis com a natureza, seja nas estreitas beiradas das escarpas rochosas, seja nos canyons transformados em rápidos por um temporal, seja em arriscadas escaladas. E, para mais, sempre ameaçados por um (por mais que um, aliás: John Rickfiekld e os índios) inimigo invisível, que pode surgir a cada momento, nos seus calcanhares ou à sua frente, por detrás de uma pedra ou acima das suas cabeças. Isto dota a história de um clima de suspense pouco habitual e motiva o leitor a seguir preso à leitura para descobrir como tudo se vai resolver. Até aqui (cerca de 50 páginas), tudo bem. Na continuação, se é verdade que a ideia de um soldado que ignora que a guerra terminou é também interessante, o seu estado (físico, psicológico…) não corresponde à ideia de alguém que passou alguns dos últimos 20 anos sozinho e isolado do mundo exterior (ou quase). Nem o seu uniforme o mostra, aliás… E custa a engolir a forma (quase) imediata como aceita a situação e se dispõe a seguir os heróis, num regresso à civilização, que encerra o primeiro tomo. Nesta primeira parte, o grande destaque vai, no entanto, para o traço de Repetto, agreste como a montanha pede, pormenorizado, detalhado, capaz de a desenhar sempre diferente, eficaz sob sol intenso como debaixo do temporal. Mas, ainda nas páginas finais do Tex #468, o ritmo e o clima criado, perdem-se rapidamente, quando, livres do primeiro perigo, Tex e Carson levam o homem que encontraram de volta à civilização, descobrindo que a sua herança tinha sido usurpada. Como é hábito, de imediato dispõem-se a fazer justiça, acompanhando-o à sua cidade natal, episódio que ocupa toda a edição #469. Uma vez chegados a Atlanta, confirmam que o responsável pelo assassinato da família Rickfiekld foi o tirano local que impõe pela força uma lei de silêncio sobre o passado. No entanto, em pouco tempo e até com relativa facilidade acabam por o derrotar e repor a justiça. Se o traço de Repetto mantém o alto nível demonstrado, revelando-se igualmente à vontade no tratamento da figura humana ou animal como no das paisagens naturais ou construídas pelo homem, a história esvazia-se rapidamente para cair numa história banal de Tex, algo forçada e bem pouco inspirada até… 

A reter - Não sendo um grande especialista de Tex, li o suficiente para reconhecer que tem havido um esforço para o modernizar, esforço esse patente nas histórias mais recentes, isto sem que se proceda à sua descaracterização. Neste sentido, a primeira parte de “A sentinela do passado”, é mais um (bom) exemplo, mostrando os dois rangers mais em confronto com a natureza (apesar do inimigo invisível) do que com outros seres humanos, o que, pela extensão do episódio, traz uma agradável nota de originalidade. - O desenho de Repetto, como já deixei suficientemente claro atrás. 

Menos conseguido - Eu sei que as histórias têm número fixo de páginas para cumprir, mas a verdade é que a aventura só tinha ganho se tivesse terminado no ponto em que Tex, Carson e Rickfield chegam ao forte. A coincidência que os leva a descobrir rapidamente como tudo se passou 20 anos antes e, pior, a forma simples e rápida como “despacham” o responsável e todos os seus sequazes e repõem a ordem, é tudo menos credível… - Eu sei também que, para o bem e para o mal, Tex é um western tradicional e que ele e os seus companheiros têm que vencer sempre no fim, mas será que não era possível arranjar-lhes uns adversários que disparem um pouco melhor? Na primeira parte, no confronto com uma vintena de índios, 18 destes (se não me enganei a contar) são atingidos, enquanto que Tex, Carson e John Rickfield não sofrem nem sequer um tiro de raspão. E depois, na segunda parte, contra os homens de Jean Russard, o mesmo se passa. Isto, sejam os confrontos em campo aberto, com ambos os contendores protegidos ou sendo os heróis emboscados… Curiosidade Na segunda vinheta da página 43 do Tex #469, Willer diz a Carson: “No cruzamento, vamos virar à direita!”. Na vinheta seguinte, chegados ao tal cruzamento, viram de imediato… à esquerda! Erro de tradução, como me confirmou o amigo José Carlos, pois “no original italiano, Tex diz a Carson para virarem à "sinistra" (esquerda) no cruzamento”.

