Companheiros
da Penumbra,
edição da Chili com Carne já em segunda edição, é um enorme
fresco de mais de 300 páginas sobre as noites da cidade do Porto nos
últimos anos do século passado.
Explorando
uma personagem que só surgiu nas aventuras de
Tintinem
O
Tesouro de Rackham, o terrível (1943),
quase duas décadas
após a criação do
herói (em 1929),
o
Dicionário
Ilustrado do Professor Girassol é
uma obra que,
de forma interessante, combina arqueologia do mito ‘hergeniano’
com ficção pura.
Tive
a sorte de descobrir Étienne
Davodeau,
o autor, em 1992 - com a série Les
amis
de Saltiel-
e o homem, pessoalmente meia dúzia de anos depois. Ao
longo destes trinta e poucos anos
acompanhei a sua carreira, descobri cada novo livro - nem sempre tão
rapidamente quanto deveria e desejaria - e comprovei, a cada novidade
literária - sem necessidade deste apodo para a justificar, mas com
toda a força, importância e dimensão que ele pode conferir à
literatura desenhada que o autor francês nos serve - como ele
tem conseguido partir de premissas extremamente originais que
transforma em histórias de vida, humanas, impressionantemente reais
e credíveis, daquelas que dão vontade de ter vivido.
Este
relato de Rita Alfaiate, numa leitura apressada, pode
parecer
tão simples que dê
vontade de o resumir numa
única frase. Uma frase que
seria extremamente
reveladora e
que
retiraria todo o prazer da leitura. Claro
está, não o vou fazer, mas tenho de começar por chamar a atenção
para a forma como a autora portuguesa conseguiu prolongar por tantas
páginas um princípio aparentemente tão básico. Aliás, quase dá
vontade de classificar Néon
como exercício
de estilo, embora isso também fosse redutor e injusto para a
narrativa que nos é apresentada.
Hoje
em dia, quando se fala de banda desenhada popular, de certa forma
evocando um tempo em que ela se encontrava em generosas quantidades
nos quiosques, há um nome que vem logo à mente, o de Sergio Bonelli
e da editora italiana que leva o seu nome. Alicerçado no sucesso de
Tex, um western puro e duro em publicação ininterrupta desde 1948,
este editor milanês conseguiu criar um sistema editorial que permite
alimentar, sem grandes oscilações de qualidade, ao nível gráfico
e temático, as revistas de 100 páginas que mensalmente são
colocadas à venda.
Na
abertura, com a Mensagem,
desta
colecçãoClássicos da Literatura Portuguesa em BD,como
já o tinha feito aquando do lançamento do Auto da Barca do Inferno, defendi
anão
utilização
dos texto originais, naturalmente de leitura (mais)
difícil,
mas sim de
uma versão com o texto original adaptado à
linguagem dos nossos dias. André
Morgado
teve a ousadia
- acredito
que alguns
dirão desfaçatez
ou até
desrespeito… - de o fazer.
Alix,
criação de Jacques Martin em 1948, para a Tintin
belga, foi uma das personagens marcantes do tempo áureo daquela
publicação. Adolescente, permitia que os jovens leitores se
identificassem com ele; sensato e com uma sólida base histórica,
garantia o apoio dos pais a essa leitura. Há
alguns anos, Valérie Mangin e Thierry Démarez, imaginaram o seu
regresso em adulto, como senador romano, numa série de álbuns que a
Gradiva tem publicado com uma regularidade muito interessante, sendo
o mais recente A
Floresta Carnívora.
Se
no cinema é normal seguir actores, na banda desenhada geralmente
procuram-se determinados desenhadores. Mas, tal como na Sétima Arte
há quem escolha os filmes preferencialmente pelos seus realizadores,
também na BD há leitores que fazem as suas escolhas com base no
nome do argumentista. Neste
particular, Zidrou é um dos nomes a reter e, se as suas obras de tom
humano estão hoje espalhadas por diversos catálogos nacionais, em
boa hora as editoras A Seita e Arte de Autor se uniram para lhe
dedicarem uma colecção de que Emma
G. Wildford
é o tomo mais recente.