(Texto publicado originalmente no Blog do Tex, em 6 de Junho de 2009)

07/06/2009

O principezinho













O principezinho
Segundo a obra de Antoine de Saint-Exupery
Joann Sfar (texto e desenhos)
Editorial Presença
Portugal, Dezembro 2008
233 x 318 mm, 112 páginas, cor, capa cartonada

06/06/2009

Un après-midi un peu couvert

Un après-midi un peu couvert
Philippe Squarzoni (argumento, desenho e cor)
Delcourt (França, Setembro de 2008)
167 x 257 mm, 80 páginas, bicromia, capa cartonada


Resumo

Quando Pierre vai ter com Catherine a uma pequena ilha da Bretanha, à estação ornitológica onde ela trabalha, conta passar a tarde e a noite com ela. Mas um contratempo obriga-a a ausentar-se, deixando-o sozinho. Decide então percorrer a ilha a pé, aproveitando para pôr algumas ideias em ordem.

Desenvolvimento
Desde logo e, principalmente se, agora que é trintão, continua a viver como Peter Pan, uma eterna juventude, ou deve passar a agir como um adulto responsável, se prefere a(s) sua(s) liberdade(s) ou se se dedica à paixão pela sua “Wendy”, transformando-a numa relação estável e com perspectivas (bem sérias) de futuro.
O traço não seduz, algo estático, com tiques dos álbuns de sátira política a preto e branco que anteriormente fizeram o percurso do autor, parecendo por vezes as personagens sobrepostas nos fundos e não integrantes de um todo, e a planificação também não ajuda, por ser algo monótona e pouco dinâmica, quase sempre presa ao modelo de três tiras de duas vinhetas por página. Mas se isso contribui para algum arrastar da narrativa, serve também para lhe dar tempo “real”, ajudando-a a corresponder à tarde, encoberta, de céu pesado, que os tons de sépia adoptados reforçam, que Pierre tem para ocupar naquela pequena ilha que acaba por se revelar como a verdadeira protagonista da narrativa. Tempo que vai ser de encontros e desencontros com os habitantes locais, de descoberta de um micro-cosmos fechado sobre si próprio, repleto de tensões latentes, onde todos desconfiam dos estrangeiros/estranhos, onde não há segredos para dentro, mas onde tudo se cala para fora, mesmo o que parece impossível não “gritar” aos quatro ventos (como a história de pedofilia), como Pierre acabará por descobrir, descobrindo também, em consequência disso, o que realmente quer fazer da sua vida e da sua relação com Catherine, num relato que acaba por se revelar de uma sensibilidade notável.

A reter
- O tom poético do relato e a forma como as emoções, os sentimentos, respiram nele.
- A forma como uma história em que “nada” acontece prende o leitor.

Menos conseguido
- O traço estático e a planificação pouco dinâmica.
- A forma pouco credível como os habitantes da ilha compartilham os seus segredos com Pierre.

(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente no BDJornal #24, de Outubro de 2008)

05/06/2009

Paris-New York New York-Paris

Paris-New York New York-Paris
Raphael Dormmelschlager (argumento e desenho)
Casterman (França, Abril de 2009)
225 x 304 mm, 108 páginas, cor, capa cartonada


Resumo

Gaspard de Saint Amand, um bem sucedido empresário francês, dono de uma grande empresa nos Estados Unidos, no dia do seu 40º aniversário recebe a notícia de que lhes restam no máximo 6 meses de vida. Decide então reatar o contacto com Anna, uma cantora de jazz, por quem esteve apaixonado e com quem viveu em França, mas de quem se afastou na sequência de um acidente de automóvel, 10 anos antes, em que o irmão dela morreu.
Vai fazê-lo à distância e por intermédio do seu irmão Mathieu, com quem sempre viveu em choque devido aos pontos de vista diametralmente opostos que sempre defenderam.
Mas, apesar da complexidade do plano que traça juntamente com Starkhan, o seu braço direito, tudo parece fugir das suas mãos, parecendo que não é ele o manipulador e sim o manipulado…