Ao
contrário da maioria dos leitores, sou mais um seguidor de
argumentistas do que de desenhadores, mas isso não me isenta de uma
ou outra surpresa menos agradável. Foi
o caso desta abordagem de Jason Aaron ao Justiceiro, partindo de uma
premissa que me fez desde logo arrepiar: a ressurreição da sua
esposa pelo Tentáculo, para fazer de Castle o seu assassino de
serviço, forçando o conceito de que cada homem tem o seu preço.
Há
obras que são muito mais que o simples objecto físico (mesmo que
ele seja magnífico) ou que a sua qualidade intrínseca (seja ela qual
for). Sei que já o escrevi aqui algumas vezes, embora a argumentação
possa variar.
A
Passagem Impossível, legado
final (?) do mestre José Ruy é uma delas, por tudo o que escrevi
acima e porque é o retrato perfeito
de
uma vida - dedicada à BD.
A
Arte de Autor deu a conhecer Jordi Lafebre aos leitores portugueses
como desenhador da ternurenta e bem-disposta série familiar Verões Felizes
e, depois, como autor completo, na comédia romântica Apesar de tudo,
que só podia ser narrada em BD, dada uma brilhante característica
da sua concepção. Agora,
regressa de novo a solo em Sou
o seu silêncio,
afirmando-se
como autor completo
num registo policial ambientado em Barcelona, com uma protagonista
feminina, Eva, uma psicóloga algo excêntrica com traços de
bipolaridade que, como tantas vezes neste género, dá por si
inesperadamente envolvida numa investigação de homicídio.
Terceira partedo Balanço de 2023, no que à BD diz respeito, em As Leituras do Pedro, faço desta vez um balanço às Séries de autores estrangeiros (até porque as portuguesas foram incluídas nas Obras de autores portugueses a ler).
Relembrando que também já indiquei Obras de autores estrangeiros a ler, vamos então descobrir as séries a seguir, com as habituais ressalvas deque não li todas as que estão em curso, que a sua apresentação é feita por ordem alfabéticae através da capa do volume mais recente publicado..
A
selecção é curta para a quantidade e qualidade que a edição de
banda desenhada teve no nosso país no ano passado, mas alargá-la,
mantendo os critérios que têm norteado as listas de leitura mensais, iria tornar esta listagem demasiado extensa e,
consequentemente, pouco significativa.
Mas, sem mais delongas, mais uma vez por ordem alfabética, descubram as obras de autores estrangeiros queAs
Leituras do Pedro
destacam.
Terminado
2023 e com a habitual acalmia editorial das primeiras semanas do novo
ano é altura de recuperar alguns dos títulos que a sucessão de
novas edições impediu de ler e/ou recensear.
Sei que há quem (me) questione do porquê
da leitura de banda desenhada e quem questione o porquê destas
leituras específicas de banda desenhada mas, para além de
as
diversificar,
a
verdade é que momentos diferentes pedem leituras diferentes e
n(esta)a(s) BD encontro aquilo que só a banda desenhada, estrutural
e narrativamente falando, me consegue dar.
Começa
aqui, em As
Leituras do Pedro,
o Balanço de 2023,
no que à BD diz respeito. A
primeira nota, é para a ilustração do incontornável Paulo J.
Mendes. Muito obrigado, foi uma ajuda para me amparar nesta escalada
pelas (muitas) edições do ano passado. E
não há melhor forma de o fazer, do que com os criadores nacionais.
Começar
com uma praga de toupeiras e terminar a matar a fome com um animal
protegido, é o que nos propõe de forma sui
generis esta
segunda colaboração entre João Sequeira e Rui Cardoso Martins, que
tem uma capa que devia abrir ao contrário... [Vá, peguem nele, para perceber porquê...]
Mais
uma vez concluo uma leitura dividido, a destes dois volumes. Sunny,
tem
por cenário uma casa de acolhimento onde crianças de várias
idades, órfãs
ou abandonadas
pelos pais, vivem - ou
sobrevivem? - (a)o
seu quotidiano.
A
história
faz-se das interações entre elas, dos sonhos e anseios que têm,
das saudades que sentem dos
progenitores…