Desenvolvimento
Esta é uma história de amor, ódio e traição, contada três vezes, em três versões que se completam e complementam, que vão acrescentando factos e pormenores, que ajudam o leitor a construir um quadro global mais complexo, que só no epílogo final é totalmente desvendado. Porque, em cada um dos três capítulos do álbum, os acontecimentos são narrados segundo o ponto de vista de cada um dos protagonistas: Gaspard, Anna e Mathieu. E, se sempre a preto, branco e cinzento, cada um deles dota a sua narrativa, feita em voz off pelo protagonista, de uma cor (azul, laranja, verde, respectivamente – cuja interpretação deixo ao cuidado dos leitores). E em cada um deles, o final parece diferente.
Isto, torna a história, aparentemente algo banal, com algumas fraquezas até na sua construção, num exercício curioso que capta a atenção do leitor e o prende ao seu desenrolar. Porque Dormmelschlager, de uma forma inteligente e bem conseguida, vai manipulando o seu conto, da mesma forma que nele os sentimentos dos três são manipulados, trabalhando de forma dúbia as pistas (muitas vezes falsas) que vai espalhando, confundindo assim o leitor.
No seu âmago, esta é uma história de três, se não inadaptados, pelo menos mal adaptados à vida, separados por acontecimentos funestos mas, principalmente, pela leitura que fizeram deles. Aparentemente incompatibilizados uns com os outros, estão-no mais, afinal, com os seus sentimentos e com as memórias que guardam do passado.
Por isso, esta é também uma história que mostra como a leitura que cada um faz da realidade, da sua realidade, da realidade que interpreta à luz dos seus conhecimentos, da sua educação, dos seus princípios, a pode transformar/deformar em algo completamente diferente, tantas vezes com consequências funestas.

A reter
- A originalidade da narrativa, feita a três tempos, de três formas diferentes, a cada vez acrescentando novos detalhes, embora alguns dos textos sejam os mesmos, de acordo com a vivência de cada um dos protagonistas, apesar de alguma banalidade e mesmo de alguns pontos menos claros da história em si.
- A forma como o autor domina a planificação, ritmando a história pela forma como multiplica (ou não) o número de vinhetas por prancha e as constantes mudanças de ponto de vista e enquadramento.
- O bom uso selectivo de uma cor em cada um dos três capítulos do livro, usando-as tanto para marcar ambientes como para destacar pormenores ou marcar momentos de espírito e a evolução do relato, e realçando um traço agradável, estilo linha clara.

Menos conseguido
- A facilidade com que Gaspard, rico e culto, aceita a sua condenação a uma morte anunciada, sem qualquer referência à procura de uma segunda opinião.
- Algumas imprfeições ao nível do tratamento da figura humana.

04/06/2009

As Melhores Leituras de Maio

- Paris-New York, New-York-Paris (Casterman), Raphael Dormmelschlager
- Tartarugas Ninja – A primeira aventura – vol. 1 (Devir Brasil), Kevin Eastman e Peter Laird

- BD – Apprendre et comprendre (Delcourt), Lewis Trondheim e Sergio Garcia
- Clássicos da Revista Tintin – Clorofilla (ASA + Público), Raymond Macherot
- Silver Surfer – Requiem (BdMania), J. M. Straczynki e Esad Ribic
- Superman Crónicas #1 (Panini Comics), Jerry Siegel e Joe Shuster
- J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #51 (Mythos), Berardi e Trevisan

03/06/2009

J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #51 – O ajudante misterioso

J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #51 – O ajudante misterioso
Giancarlo Berardi (argumento)
Giorgio Trevisan (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Fevereiro de 2009)
Revista mensal, 136 x 176 mm, 132 páginas, preto e branco, capa brochada


Resumo
Na quadra natalícia, um trio de ladrões disfarçados de Pai Natal praticam uma série de assaltos e Júlia é mais uma vez chamada para colaborar com a Procuradoria de Garden City. Só que desta vez ela vai contar com um ajudante muito especial…

Desenvolvimento
“J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga” – ou simplesmente “Julia”, no original italiano – é um policial que, geralmente, privilegia a introspecção em relação à acção. O que não quer dizer que esta não possa surgir pontualmente, criando episódios, distintos do que é habitual na série que é, com certeza, a mais interessante de origem Bonelli distribuída nos quiosques portugueses (onde, da mesma proveniência, também aparecem “Tex”, “Mágico Vento” e “Zagor”).
A protagonista de “Júlia”, que lhe dá nome, é uma jovem professora universitária e criminóloga que colabora com a polícia da pacata cidade de Garden City, traçando o perfil dos criminosos que a justiça busca. Bonita (a sua figura foi inspirada na actriz Audery Hepburn), frágil, recusando (inconscientemente) assumir uma vida pessoal/sentimental e libertar-se dos seus medos e fantasmas, é ela que faz grande parte do relato em off, compartilhando connosco as pistas que a ajudam a descobrir os criminosos ou os seus estados de espírito e sentimentos mais íntimos.
Com isso, Berardi (o mesmo que criou o mítico “Ken Parker”) consegue, de forma equilibrada, traçar pormenorizados retratos psicológicos em relatos pausados e consistentes, em que um tom invulgarmente humano contrasta com o lado policial das narrativas, muitas vezes duro, de uma violência mais implícita do que explícita.
Neste “O ajudante misterioso”, um bem conseguido conto natalício (cuja razão do título deixo ao leitor descobrir), Berardi aproveita para discorrer – sem moralismos, nem condenações, mais como quem se limita a relatar factos - sobre o vazio de tantas vidas hoje em dia, vividas sem objectivos, muitas vezes apenas em função do imediato, do (falso) estatuto e da imagem que se transmite aos outros.

A reter
- O tom de fantasia que o desfecho configura à história, de todo invulgar em Júlia, apesar de os argumentos de Berardi estarem longe de seguir um modelo rígido.
- O protagonismo (bem feminino) de Júlia, que lhe granjeou um bom número de leitoras fiéis, algo de inabitual nos títulos Bonelli e na BD ocidental em geral.

Menos conseguido
- A forma algo simplista como Júlia e o seu ajudante “especial” impedem o assalto final. Que apesar de tudo não choca muito… Afinal, é preciso sentir o espírito natalício e acreditar no Pai Natal…
- A edição é fraca, é verdade. Em especial para os leitores portugueses, habituados ao bom papel e colorido de comics e álbuns franco-belgas. Mas, mais do que fraca, o adjectivo que melhor a classifica é popular (um dos segredos do êxito Bonelli em Itália). Popular no sentido de acessível, o que só é conseguido com papel de segunda qualidade, pequeno formato (menor ainda no Brasil por questões de aproveitamento de papel) e o preto e branco. Claro que quem dominar o italiano, pode sempre optar pela edição original (maior e melhor impressa), mas a verdade é que “Júlia” é um daqueles casos em que se deve ignorar o embrulho e apreciar o conteúdo.

Curiosidade
- Intitulada “Julia” em Itália, esta série teve o mesmo título no Brasil, mas apenas durante os primeiros quatro números, para não ser confundida com uma outra publicação homónima, dedicada a romances cor-de-rosa.- O desenhador desta história (porque nos títulos Bonelli, há sempre vários desenhadores em acção, para garantir a periodicidade mensal de títulos com (pelo menos) uma centena de páginas), Giorgio Trevisan, serviu-se de si mesmo para modelo do co-protagonista, Mosby.

02/06/2009

Je ne suis pas mort

Je ne suis pas mort
Hiroshi Motomiya (argumento e desenho)
Delcourt (França, 2009)
264 páginas, preto e branco, capa brochada, sentido de leitura japonês

A história de Okada Kenzou que, perto da reforma, perde emprego, família e vontade de viver. Uma parábola bem intencionada sobre a necessidade do regresso do homem à natureza. Literalmente. E também sobre o facto de a visão da morte muitas vezes renovar a vontade de viver. Com bom ritmo e traço clássico mas dinâmico. Um livro regular, apenas.

01/06/2009

Tex Edição Gigante #22 – Seminoles

Tex Edição Gigante #22 – Seminoles
Gino D’Antonio (argumento)
Lúcio Filippuci (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Outubro de 2008)
182 x 277 mm, 242 páginas, preto e branco, capa brochada

Resumo
Tex Willer e Kit Carson chegam ao Forte Bliss, no Louisiana, com a missão de escoltarem um índio seminole, Ochala, entretanto condenado à forca, para ser julgado pelo assassínio de um ranger. Antes de lá chegarem, o índio é libertado por um membro da sua tribo, dando origem a uma caçada humana, que levará Tex até aos pântanos dos Everglades, na Florida.

Desenvolvimento
Sendo “mais uma” história de Tex, este argumento de Gino D’Antonio, adaptando-se bem ao “modelo” estabelecido da personagem, introduz algumas inovações ou diferenças em relação a ele, o que fazem com que se destaque da “produção” habitual. Por um lado, em boa parte do relato, retoma o modelo do justiceiro solitário, um pouco esquecido nos tempos mais recentes. Depois, a principal e mais notória, humaniza o herói, que “raramente tem dúvidas e nunca se engana” (como diria alguém…), levando-o a arrepiar caminho e a mudar de objectivo a meio da história. Finalmente, faz com que sensivelmente metade da narrativa decorra em zonas pantanosas, verdejantes e repletas de vida animal, o que contrasta com as longas planícies desérticas ou as montanhas rochosas que Tex normalmente calcorreia, enquanto lhe permite referir uma realidade histórica concreta, que raramente os westerns, em geral, e Tex, em particular abordaram, a forma como os seus habitantes naturais foram empurrados para o seu interior pelos brancos e a relação de cumplicidade que estableceram com os escravos negros fugitivos. Ao mesmo tempo, faz da caçada humana, feita a dois tempos, por Tex (inicialmente com Carson, no final com Jesus), e por Lafarge (com os seus cúmplices), uma corrida contra o tempo.
E com tudo isto – ou apesar de tudo isto – consegue um western bem escrito e ritmado, de final previsível a partir do meio, é certo, mas de leitura agradável e cativante. Fica a dúvida do que Gino D’Antonio poderia fazer com Tex, se não tivesse falecido em 2006, ainda este livro não estava totalmente desenhado.

A reter
- O desenho realista e expressivo de Filippucci, feito de traço fino e trabalhado, num preto e branco belo e eficaz, quase sempre sem grandes manchas contrastantes, especialmente feliz no retrato esfusiante das paisagens naturais arborizadas. No tratamento do rosto humano apresenta quase sempre a mesma qualidade, embora oscile pontualmente com representações menos conseguidas. Uma bela obra de um autor habitualmente mais à vontade com relatos de ficção-científica.
- O facto de Tex ter que arrepiar caminho a meio da história, duvidando do objectivo da sua missão e de que o fugitivo seja assim tão culpado, o que raramente se vê nas histórias do ranger. Isto confere-lhe um carácter mais humano e atenua a habitual divisão estanque entre bons e maus.

Menos conseguido
- Um “mau” tão mau como Lafarge, cego por um ódio inexplicável (ou inexplicado na história) para com os seminoles. O que no entanto não é invulgar nos relatos de Tex que, goste-se ou não, obedecem a alguns critérios mais ou menos estabelecidos que são incontornáveis.
- As últimas 8 pranchas, completamente desenquadradas do relato, que não adiantam nada ao mesmo, e que parecem existir apenas para que sejam atingidas as 242 páginas padrão dos “Texones”. O que poderia ter sido facilmente conseguido prolongando algumas das cenas já existentes.

Curiosidade
Na página 64 da edição em causa, na última vinheta, Faca Longa é ferido com um tiro no braço direito, um pouco abaixo do ombro (onde coloca a mão após receber uma bala disparada por Tex). Curiosamente, daí para a frente, sempre que o ferimento é referido (pág. 92, primeira vinheta, ou pág. 111, 3ªvinheta, por exemplo), ele situa-se no ombro oposto, o esquerdo!
(texto postado originalmente no Blog do Tex, a 15 de Maio de 2009)
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